postado em 07/05/2011 08:00
A ocupação do subsolo do Instituto Central de Ciências (ICC), da Universidade de Brasília (UnB), não estava prevista no projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer. O espaço, atingido por uma forte chuva em 10 de abril (leia memória), foi aberto durante a construção do prédio para o transporte dos materiais e a passagem das máquinas e deveria servir como uma via de serviços. A expansão da instituição e a criação de novos cursos levou à instalação de laboratórios, departamentos e até salas de aula nessa parte da edificação a partir da década de 1980. Mas, desde 2004, o Centro de Planejamento da instituição (Ceplan) coloca em prática o plano de ordenamento do ICC, que implica retirar essas atividades do subsolo. O temporal de 10 de abril deixou um rastro de prejuízo estimado em pelo menos R$ 12 milhões.
Agora, a necessidade de mudança e de reorganização do espaço tornou-se mais urgente. Novos prédios já foram erguidos e os Institutos de Biologia e Química se retiraram do Minhocão. Em breve, os departamentos de Economia, Administração e Ciências Sociais também vão sair. %u201CA demanda de crescimento da universidade foi maior do que a nossa capacidade de produzir espaços. Mas essa ocupação ocorreu com base em estudos%u201D, defendeu o diretor do Ceplan, Alberto de Faria. A unidade pretende retirar as salas de aula e de estudo, os departamentos e centros acadêmicos localizados no subsolo. Algumas atividades continuarão a funcionar no subsolo do prédio.
De acordo com Faria, com esse projeto, as salas dos professores ficariam no mezanino, as salas de aulas e os departamentos no térreo e os laboratórios e centros de pós-graduação na parte inferior do ICC. %u201CPrecisamos manter no subsolo atividades que não tenham grande movimentação de pessoas. Um espaço de longa permanência, como é o caso de um departamento, não pode ficar em local sem ventilação e iluminação naturais. Lá, colocaremos laboratórios, por exemplo. A circulação é menor e alguns espaços exigem mais segurança%u201D, defendeu. Ele admitiu que a ocupação do subsolo ocorreu de forma emergencial, apesar de não ser indevida. Agora, é necessário adotar o plano de reorganização do espaço acadêmico. Quanto à possibilidade de novos alagamentos, Faria disse que a UnB estuda medidas para impedir outras inundações.
Para o chefe do Departamento de Geografia, Fernando Sobrinho, o subsolo apresenta várias limitações. %u201CDependemos de ar-condicionado e de energia elétrica. Não tenho condições de trabalhar na minha sala com a luz apagada, seja em qualquer horário do dia porque não tem janela aqui%u201D, disse. Sobrinho não se coloca contra a ocupação do subsolo, mas admite que, se algumas atividades fossem retiradas de lá, a Universidade de Brasília poderia racionalizar o uso de energia elétrica e cortar gastos. %u201CSem contar que o subsolo acaba se tornando um ambiente insalubre. A racionalização dos espaços é necessária. E, agora, com essas inundações se faz mais urgente ainda%u201D, afirmou.
O temporal ocorrido em 10 de abril atingiu também o Departamento de Filosofia, no Bloco B, do Subsolo do ICC Norte. O professor Márcio Gimenes de Paula detalha os problemas enfrentados por ele no ambiente de trabalho. %u201CAs salas sempre tiveram goteiras e infiltrações. Para se ter uma ideia, já compramos baldes para nosso departamento%u201D, lembrou. Agora, eles se preocupam com o destino do departamento, que se tornou um local ainda mais insalubre depois da invasão da chuva e da lama.
Aluno de mestrado em filosofia, Jadson Teles, 28 anos, compartilha da opinião do professor. %u201CFaltam luz e ventilação no nosso departamento. Trabalhamos em condições insalubres%u201D, lamentou. A estudante do 2º semestre de história Bibiana de Almeida Rosa, 19, espera que com as obras no ICC, após a inundação, novos projetos sejam elaborados para melhorar o ambiente no Centro Acadêmico do curso, localizado no subsolo. %u201CAqui, é muito quente e precisa de energia elétrica o dia inteiro. Pedimos à prefeitura para aumentar a ventilação e iluminação naturais do espaço. Estudamos maneiras de tornar o ambiente mais agradável para os estudantes%u201D, apontou.
Acervo perdido
Alunos e professores do curso de geografia foram os mais prejudicados com a chuva forte. A água tomou o Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (Ciga), o Centro de Documentação Geográfica Milton Santos e o departamento. Todo o acervo, cerca de três mil obras, estava guardado no centro de documentação e foi perdido.