Roberta Machado
postado em 01/05/2011 08:38
O Distrito Federal é uma das unidades da Federação que mais preserva o Cerrado. O diagnóstico foi feito por relatório do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O monitoramento por satélite do cerrado feito entre 2008 e 2009, mas divulgado agora, mostra que, neste período, o DF destruiu 0,02% da área original da vegetação, 18 vezes menos que o percentual nacional. Ainda assim, quase metade do bioma do país já foi desmatada.Na lista dos que menos desmatam o cerrado, o DF está em segundo lugar, atrás apenas de São Paulo, que perdeu 0,01% do vegetação original do estado. Quando é considerada a área total desmatada, o DF fica empatado em segundo lugar com o Paraná, e perde para Rondônia, que desmatou somente 0,8 quilômetros quadrados de sua parcela do bioma.
No cenário nacional, a taxa anual de desmatamento do cerrado caiu de 0,7 % para 0,37%. A desaceleração da destruição, porém, deve apenas adiar a conquista de um recorde nada desejável: um milhão de quilômetros quadrados perdidos para a urbanização, a extração de madeira e a agricultura. Se esse ritmo se mantiver, a marca deve ser alcançada antes do fim de 2014. Há dois anos, o desmatamento ultrapassou a marca de 983 mil quilômetros quadrados de cerrado desmatados, o equivalente a 48,22% do total.
Para alguns especialistas, os números que traduzem a situação do 2; maior bioma sul-americano são motivo de preocupação. ;É uma questão proporcional. O DF está completamente dentro do cerrado. Mesmo que 0,02% pareça um número irrisório, representa um uso de solo bem grande, principalmente porque o DF não é um setor agrícola;, pondera Artur Paiva, coordenador de serviços ambientais da ONG Conservation International. De acordo com o engenheiro florestal, o grande responsável pela atual destruição do cerrado brasiliense é a urbanização. Sem a introdução de novas políticas de controle habitacional, a tendência é de que o índice se mantenha, destruindo o pouco que resta da vegetação.
;Hoje, os corredores verdes sofrem especulação imobiliária muito grande. Águas Claras é um sinal forte disso, porque várias nascentes foram aterradas para a construção desse que hoje é o maior canteiro de obras da América. O Setor Noroeste era uma área de mais de 300 hectares de cerrado nativo, ao lado do Parque Nacional;, exemplifica. Somente Águas Claras consumiu mais de 400 hectares de vegetação para suprir o mercado imobiliário do Plano Piloto, e quase um quarto da população de Brasília mora em mais de 500 condomínios que nas últimas três décadas tomaram o lugar de áreas verdes do DF.
Em queda
Para o Ministério da Agricultura, porém, a preservação ambiental da savana brasileira tem demonstrado resultados animadores. ;É uma boa notícia, pois a taxa de desmatamento caiu quase que pela metade. Assumimos um compromisso de redução de pelo menos 40% do desmatamento do Cerrado e estamos nessa direção;, garante Bráulio Dias, diretor da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ibama. Parte da responsabilidade da queda é de unidades da Federação como o DF, que perdeu apenas 1,7 quilômetro quadrado de sua mata nativa no biênio 2008-2009. A conservação brasiliense compensou casos como o do Maranhão, que destruiu 2.338 quilômetros quadrados no mesmo período.
Essa grande diferença pode ser atribuída, além da grande discrepância de território entre os dois estados, à vantagem da presença de grandes áreas protegidas dentro e próximo ao Distrito Federal. ;No DF, quase tudo o que se podia desmatar já foi desmatado. O que sobra são áreas protegidas, e o DF tem uma quantidade dessas áreas muito maior que os outros estados;, explica Dias. De acordo com dados do Instituto Brasília Ambiental (Ibram-DF), atualmente o DF conta com 68 parques que somam 8.862 hectares, o equivalente a 88,6 quilômetros quadrados de área preservada.
Faixa de proteção
As APPs são áreas protegidas por lei, com a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade. Elas são encontradas ao longo de cursos d;água em faixas com no mínimo 30 metros, ao redor de nascentes, em áreas de encosta, em topo de morros, montanhas ou serras, na borda de tabuleiros ou chapadas em faixas horizontais de no mínimo 100 metros.