Cidades

Zoo e Embrapa firmam acordo para mapear geneticamente animais em extinção

postado em 13/05/2011 07:00
Na manhã de ontem, o Zoológico de Brasília deu passos decisivos rumo à conservação de espécies do Cerrado. Ao firmar um contrato de cooperação técnica com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a instituição permitirá que o material genético de animais (vivos ou mortos) seja aproveitado para reprodução, pesquisa e outros cuidados com a fauna originária desse bioma. O principal foco são os mamíferos silvestres em risco de extinção.

A Embrapa passou a ser fiel depositária (responsável por tempo determinado) da Casa do Futuro, nome do banco de germoplasma do Zoo (unidade de conservação do material genético), composto por botijões nos quais são armazenadas em nitrogênio líquido, a 196;C negativos, células do tecido adiposo de vários animais. Elas são pluripotentes, ou seja, oferecem vários resultados. Podem ser destinadas a pesquisas, reprodução (clonagem, por exemplo), melhoramentos genéticos e até para ajudar no tratamento de lesões.

Até então, o banco de germoplasma era mantido por uma empresa privada. A parceria com a Embrapa, que prestará o serviço de graça, vai gerar uma economia de R$ 1,7 milhão por ano ao zoológico. O trabalho será otimizado e os processos ampliados, segundo o diretor do Zoo, José Belarmino. Com isso, surge a possibilidade de realizar a reprodução assistida de mamíferos silvestres: inseminação artificial, fertilização in vitro e transferência de embrião. É um plano antigo, mas que não saía do papel por falta de tecnologia adequada e mão de obra especializada ; recursos que, agora, são oferecidos pelos pesquisadores da Embrapa.

Os mamíferos silvestres, como a onça-pintada (à esquerda) e o tamanduá-bandeira, típico da região, estão na mira do banco de germoplasma do Zoo, que funciona graças à tecnologia disponibilizada pela Embrapa;O foco das pesquisas será a reprodução e a conservação de espécies do Cerrado. Mas essas células também podem ser usadas na recuperação de animais feridos, por exemplo;, explicou o pesquisador da Embrapa Cerrados Carlos Frederico Martins. Na manhã de ontem, uma equipe da Embrapa esteve no Zoo para recolher todo o material e transportá-lo.

Mudança
Células de pelo menos 21 indivíduos diferentes foram levadas. A maior parte delas vieram de animais da região, como exemplares de macaco-prego, onça-pintada, lobo-guará, tamanduá-bandeira, ariranha, jaguatirica, quati, raposa do campo e cachorro-do-mato. Outras são provenientes de tigres-de-bengala, leões e outros bichos exóticos.

O Zoo é responsável, em média, por 260 tipos de mamíferos. Desses, pelo menos 50% são silvestres. Por isso, os animais em risco de extinção vão receber cuidados especiais. ;Mas nada impede que a gente ultrapasse esses limites e faça o banco crescer. Vamos aproveitar aquilo que seria perdido;, explicou a coordenadora de pesquisa do Zoo, Carolina Lobo.

A parceria vai permitir que, em situações nas quais seja possível coletar material genético dos bichos ; cirurgias ou em animais mortos ;, a Embrapa esteja presente para abastecer ainda mais o banco de germoplasma. Com isso, as pesquisas a respeito do DNA de alguns animais podem avançar e trazer novas descobertas. ;Nós já temos um banco na Embrapa. O novo material será incorporado;, esclareceu Alexandre Floriani Ramos, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Os maiores beneficiados serão espécimes como onça-pintada e lobo-guará. ;Com as células congeladas, temos em mãos uma moeda forte para a multiplicação de animais. Vamos recuperar o máximo de material possível, inclusive em animais já sem vida. O mais difícil de recuperar nesses casos é o espermatozoide;, disse Carlos Frederico. ;O que estamos vendo aqui é a soma perfeita: o Zoo tem a matéria prima e a Embrapa a mão de obra superespecializada;, concluiu Carolina. Todo o banco de germoplasma foi alimentado a partir de material de animais pertencentes ao Zoológico de Brasília. Assim, fica assegurado ao Zoo o acesso em primeira mão.

Controle
O contrato vai além da manutenção do banco de germoplasma. Zoológico e Embrapa pretendem traçar um plano de manejo para as capivaras, que se espalharam em grande número dentro da área. Elas estão soltas por toda parte. Na semana passada, uma delas, destemida, entrou no recinto do hipopótamo para roubar comida e acabou morta por ele. Visitantes assistiram à cena, chocados.

Para evitar esse tipo de problema, é preciso controlar a superpopulação de capivaras. Às vezes, elas entram em frente aos carros, assustando motoristas. ;Essa é uma questão urgente de controle sanitário;, explicou Carolina. O responsável pelos cuidados com esses animais será José Roberto Moreira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.

Números
R$ 1,7 milhão - Quantia que o zoológico vai economizar por ano, por meio da parceria

21 - Número de animais que tiveram parte de seu material genético separado pela Embrapa

130 - Quantidade de espécies de mamíferos silvestres vivem no Zoo

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