Cidades

Mais postos de gasolina do Distrito Federal aderem à alta de valores

Juliana Boechat
postado em 23/04/2011 08:00
Os consumidores encontraram o valor mais alto em dois locais de venda. Expectativa é de novos aumentos
O novo preço da gasolina espalha-se rapidamente pelo Distrito Federal. Ontem, o Correio percorreu estabelecimentos na Asa Sul, no Lago Sul e no Sudoeste e encontrou mais dois postos com o combustível a R$ 3,02. Um deles fica na Avenida das Nações, a L4, próximo à Ponte Costa e Silva. O outro, no início do Sudoeste. Mas, na maioria dos pontos de comércio de combustíveis, a bomba continua com o valor de R$ 2,94. Os gerentes desses estabelecimentos apostam em uma nova variação ainda na próxima semana. Indignados com a escalada nos preços, os motoristas reclamam sempre que podem ; os frentistas são os principais alvos. Alguns pensam até em mudar de hábitos para evitar o gasto excessivo com o transporte particular.

Este é o caso da estudante Luiza Tiné, 22 anos. Ela, a mãe e a avó dividem dois carros. A partir das seguidas altas para abastecer, pensam em sair juntas de casa sempre que possível para economizar. ;É um absurdo este valor. E o pior é saber que vai aumentar ainda mais. Está cada dia mais difícil;, reclamou. Luiza costuma encher o tanque semanalmente e gasta R$ 120. ;Vou fazer o teste para ver quanto vou gastar por semana, mas sei que será um aumento substancial;, disse. A professora Cláudia Alencar também terá de reservar uma quantia maior do salário para circular pela cidade. ;Tenho três carros em casa. Vamos virar reféns dessa situação;, admitiu.

O boato de mais reajustes corre os postos do Distrito Federal. Dois gerentes entrevistados pela reportagem, que preferiram não se identificar, contaram que o novo aumento deve ocorrer na próxima semana. O subgerente do posto do Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Neilton de Lima Souza, 22 anos, se esquivou. ;Normalmente, recebemos a ligação na noite anterior à mudança. Eles ligam e a gente muda o valor à meia-noite. Até agora, não relataram nada para a gente;, explicou.

Até as 18h de ontem, ainda restavam 10 mil litros de gasolina nos reservatórios do posto, que duram aproximadamente 4 dias. Normalmente, a mudança no preço ocorre na renovação do combustível nas bombas. Esta é a segunda onda de aumento em 10 dias. Em 12 de abril, o combustível subiu de R$ 2,87 para R$ 2,94 ; R$ 0,07 a mais por litro. Naquela ocasião, representantes dos empresários explicaram que o controle dos preços depende apenas do governo federal.

Investigação
Enquanto os comerciantes reclamam, está em andamento uma investigação da Secretaria de Direito Econômico (SDE), ligada ao Ministério da Justiça. Os técnicos do governo federal acreditam que o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do DF (Sindicombustíveis-DF) estaria tentando interferir nos preços dos combustíveis comercializados pelos postos. Empresários do setor foram intimados a prestar esclarecimentos. A investigação continua para saber se os postos estão cometendo abusos. A apuração, cujos detalhes não foram revelados, não tem data para ser concluída.


Tenho três carros em casa. Vamos virar reféns dessa situação;
Cláudia Alencar, professora



Venda em hipermercados
A instabilidade no preço do combustível retoma a discussão da instalação de postos de gasolina em supermercados. Editada na gestão do ex-governador Joaquim Roriz, a Lei Complementar n; 294 proíbe a abertura de postos em supermercados, shoppings, cinemas, teatros, escolas e hospitais públicos. A união dos estabelecimentos é comum em várias cidades do Brasil. O argumento do Governo do Distrito Federal é que a instalação de postos de combustível em locais de grande aglomeração de pessoas pode apresentar risco à sociedade e ao meio ambiente.

Os empresários do setor, que temem a concorrência das grandes redes de varejo, utilizam a mesma justificativa. A legislação, questionada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), determina que é proibida ;a edificação de postos de abastecimento, lavagem e lubrificação nos estacionamentos de supermercados, hipermercados e similares, bem como em teatros, cinemas e shoppings;. Para a lei ser declarada inconstitucional, falta apenas o relatório do ministro Celso de Mello.

A Procuradoria-Geral da República apoia a liberação da venda de combustível em estabelecimentos como supermercados e enviou ao STF um parecer em que defende que a legislação local ; fere o interesse público e impede a livre concorrência de mercado;. Além disso, a procuradoria defende que a medida contribui para formação de cartel.


Luiza Tiné:

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