Flávia Maia
postado em 07/05/2011 08:00
Um mês depois de serem submetidas à cirurgia de reconstrução da mama, durante mutirão médico, as 61 mulheres operadas se reuniram, ontem, pela primeira vez no auditório do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) para o balanço pós-operatório das plásticas realizadas. O hospital, antes palco de protestos por causa da demora de atendimento às pacientes que passaram por mastectomia, se transformou em local de comemoração. A alegria das mulheres era tamanha que o pudor cedeu espaço ao orgulho de mostrar a nova mama. ;Sinto-me uma mocinha de 15 anos com peitinho novo;, brincou a dona de casa Iraídes Silva Lima, 58 anos.
O mutirão realizado em 30 de março contribuiu para reduzir a fila de espera por cirurgias de reconstrução mamária no Distrito Federal. Segundo dados do Ministério da Saúde, antes, o DF ocupava a 12; posição entre as unidades da Federação em quantidade de cirurgias. Entre 2008 e 2010, ocorreram 547 operações. Se os outros estados mantiveram nos primeiros meses de 2011, o mesmo ritmo de cirurgias de 2010, com os 61 novos procedimentos, o DF sobe para o nono lugar.
Porém mais de 300 brasilienses ainda aguardam para sentir a mesma alegria que das 61pacientes que ontem se encontram no Hran. Para conseguir atender ao menos as 97 selecionadas para o mutirão de março e que não fizeram a cirurgia porque não apresentavam condições adequadas de saúde, o Hran realizará a partir do próximo dia 14, minimutirões sempre aos sábados a cada quinzena para atender 12 pacientes que passaram pela mastectomia. ;O mutirão foi um grande salto, mas não conseguimos zerar a fila, esperamos atender pelo menos as 97 até o fim do ano;, explicou Edilberto Araújo, presidente regional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
De acordo com o coordenador da inciativa, Luciano Chaves, 98% das cirurgias feitas em 30 de março foram consideradas um sucesso. Apenas uma paciente teve uma pequena hemorrogia. Graças aos bons resultados de Brasília, o médico espera parceria com o governo federal e secretarias estaduais de saúde para a promoção de um mutirão nacional a ser realizado em março de 2012, envolvendo 4,2 mil cirurgiões plásticos para atender as mais de 2 mil mulheres que aguardam o procedimento de recomposição mamária. ;Nosso pensamento tem que ser maior. Temos que levar o projeto-piloto de Brasília à esfera nacional;, conclamou.
Vários procedimentos
A reconstrução da mama é considerada a parte final do tratamento do câncer de mama, já que exige a retirada do órgão. Por isso, o Sistema Único de Saúde (SUS) faz a cirurgia desde 1999 na rede pública e conveniada. O mutirão de Brasília foi uma parceria entre a rede privada de hospitais do DF, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e a Secretaria de Saúde do DF. A parceria também se mantém no pós-operatório. Uma mulher submetida à reconstituição mamária geralmente volta ao centro cirúrgico pelo menos mais duas vezes. Primeiro, ela faz o preenchimento. Em seguida, a simetria das mamas e, seis meses depois, o bico do seio.
A copeira Mônica Consolação, de 41 anos, esperou oito anos para ter reconstruído o bico do seio. Só no mutirão ela conseguiu, finalmente, ter a mama inteiramente reconstituída. ;Fiquei tirando fotos de todo o processo e, agora, fotografo com orgulho a minha mama completa;, conta. A piauiense Maria Zita Rodrigues de Sousa, 49, também está com a autoestima recuperada. ;Sofri demais quando descobri a doença, estava tudo tomado e tive que tirar toda a mama. Agora, ela está aqui de volta;, conta, entusiasmada, a copeira.
Quatorze hospitais participaram do mutirão, sete eram da rede pública e os outros sete, privados. Ao todo 32 salas de cirurgia foram utilizadas. Dos 64 procedimentos previstos, 20 foram realizados na rede privada. Mais de 120 médicos foram envolvidos no mutirão, sendo 90 cirurgiões plásticos e 32 anestesistas. Uma equipe de 90 enfermeiros também foi escalada. Uma cirurgia de recomposição de mama custa de R$ 10 a 15 mil.