Cidades

Brasília será invadida por aviões, tanques e guerreiros em miniatura

postado em 29/04/2011 16:00

Neste sábado (30/4), Brasília será invadida por aviões de guerra, tanques militares, índios apache e guerreiros romanos - todos em miniatura. É o Model Day 2011, que reunirá praticantes e admiradores do plastimodelismo.

Entre o hobby e a profissão, o brinquedo e a obra de arte, o plastimodelismo consiste em replicar objetos de grande porte em escala reduzida. Vale tudo: veículos militares e civis, figuras históricas, personagens de ficção científica e o que mais puder ser reproduzido. Alguns artistas montam cenários inteiros (conhecidos como ;dioramas;) que alcançam até dois metros de comprimento.

Avião do Correio Nacional integra coleção de miniaturas da Força Aérea Brasileira (FAB) que será exposta no Model Day
Segundo Eder Oliveira, um dos organizadores do evento, a atividade de reproduzir objetos de grande porte em miniatura começou no Renascentismo. "O próprio Leonardo da Vinci fazia réplicas menores das suas invenções", conta. Mas foi durante a Segunda Guerra Mundial que o modelismo se desenvolveu - mini-aeronaves eram usadas no treinamento dos pilotos alemães e ingleses.

A disseminação da técnica também foi favorecida pelo surgimento de materiais plásticos como poliestireno e PVC, mais leves e maleáveis que a madeira. Hoje, a lista de matérias-primas inclui também a fibra de vidro, a resina e alguns metais. No caso dos dioramas, as possibilidades são infinitas: areia, vidro, cimento, pedra, praticamente tudo pode entrar na composição.

O único tabu é o uso de motores. ;Miniatura é feita pra montar e colocar na estante. Se tem controle remoto, é brinquedo;, defendem os mais puristas. Outros, porém, admitem o uso de pilhas e até eletricidade como elemento extra na confecção das peças.

Leigos e mestres
A programação do evento inclui workshops de montagem e pintura das réplicas, sorteio de brindes e exposição de acervos particulares. O objetivo, além de reunir os modelistas, é divulgar o hobby para o público em geral. "Geralmente a técnica é passada de pai pra filho, mas queremos mostrar aos brasilienses que todo mundo pode criar seus modelos em casa", conta Éder.

Uma das coleções mais aguardadas é a de Otto Ricardo. O professor de história especializou-se na reprodução de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB), e hoje tem mais de 250 modelos montados e na fila de espera. "Começa como diversão, e você acaba se especializando, pesquisando, estudando a fundo mesmo", conta. Hoje, ele usa seu acervo em palestras e aulas expositivas. Segundo ele, "cada modelo conta um pedaço da história do Brasil ou do mundo."

Para Éder, o lado educativo da atividade vai além da reconstrução histórica e estimula áreas como a concentração e a coordenação motora. "Conheço muitos pais de crianças hiperativas ou com déficit de atenção que usam o modelismo como terapia", relata. A partir dos oito anos, a criança já consegue montar os kits mais básicos, desde que supervisionada por adultos.


Importação e exportação
As miniaturas prontas são vendidas em lojas de brinquedo, antiquários e até mesmo na Feira dos Importados. Mas os kits de montagem - o verdadeiro "barato" dos modelistas - são cada vez mais raros no país. "Nos anos 50, existiam importadoras e fabricantes famosas por aqui. Hoje, a maior parte da produção nacional é artesanal", lamenta Ricardo. Na legislação atual, os kits são considerados brinquedos, o que influi diretamente na alta taxação sobre os produtos. Para o consumidor final, a carga tributária pode chegar a 80% do preço original.

Ainda assim, os modelistas garantem que é possível começar com um baixo investimento . Um kit de montagem básico custa cerca de R$ 50, já com as tintas, pincéis e colas. O preço dos conjuntos mais elaborados ultrapassa facilmente a casa dos R$ 150.

O gasto, na maioria das vezes, é recompensado com prestígio. ;O modelismo é hobby, terapia, dificilmente conseguimos lucrar com a atividade;, assegura Ricardo. As miniaturas da frota aeronáutica brasileira chegaram ao conhecimento dos comandantes da FAB, e hoje parte do acervo está em exposição permanente no museu da Base Aérea de Cachimbo, no Pará. Além disso, peças da coleção já foram exibidas pela América Latina e na Itália.

A experiência traz consigo o perfeccionismo, e nem sempre as peças disponíveis no mercado correspondem exatamente ao modelo desejado. Daí, entram em cena ferramentas como lixas de unha, estiletes e alicates. Alguns adeptos especializam-se na customização e adaptação de kits, como o oficial da Marinha Fábio Duarte. ;Sempre recebo ligações de amigos pedindo para corrigir uma peça específica, arredondar uma asa, corrigir um eixo;, gaba-se. O desafio dele, agora, é transferir a paixão para o filho. ;Mas ele gosta mais de computação;, ri.

Blindado do Exército reproduzido em escala 1:35 pelo plastimodelista Otto Ricardo
Arte democrática
No Model Day 2011, o público terá a chance de entrar em contato com diversas vertentes do miniaturismo. No Distrito Federal existem cerca de 500 praticantes, entre modelistas ; os que montam kits em casa ; e colecionadores ; quem compra as obras prontas de fábrica ou de modelistas. ;E existem os boxmodelistas, que compram as peças e não montam, deixam a caixa guardada;, zomba Éder Oliveira, que também comanda a loja Hobbyart, na Asa Sul.

Éder, por exemplo, se especializou na confecção de figuras ; nome técnico dos bonecos em miniatura. ;Comecei por acaso. Muitos clientes compravam os kits e deixavam os bonecos na loja, porque não gostam dessa área. Um dia, peguei alguns pra testar e descobri que levo jeito pra coisa;, conta. Enquanto algumas peças são finalizadas em poucas horas, outras podem levar anos até o resultado desejado.

;Já repintei um soldado romano cinco vezes, e depois um amigo italiano apontou dezenas de erros. Daí, me mostrou uma ilustração correta e refiz tudo, outra vez.;, diverte-se o miniaturista. Ao fim, acabou enviando o boneco para a casa do amigo, na Itália. Para ele, as peças mais difíceis são justamente as maiores, porque exigem um maior grau de detalhamento. ;Se a figura é pequena, você não presta muita atenção na expressão facial, nos detalhes menores. É mais fácil algo passar batido;.

Mesmo com toda a variedade de estilos, tamanhos e especializações, os miniaturistas concordam em uma coisa: o modelismo é um hobby que estimula diversas áreas do conhecimento, e o único efeito colateral conhecido são algumas madrugadas em claro colando, pintando e lixando os pequenos modelos.

Evento gratuito
Se você é colecionador, modelista, admirador ou deseja conhecer melhor os trabalhos, vale a pena dar uma passada no Model Day 2011. O evento acontece neste sábado (30/4), de 9h às 16h. O local escolhido foi o Shopping Asa Sul, na comercial entre as quadras 414 e 415 Sul, próximo ao Colégio Maristão.

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