Cidades

Planos de saúde pesam mais no bolso das famílias brasilienses

postado em 23/04/2011 08:00

Em um cenário de inflação, o brasiliense está preocupado com o reajuste dos planos de saúde. A alta de preços sempre foi motivo de inquietude para os brasileiros e para o governo federal, que se desdobra para controlá-la. Quando a inflação está relacionada a gastos essenciais, o cenário torna-se mais preocupante.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, nos últimos 12 meses, Brasília registrou alta no custo da saúde suplementar acima da média nacional, além de superior aos valores detectados em todas as outras regiões metropolitanas onde acontece o levantamento. A variação positiva do item no Distrito Federal ficou em 7,37%, enquanto no Brasil houve oscilação de 7,06%. Também no primeiro trimestre do ano, a elevação dessa categoria de gastos castigou o bolso dos candangos. Brasília foi a segunda capital com reajuste mais acentuado, de 1,85%. Ficou atrás apenas de Salvador, onde o aumento foi de 1,87%. Para especialistas, pelo fato de os planos de saúde terem peso significativo sobre o orçamento familiar e de constituírem uma despesa de difícil substituição, os movimentos de elevação preocupam.

O economista Nilton Marques de Oliveira, professor do Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares (Ceam) da Universidade de Brasília (UnB), diz que para enfrentar os avanços no custo de vida, a solução é elencar as despesas mais importantes e dar prioridade a elas. A mensalidade do plano de saúde é um dos gastos que a família deve lutar para manter. ;Procurar alternativas mais baratas para convênio de saúde tem um problema sério: você não vê bons profissionais cobrando pouco. Por mais difícil que seja, o ideal é cortar outras coisas para pagar o plano. Controlar o lazer, pesquisar no supermercado e deixar o carro dentro de casa com mais frequência são algumas das sugestões;, pondera Oliveira.

Ele acredita que o fato de o custo da mensalidade no DF ter oscilado acima da média nacional e da de outras unidades da Federação está ligado à elevada renda per capita dos brasilienses. ;Médicos e dentistas vão pedir salários altos. Despesas com aluguel de salas e espaços, entre outras, também são mais altas;, destaca.

Taxa extra
Professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da UnB, o também economista Roberto Piscitelli concorda com Nilton de Oliveira no sentido de que a pressão inflacionária sobre os planos de saúde deixa os usuários sem opção. ;Todos dependemos desses serviços. Todo mundo que ascende um pouquinho na escala social se filia a um plano de saúde, que é para não depender do atendimento público. De outra parte, as operadoras cobram muito e pagam muito mal aos seus prestadores de serviços. Agora, você tem mais esse escândalo, de médicos cobrando taxa extra;, afirma.

O economista diz preocupar-se com aumentos de alguns itens do orçamento. ;Este ano, os reajustes acima da inflação concedidos a algumas categorias do setor privado não vão se repetir. Se cada componente dos gastos familiares vai aumentando, é evidente que a conta não vai fechar no fim do mês. Vamos começar a ter problemas com a inadimplência;, alerta.

Piscitelli critica um fator que considera agravante no aumento do custo de vida para os brasileiros. Para ele, o fato de o reajuste de serviços e produtos ser frequentemente indexado à inflação do período anterior não é saudável. ;Os custos acabam sendo reajustados porque os preços aumentaram em uma proporção maior ou menor. Há um teto que todo mundo pode usar. Esse mecanismo vai se reforçando, se propagando e ajuda a manter o nível de inflação;, afirma. Ele cita como exemplo de despesas que são reajustadas segundo a inflação os contratos de aluguel, alguns planos de saúde, e os medicamentos, cujo aumento é autorizado anualmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ambos servidores públicos federais, Carla Miranda, 43 anos, e o cunhado dela, Márzio Deon Rezende, 50, têm a sorte de contar com plano de saúde com 70% da mensalidade subsidiada pelos órgãos públicos onde trabalham. Carla, que não tem dependentes, paga R$ 180 por uma cobertura que considera boa. ;Ainda este ano tive gastos com cirurgia, e não tive do que reclamar.; Márzio, que arca com o convênio para si e para a família, paga R$ 250. ;Se eu tivesse que pagar o plano cheio, meu orçamento ficaria bem mais comprometido. Gastaria, no mínimo, R$ 400;, conta.


ANS avalia valor das mensalidades

A exemplo do que ocorre com os remédios ; que este mês tiveram aumento médio de 4% ; os convênios de saúde também devem submeter-se a um órgão fiscalizador. Trata-se da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre outras atribuições, ela determina periodicamente qual é o percentual de alta que as operadoras de planos médicos podem aplicar às mensalidades cobradas dos usuários. Entretanto, a autarquia calcula o teto de reajuste somente para contratos firmados após a aprovação da Lei n; 9.658/98. Titulares de convênios adquiridos antes da entrada em vigor da legislação ficam sujeitos a cláusulas contratuais. Muitas vezes, elas indexam o reajuste anual a um índice inflacionário.

Quem possui plano de saúde coletivo, via empresa ou cooperativa, também não tem o contrato regulado pelo patamar afixado pela ANS ; o que normalmente garante preços mais atrativos. Por esse motivo, a agência utiliza as altas de preço desse tipo de convênio como base para determinar o aumento a ser aplicado sobre planos individuais. O último reajuste autorizado, em maio do ano passado, foi de 6,76%.

A reportagem tentou contato com a Federação Nacional de Saúde Suplementar ; representante de 15 operadoras de saúde ;, mas não localizou representantes para falar sobre reajustes nas mensalidades dos planos. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Associação Brasileira de Medicina de Grupo, que congrega grupos e cooperativas de planos, informou que vários fatores são levados em conta na atualização de preços e que a inflação do período anterior não entra necessariamente no cálculo

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