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Estudo da Codeplan revela que Samabaia é cobiçada pelo mercado imobiliário

postado em 06/05/2011 07:50
Maria do Socorro chegou no início da cidade e viveu em um barraco. Hoje, tem casa de alvenaria, que divide com os filhos e três netos, entre eles Vitória
Arranha-céus em construção ou recém-terminados contrastam com casas de telhado de amianto. O fenômeno é o retrato de Samambaia, oitava região administrativa a ter seu perfil traçado pela Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Embora seja a vedete do mercado imobiliário e de investidores em razão da boa infraestrutura urbana e proximidade do metrô, a cidade ainda é lar de gente humilde. A renda domiciliar média é R$ 2.093, e a per capita, R$ 624. No quesito escolaridade, a maior parte da população ; 38,2% ; não completou o ensino fundamental. Além disso, a proporção de moradores com nível superior completo é de somente 3,5%. O percentual equipara-se ao de analfabetos, que é de 3,2%.

Além das baixas renda e escolaridade, as casas anteriores à explosão da construção civil são, em sua maioria, modestas. Dentro do universo de 1.124 domicílios tomado pela Codeplan, foi detectado que 31,5% têm menos de 60m;. A maior parte deles ; 62% ; possui telhado de fibrocimento ou amianto, materiais mais baratos do que as telhas de barro.

Um total de 57,6% dos moradores usam filtro de barro, enquanto 12,9% têm o equipamento de parede e somente 5,1% processam a água com carvão ativado. Chama a atenção a proporção de casas onde não há como filtrar a água: 12,4%. O economista Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações do órgão, comenta que os telhados reproduzem o padrão da época da criação de Samambaia. Para ele, o estilo dos domicílios deve evoluir à medida que renda crescer na cidade.

Saúde
A população de Samambaia está desprotegida também em relação ao atendimento médico. A Codeplan estimou que 85,4% dos moradores não contam com plano de saúde. O Bolsa Família, um benefício do governo federal, é pago a 8% dos habitantes, e 10,1% frequentam o restaurante comunitário, onde é possível fazer refeições a R$ 1. ;Os dados apontam a necessidade de políticas públicas, principalmente para a saúde e a educação;, destaca Iraci Peixoto, gerente de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan.

O administrador de Samambaia, Risomar Carvalho, afirma que o atendimento médico à população melhorou com a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), e que está prevista a construção, ainda este ano, de duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) na cidade. ;Os problemas na UPA foram só no primeiro mês. Agora, a espera não está sendo de mais do que meia hora;, garantiu. Segundo Carvalho, a unidade desafogou a emergência do Hospital Regional de Samambaia (HRSam).

O administrador regional relata ainda que a Escola Técnica Federal da cidade está se especializando em cursos na área da construção civil, a fim de atender à demanda criada pela chegada das empresas de engenharia. ;Sabemos que há vagas para carpinteiro, mestre de obras e armador, com bons salários, e que as construtoras trazem gente de fora;

Computadores
A comparação dos indicadores atuais de Samambaia com os que aparecem em edições de outros anos da Pdad ; 1997, 2000 e 2004 ; o estudo da Codeplan mostra que, apesar das carências da região administrativa, houve melhora. O número médio de habitantes por domicílio, por exemplo, recuou de 4,3 em 1997 para 4 em 2000, e hoje é de 3,8. Outro aspecto positivo é que o percentual de analfabetos caiu quase pela metade nos últimos 14 anos, já que era de 6,3%.


O dado que mais impressiona na retrospectiva, entretanto, refere-se à proporção de domicílios com computador. Em 1997, era de apenas 2%. Em 2004, quando a internet estava difundida nos lares brasileiros, chegou a 12,1%. Atualmente, é de 45,6%. ;Foi um salto grande;, comenta Iraci Peixoto.

Uma das casas contempladas com o bem durável foi o da costureira Maria do Socorro Limeira, 63 anos. Maria do Socorro é uma das pioneiras de Samambaia. Chegou em 1989, vinda do assentamento conhecido como Boca do Mata, na região de Taguatinga, que deu origem à cidade. Morou com os dois filhos em um barraco de madeira, em uma rua sem asfalto ou abastecimento de água. ;A gente ia buscar água no chafariz;, lembra.

Hoje, dona de uma casa de alvenaria onde vive com o filho, a filha, a nora e três netos, a costureira recebe aposentadoria e comemora a prosperidade. ;Moro em um lote que é meu, meus filhos estão empregados. Há uns três anos, minha filha comprou o computador. A internet é discada;, relata. Maria Vitória Limeira Kalil, 10 anos, neta de Maria do Socorro, é uma das que mais usam o equipamento na casa. ;Eu faço bastante trabalho de escola;, diz.

Pronto atendimento
A primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Distrito Federal foi inaugurada em 15 de fevereiro, na QS 107 de Samambaia. A construção custou cerca de R$ 2,6 milhões ao Ministério da Saúde e $ 400 mil ao GDF, que foi responsável pela readequação do espaço, abandonado há mais de um ano. Com uma área de 1,3 mil metros quadrados, a unidade tem três especialidades: pediatria, ortopedia e clínica médica. O governador Agnelo Queiroz prometeu construir mais 14 UPAs, em outros pontos do DF.

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