Cidades

Familiares de vítimas de acidentes no feriadão revelam o drama da perda

Quantidade de mortes nas rodovias federais que cortam o Distrito Federal aumentou 150% em relação a 2010 , segundo a PRF

postado em 26/04/2011 08:00
Desde o último dia 21, Apoliana Silva de Lima, 22 anos, não sabe como tocar a vida. Segundos a separaram de um futuro cheio de planos de outro sem parâmetro algum. Nesse intervalo de tempo, na BR-040, sentido Cristalina-Luziânia, um ônibus entrou sem sinalizar na frente do carro conduzido pelo pai dela, Antônio Uniundo de Lima, 63 anos. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o veículo maior teria atravessado a pista para acessar um retorno, e Antônio não evitou a batida. A vítima, um chaveiro conhecido em Luziânia, morreu na hora. O pai de quatro filhos e provedor da casa não usava o cinto de segurança.

O acidente que ceifou a vida do chaveiro aparece nas estatísticas da PRF. O balanço de colisões na semana santa divulgado ontem pela instituição mostra que, nos quatro dias de feriado, cinco pessoas morreram, 150% a mais do que no mesmo período do ano passado (leia quadro). No total, foram 57 acidentes e 64 feridos. Em todos os aspectos, o cenário das estradas em 2011 foi pior do que em 2010. No entendimento da PRF, no entanto, não é possível fazer comparações anuais, porque, em 2010, a semana santa teve um dia a menos, já que não coincidiu com o aniversário da capital.

Excesso de velocidade
[SAIBAMAIS]O inspetor da PRF no Distrito Federal Dalvimar de Lucas Barbosa atribui os acidentes a falhas dos motoristas. ;Os acidentes aconteceram, na maioria das vezes, em retas e não havia chuva. Apesar do movimento intenso nas rodovias, a desatenção e a imprudência são determinantes para as ocorrências;, argumenta. A instituição aponta o excesso de velocidade e as ultrapassagens indevidas como pivôs das tragédias em estradas.

No caso de Antônio de Lima, nem a experiência na estrada lhe salvou a vida. Ele tinha uma chácara no povoado de Três Vendas, distante 10km de Luziânia, e circulava pela estrada onde morreu quase todos os dias. ;O motorista do ônibus tentou tirar o corpo fora, mas as testemunhas viram que ele não fez sinal. Mesmo assim, não desculpa o fato de o meu pai não estar com o cinto de segurança. Ele poderia ter sobrevivido;, acredita a filha. Depois da burocracia, será a vez de a família lidar com a realidade. ;Meu pai ia pagar meu curso de técnica em enfermagem. Agora, vou ter que desistir do curso;, lamenta.

No dia 23, Maria Cleia Oliveira de Souza, 24 anos, também se acidentou no feriado prolongado. Era aniversário da motociclista, que seguia na BR-060 com a tia em uma CG 150 Sport Honda. Amante do veículo de duas rodas, a ex-vendedora de motos admitiu desatenção. ;Eu sempre uso jaqueta. Mas era meu aniversário e não quis colocar para não ;estragar; o visual;, explica (veja depoimento).

Era noite e ela usava o capacete de viseira escura, porque o outro, de viseira clara, era o único que cabia na carona. ;Eu queria entrar no viaduto para ir para o Recanto das Emas. Mas estava na faixa errada e não estava enxergando direito com a lente escura;, conta. Ela levantou a viseira para olhar o retrovisor, mas, quando voltou o olhar para a frente, estava próxima demais de um balão. Não teve reflexo nem tempo para evitar a colisão.

A primeira lembrança da vítima após o acidente é de acordar no hospital. O resultado: clavícula quebrada, pernas feridas e incontáveis arranhões. Ela aguarda cirurgia no Hospital Regional do Gama. ;Estou desempregada e fui chamada há pouco tempo para trabalhar em outra concessionária;, afirma.

Desatenção
As tragédias de trânsito no feriado se estendem também às rodovias internas do Distrito Federal. Na noite de sexta-feira, dia 22, o telefone da dona de casa Noemia Lima, 39 anos, tocou enquanto ela assistia à novela. Do outro lado, alguém berrava e dizia que seu irmão, Daniel da Silva Lima, 33 anos, estava morto em uma colisão ocorrida na DF-290. Era o segundo irmão que Noemia perdia em sete anos. Os dois morreram com a mesma idade e em acidentes de trânsito.

Na sexta, o filho recém-nascido de Daniel, Gabriel, de apenas 22 dias, também perdeu a vida, assim como o motorista do segundo carro envolvido na batida. ;Eles estavam saindo do hospital, porque o Gabriel estava com uma alergia. Acho que foi desatenção do Daniel, ele estava preocupado com o neném;, lamenta Noemia. Daniel saía do posto de gasolina e entrou na via sem prestar atenção em um carro que ultrapassava uma carreta. A mãe da criança, Darlene Souza, permanece internada no Hospital do Gama. A enteada de Daniel, de 2 anos, sobreviveu ao choque.

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