postado em 19/04/2011 07:07
A partir da próxima sexta-feira, cinco cidades do Entorno terão a atuação da Força Nacional de Segurança (FNS). A intervenção federal se deu a pedido do governador de Goiás, Marconi Perillo, em um encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no último dia 12. O objetivo é controlar a escalada da violência registrada nos últimos anos nas cidades da divisa entre o DF e Goiás. Um efetivo de 100 homens da tropa de elite e 25 policiais civis, entre delegados, peritos e escrivães, ficarão baseados no quartel da Polícia Militar de Luziânia (GO), município distante 66km de Brasília. Eles deflagrarão operações em diversas cidades goianas por um período inicial de três meses. Uma força-tarefa também tentará reduzir a pilha de 10 mil inquéritos de homicídios não concluídos na região. Essa é a segunda vez que os municípios vizinhos ao DF recebem as tropas da FNS, que atuou entre 2007 e 2008.O trabalho do batalhão especial deveria ter começado ontem, mas o Ministério da Justiça informou, por meio de assessoria, que os detalhes cruciais, como quais cidades receberão as tropas e qual será a estratégia da operação, foram acertados na segunda-feira em uma reunião com o Gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno do DF ; o órgão é vinculado ao governo de Goiás. Enquanto o policiamento ostensivo não vai às ruas, a inteligência da FNS faz o levantamento de pontos quentes e de informações sobre a criminalidade. Pela manhã, cerca de 50 homens passaram por treinamento de abordagem a pessoas e em veículos. Parte do efetivo que chegará ao Entorno atuou para garantir a segurança dos sobreviventes da tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro no início do ano.
Cidade Ocidental, Novo Gama, Valparaíso, Luziânia e Águas Lindas são os focos da parceria entre a União e as forças de segurança goianas. As cidades reúnem os maiores índices de criminalidade do cinturão que envolve o DF. Estão previstas, no entanto, ações em 19 municípios. Em Águas Lindas, o número de homicídios subiu 43% apenas nos três primeiros meses deste ano.
A atuação da força federal será realizada para arrefecer os índices de violência e criar condições para o combate sistêmico ao crime organizado. De acordo com o coronel Edson Costa Araújo, chefe do Gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, as mortes são intrínsecas à expansão do tráfico de drogas. ;O Entorno já chegou ao fundo do poço. Já percebemos a migração de criminosos de outros estados para cá. Há uma ambiência propícia para a instalação do crime organizado. Antes, éramos apenas passagem do tráfico de drogas, mas agora estamos nos tornando produtores ou beneficiadores de drogas;, explicou.
Entretanto, o coronel Edson não acredita que a presença da Força Nacional signifique o fracasso das autoridades de segurança estaduais. ;Para nós, é o reconhecimento de que o Entorno não é um problema apenas de Goiás. É também relativo ao DF e à União. Goiás não nega a sua parcela de responsabilidade com o Entorno, mas tem claro que não tem meios de, sozinho, fazer frente aos problemas.; O Governo do Distrito Federal, no entanto, não tem participação nas operações que serão deflagradas nos municípios goianos. A Secretaria de Segurança Pública do DF informou que, enquanto durarem os trabalhos da FNS, os batalhões das cidades limítrofes a Goiás intensificarão a vigilância.
Críticas
O instrutor de autoescola Edimar Pericles da Silva, 31 anos, mora em Águas Lindas há 18 anos. Casado e pai de três filhos, ele avalia que a atuação da FNS é apenas passageira, pois intimida os criminosos por algum tempo e, depois, perde o efeito. ;O governo está fazendo muito pouco convocando a Força Nacional. Falta mais organização. A polícia só patrulha as principais avenidas, e alguns bairros ficam abandonados;, comentou.
O pesquisador de segurança pública da Universidade Católica de Brasília, Nelson Gonçalves, avalia que o ceticismo é compreensível, já que a experiência anterior com a FNS não teve resultados duradouros. Para ele, os municípios goianos estão abandonados e precisam de investimentos e de estudos para detectar as principais carências. ;As autoridades têm noção dos problemas, mas não se conhecem as reais necessidades da população de Águas Lindas. É preciso uma ação urgente, que produza resultados efetivos. E, para que isso dê certo, é preciso que o governo tenha a capacidade de articulação e de coordenação;, alertou.
Colaboraram Antonio Temoteo e Thaís Paranhos
Solução temporária
A parceria do governo de Goiás com o Ministério da Justiça, que culminou com o deslocamento de 100 homens da Força Nacional para o Entorno do DF, é uma medida considerada paliativa. Segundo explicações do diretor da Força Nacional, major Alexandre Aragon, os homens vão atuar no combate à criminalidade, mas em ações específicas. Isso significa que o objetivo não é assumir o papel desempenhado pela Polícia Civil, mas ajudar até que se consiga reorganizar o sistema de segurança.