Cidades

Postos do Distrito Federal podem ficar sem gasolina nos próximos dias

Disparada no preço do etanol e alto consumo fazem com que as distribuidoras tenham dificuldades em cumprir a demanda. Há casos de bombas fechadas por problemas de estoque

Juliana Boechat
postado em 24/04/2011 10:00

O que era apenas uma ameaça começa a virar realidade: postos de combustíveis do Distrito Federal podem ficar sem estoque de gasolina nos próximos dias. O risco da falta de abastecimento ganhou força na última semana e preocupa os revendedores. Com a disparada no preço do etanol, o consumo se concentrou na gasolina e, como nunca antes, pressionou as distribuidoras, que não têm conseguido atender a demanda. O carregamento das bombas, principalmente nos estabelecimentos sem vínculo com fornecedores ; conhecidos como bandeira branca ;, está sendo feito com atraso e em quantidade menor do que a encomendada.

Na semana passada, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, sinalizou que poderia faltar gasolina em algumas localidades do país por conta da escassez do álcool anidro, que é adicionado à gasolina na proporção de 25%. O governo federal estuda diminuir esse percentual para conter os aumentos, mas até agora não tomou a decisão. Apesar da tentativa oficial de não alardear a informação ; a Petrobras nega a possibilidade de falta de combustível ;, as cotas de gasolina não têm sido atendidas em sua totalidade. Por enquanto, os problemas são encarados como pontuais e localizados. A insegurança, porém, deixa apreensivos empresários do setor.

Todas as bombas de gasolina do posto Shell da 314 Sul passaram o dia de ontem isoladas por cones. O fornecedor atrasou a entrega do combustível, que deveria ter sido feita na última quarta-feira. Até amanhã, serão vendidos apenas álcool e diesel. Frentistas foram dispensados antes do fim do expediente, devido ao baixo movimento. Funcionários também saíram antes do horário em um estabelecimento de mesma bandeira na W3 Norte. O caixa Júlio Maciel, no entanto, negou problema de abastecimento. Por volta das 17h, um caminhão entregava 15 mil litros de gasolina.


Em um posto da bandeira Esso, na Quadra 8 de Sobradinho, o chefe de pista levou um susto quando os caminhões chegaram ontem para renovar o estoque. Ele havia encomendado 24 mil litros de gasolina. Só entregaram 16 mil ; apenas dois terços do pedido ;, e com um dia de atraso. ;Foi uma surpresa. Disseram que o estoque na base está baixo e que não tinham mais do que aquilo;, contou João Batista. O problema, acrescentou ele, é que como o posto não aumentou a gasolina de R$ 2,94 para R$ 3,02 ; como já fizeram alguns ;, as vendas continuaram aquecidas, o que ameaça o abastecimento. ;Se continuar desse jeito, segunda (amanhã) acaba.;

Nos estabelecimentos de bandeira branca, a situação é ainda mais complicada. ;Se não fizerem nada, estamos correndo o risco de ficar sem gasolina;, reconheceu o gerente de um posto na 214 Norte, Rafael Santana. Ele contou que geralmente pesquisa preço em cinco distribuidoras antes de fechar negócio. Com a escassez do álcool anidro, apenas uma está oferecendo combustível para Brasília, segundo ele. ;Estão alegando que o estoque está vazio mesmo. Com uma apenas no mercado, não podemos mais pechinchar. Ela coloca o preço que quer e a gente compra. Nossa margem de lucro despencou;, comentou, sem querer precisar por quanto está comprando o litro. ;Acima de R$ 2,60;, limitou-se a dizer.

Dificuldades
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, confirmou que há dificuldade na distribuição. ;Bandeira branca não é parâmetro. O produto existe e a rede está sendo atendida. O que está acontecendo é um atraso na entrega, por conta de gargalos logísticos;, afirmou. De acordo com ele, a situação só deve ser normalizada em ;meados de maio;, quando o etanol, prevê Vaz, voltará a ser competitivo e a demanda por gasolina voltará ao normal. ;A Petrobras está fazendo um esforço enorme para isso;, completou.

Só continua abastecendo com álcool quem não tem opção, ou seja, os donos de carros antigos. No posto Petrobras da 214 Sul, o etanol não é mais vendido. O chefe de pista, Salomão Rodrigues dos Santos Martins, 36 anos, confirmou que os reajustes constantes deixaram o combustível estagnado nas bombas. ;Não vendemos álcool há duas semanas. Estava dando prejuízo. Compramos por um preço alto e o material não gira, ou então somos obrigados a vender mais barato do que compramos;, explicou.


Opinião do internauta

Leitores do Correio comentam os recentes aumentos no preço da gasolina


Leomar Silva
No Orkut já temos a comunidade ;Não abasteçam nos postos BR;. Vamos nos reunir e boicotar!

Andrea Souza
Se a culpa é do preço internacional do petróleo, por que em Goiás eles vendem gasolina mais barato?

Paolo Valotto
U$ 7,72 o galão, deve ser a gasolina mais cara do mundo. E ainda assim não é pura.

Everton Reis
Aumento do combustível, plano de saúde, alimentos etc. E muitos ainda criticam o porquê de categorias do GDF pleitearem revisão salarial. São hipócritas, pois têm consciência de que Brasília é um lugar caro para se viver. Quem mais sofre são os candangos de origem, que suportam os altos preços de bens e serviços.

Erick Passos Cunha
Cadê os políticos? Nessa hora ninguém aparece. É porque não estão nem aí, têm gasolina paga por nós.

Henrique Gomes
E em Goiânia, a ganância e a cegueira do governo permitem que o litro da gasolina chegue a R$ 3,19! É só uma marolinha?

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