Naira Trindade
postado em 14/04/2011 08:34
A cada 96 minutos, um comércio é alvo de assaltantes no Distrito Federal. O índice revela a vulnerabilidade e a insegurança vivida por donos de lojas na capital do país. Todos os dias, pelo menos 15 estabelecimentos são invadidos por criminosos. Levantamento do Correio mostra que, na última década, os ataques a empresas aumentaram 35,1%. Mas, apesar dos índices crescentes, houve queda de 14% nos registros de roubos e furtos em lojas em 2010 (5.444), em comparação com 2009 (6.368), segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (leia quadro). As estatísticas deste ano ainda não foram divulgadas.Os números retratam o medo dos comerciantes. Nem os investimentos em aparelhagem tecnológica nem os gastos com segurança privada parecem conter as ações de bandidos que ameaçam, agridem e trancafiam clientes e funcionários em salas escuras, como ocorreu na noite de terça-feira em uma loja de móveis e eletrodomésticos, na Quadra 414, em Samambaia Norte. Por cerca de 40 minutos, oito pessoas ficaram reféns de homens armados (leia arte). ;Estamos nos deparando com situações em que o ladrão não se incomoda mais com a presença de outras pessoas. Isso é muito preocupante. Por mais essa razão, alertamos a todos a não reagir;, aconselhou a presidente da Associação Comercial do Distrito Federal, Danielle Moreira.
O assalto ao local começou às 21h, momento em que empregados faziam os últimos ajustes para encerrar o expediente. Das cinco portas, quatro estavam trancadas e uma baixa. No interior do estabelecimento, havia quatro clientes ; entre elas uma criança de 2 anos ; e quatro funcionários. Todos acabaram surpreendidos por três homens armados, que entraram e anunciaram o assalto. Bastante alterado, o trio exigiu que as vítimas fossem para o subsolo e as amarrou com fios de telefone arrancados da parede. Dois homens davam suporte ao grupo na porta da loja. Os assaltantes fugiram com 96 telefones celulares, 10 notebooks, oito aparelhos para acesso à internet, além de R$ 2.274.
As vítimas disseram que os bandidos estavam nervosos. ;Eles chutaram funcionários e clientes que estavam deitados no chão, no subsolo, onde funciona o caixa da loja. A criança que estava com a mãe não foi ferida;, contou uma mulher, que preferiu não se identificar. Ela informou ainda que dois carros ; um Gol e um Kadett ; estavam estacionados na esquina do estabelecimento para ajudar na fuga. ;O beco é vazado, e os veículos têm acesso a outras ruas. Os que ficaram do lado de fora ajudaram a colocar os objetos roubados dentro dos veículos;, contou uma testemunha. A movimentação estranha chamou a atenção de um morador, que alertou a polícia.
Policiais militares prenderam, assim, Talmir do Nascimento Conceição, 22 anos, escondido dentro de um freezer exposto para venda no térreo da loja. Ele tinha um revólver calibre .32. Adão Marcos Santana de Lima, 21, e Wilberth Paiva Rodrigues, 19, estavam escondidos em um guarda-roupa do mostruário, no primeiro andar do estabelecimento, ambos portando armas calibre .38. ;Ainda estamos investigando esse crime, mas um quarto envolvido já foi identificado e pode ser preso em breve;, informou o titular da 26; Delegacia de Polícia, em Samambaia Norte, Mauro Aguiar. Os objetos levados foram restituídos, e a loja voltou a funcionar normalmente às 11h de ontem. Os detidos responderão a processo por tentativa de roubo qualificado e formação de quadrilha. Podem pegar até 15 anos de prisão.
Oportunidade
Especialista em segurança pelo Núcleo de Segurança Pública da Fundação Universa, o professor George Felipe Dantas alerta para o aumento das medidas de proteção. ;Roubos e furtos são crimes de oportunidade. Ninguém vai atacar o alvo duro. Para ser atacado, o alvo é analisado quanto a sua visibilidade, inércia (valor) e acesso;, refletiu. ;O aumento nos crimes é porque boa parte da polícia ostensiva da capital foi mobilizada para os postos da polícia comunitária. Ele (o assaltante) está vendo que o posto está ali, que está sem viaturas. Se a comunidade de moradores que está em volta do posto se sente segura, quem está distante se sente cada vez menos seguro;, explicou.
A presidente da Associação Comercial do DF, Danielle Moreira, acredita que a diferença entre os mais e os mais pobres na capital federal incentiva a criminalidade. ;A gritante situação de desigualdade econômica no DF nos deixa mais vulneráveis que no restante do país. E isso gera violência. Espero que o governo esteja pensando em medidas estratégicas com geração de renda para diminuir a violência;, concluiu.
Em alta
Em janeiro deste ano, o Correio divulgou um balanço da criminalidade na última década. Os crimes de roubos em comércio cresceram 35,1%, saltando de 1.757 ocorrências em 2000 para 2.375 em 2009. Eles ocorrem com frequência em locais com concentração de patrimônio, casos do Plano Piloto e de Taguatinga.
Segurança
Além de ser um mecanismo de identificação de chamadas de emergência que aciona a delegacia toda vez que acontece um crime em comércio, o Sistema Sentinela também é usado em escolas e condomínios. Foi desenvolvido pela Divisão de Informática da Polícia Civil do DF (Dinf) com a finalidade de propiciar maior agilidade no combate ao crime e funciona desde 2008.
Drogaria invadida
Um homem de 20 anos foi preso e um menor de 16 anos apreendido após roubarem uma drogaria na QNO 1/3, em Ceilândia, por volta das 22h de terça-feira. De acordo com agentes da 24; Delegacia de Polícia (Setor O), Alex da Cruz de Sousa e o adolescente levaram cerca de R$ 195 em espécie e fugiram em uma bicicleta. A Polícia Militar conseguiu encontrar os suspeitos algum tempo depois, próximo ao terminal rodoviário do Setor O. Com um deles foi achado um revólver calibre. 32, com cinco munições intactas e uma deflagrada. Segundo os policiais, o menor tinha saído há uma semana do Caje. Alex ficou detido na 24; DP e, depois, transferido para o Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde aguardará julgamento.