Cidades

Conheça o novo SHMI (Setor Habitacional Miami)

Queda no valor dos imóveis e valorização do real têm impulsionado brasilienses a comprar apartamentos de temporada na cidade norte-americana. Saiba se vale a pena

postado em 10/04/2011 11:00
Segundo corretores brasileiros que negociam em Miami, uma unidade de três quartos pode ser adquirida por R$ 320 mil: preços inferiores aos cobrados em várias cidades do DF.
Nada de Ipanema, litoral paulista ou algum outro lugar ao sol do Nordeste: os brasilienses elegeram Miami como cidade para comprar apartamentos de temporada. Imobiliárias, arquitetos, designers e lojas de decoração estão atentos ao fenômeno que atiça um público seleto disposto a investir em condomínios de luxo voltados para o mar em solo norte-americano. A desvalorização do dólar, a crise nos Estados Unidos e alta nos valores dos imóveis no Brasil aqueceram esse mercado sem fronteiras. Os voos diretos entre Brasília e cidades da Flórida também ajudam a impulsionar os investimentos.

A procura por imóveis em Miami ganhou força na capital do país no ano passado. Os endinheirados do Distrito Federal respondem por cerca de 35% dos negócios fechados com brasileiros, segundo Adriana Serson, radicada nos Estados Unidos e especialista no mercado imobiliário residencial de luxo. ;Os principais compradores são de Brasília, de Minas Gerais, de São Paulo e do Rio de Janeiro;, completa. Em apenas um condomínio de alto padrão e bem localizado, 20 apartamentos pertencem a famílias brasilienses em busca de conforto durante as férias.

Corretores afirmam que com US$ 200 mil ; cerca de R$ 320 mil ; é possível adquirir um apartamento de três quartos em Miami. O preço do metro quadrado tem variado entre R$ 3 mil e R$ 6 mil: valores semelhantes aos cobrados em Samambaia, mais em conta do que em Águas Claras e, em alguns casos, quase um terço dos anunciados no Noroeste. ;O cenário está muito convidativo. Não são somente os ricos que estão aproveitando este bom momento;, comenta Pedro Abdala. No início deste ano, ele abriu em Brasília, em parceria com um sócio em Miami, uma imobiliária para vender imóveis nos Estados Unidos.

Após o estouro da bolha americana, no fim de 2008, o preço dos imóveis por lá chegou a despencar 80%. Além dos que têm comprado apartamentos para passar o verão com a família ; a maioria, por sinal ;, o mercado imobiliário no sul da Flórida começa a despertar a atenção de investidores brasilienses. Como o baque da crise foi tão forte, a tendência agora é de valorização. ;Os preços com certeza vão subir daqui para frente e as pessoas estão percebendo isso;, aposta Abdala. Sem promover qualquer trabalho de divulgação, ele conta ter feito três vendas desde a inauguração da empresa.

Novo boom
Brasileiro residente em Miami há 20 anos, o corretor Márcio Guimarães chega a dizer que ;a América nunca viu uma procura tão grande por imóveis em um só lugar;. Eufórico, ele garante que, com cerca de R$ 60 mil, é possível comprar uma quitinete a poucos metros da praia. ;O pessoal está comprando de balde: chega e compra, sem muita conversa. O que no Brasil se consegue por esse preço?;, questiona. Russos, europeus e moradores de países como Colômbia e México, relata Guimarães, também invadiram Miami. ;É um novo boom. A valorização é certa e segura;, sustenta.

De olho no potencial dos compradores estrangeiros, bancos americanos financiam até 65% do valor dos imóveis, com taxas de juros de 5% a 6% ao ano. O corretor Leonardo Farias, de outra imobiliária candanga que percebeu Miami como filão, diz ter vendido sete unidades nos últimos seis meses. ;A procura está cada vez maior. No evento que fizemos para apresentar empreendimentos na Flórida, tivemos a presença de 150 interessados;, conta. Imobiliárias de Brasília vêm recebendo visitas de donos de construtoras americanas com o intuito de fechar parcerias.

Apesar do discurso de que ;qualquer um; pode ter um apartamento em Miami, a clientela ainda é formada principalmente por gente bem-sucedida e com dinheiro de sobra. São, na maioria, empresários acima de 45 anos, com filhos, que trabalham em ramos como construção civil e concessionárias, que gastam em torno de R$ 1,2 milhão na compra e pagam à vista. Há ainda médicos, advogados e servidores públicos do alto escalão. Em geral, eles mostram interesse no investimento pela proximidade com Disney e falam em aproveitar as viagens para aprimorar o inglês e fazer compras.

Sem escalas
Duas companhias aéreas fazem atualmente o trecho para Miami, sem escalas, partindo do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek: American Airlines e TAM. Ambas oferecem quatro voos semanais. A viagem dura cerca de sete horas.

Fique atento
Os imóveis nos Estados Unidos tendem a subir de preço, como reforçam os corretores, mas ninguém tem garantia absoluta de valorização. Todo investimento tem seu risco. É importante lembrar que o câmbio é flutuante e que, ao longo do financiamento, os juros podem deixar de ser fixos.

Os interessados precisam levar em conta os custos para manter um imóvel no exterior. O valor médio da taxa de um condomínio de luxo é de US$ 400 ; cerca de R$ 640 ; mensais, incluindo o direito a uso de internet e de toda a área de lazer. A alíquota do IPTU é de 2% do valor do imóvel: um apartamento de R$ 320 mil, por exemplo, tem uma taxa anual de R$ 6,4 mil.

Ao adquirir imóvel no exterior, o investidor deve se atentar às regras de tributação. Os recursos desembolsados com impostos fora nem sempre podem ser compensados no Brasil. Geralmente, os corretores orientam os brasileiros a adquirir o bem em nome de pessoa jurídica porque, em nome de pessoa física, a compra obriga o pagamento de tributo em caso de morte do proprietário, que pode chegar até a quase metade do valor de mercado.

Outro ponto importante em relação à tributação: se o investidor vender o imóvel, terá que pagar ao Fisco brasileiro 15% sobre o valor da diferença do dólar entre o momento da compra e da venda do bem, mesmo que não tenha ocorrido ganho de capital.

Os brasilienses representam 35% dos brasileiros que fazem negócios nos EUA: compras no fim de semana

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação