postado em 14/05/2011 08:00
A criação de empregos formais no Distrito Federal desacelerou no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2010. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostram que, de janeiro a março de 2011, surgiram 9.086 vagas no mercado local. O volume é 15,4% inferior à quantidade de postos de trabalho gerados no ano passado, que chegou a 10.748 nos três primeiros meses do ano.
Serviços e construção civil foram os segmentos da economia que mais contribuíram com novas oportunidades de trabalho formal no Distrito Federal nos meses iniciais de 2011. O Caged aponta que, entre janeiro a março, respectivamente, 5.864 e 3.694 vagas de emprego originaram-se e foram preenchidas nos dois setores.
Para analistas, a diminuição no ritmo da criação de vagas celetistas sinaliza que a inflação em alta, bem como a política do governo federal de combatê-la por meio do desestímulo ao consumo e ao crédito, já surte efeito sobre o mercado de trabalho local.
;Com certeza a expectativa inflacionária está fazendo com que se repense estratégias no setor produtivo. A elevação nos preços e nos juros reduz o consumo, e isso implica em redução da produção. Assim, tanto indústria quanto comércio são afetados por uma demanda menor. Logicamente, vai se diminuir o número de contratações;, destaca a economista Mariângela Abraão, professora do curso de administração de ampresas do Centro Universitário de Brasília (UniCeub).
Para Mariângela, a contribuição dos setores da construção civil e de prestação de serviço foi a principal responsável por manter a criação de vagas tem relação com características bastante peculiares de ambos. ;O segmento da construção vem sendo bastante beneficiado por programas do governo e será mais ainda com a Copa de 2014. O de serviços está se expandindo muito mais do que o de comércio. As pessoas veem nele um nicho para poder inovar. É mais fácil organizar, criar e empreender nessa área, que não precisa tanto capital;, avalia.
Carlos Alberto Ramos, professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), também enfatiza a política econômica como responsável pela retração na geração de empregos. Entretanto, para ele o desaquecimento é modesto.
;Houve uma diferença pequena na criação de vagas. Estamos vindo de um crescimento alto na economia ao ano passado, que não poderia se perpetuar. Necessariamente, a geração de emprego vai cair;, diz.
Na opinião de Ramos, em 2011, as oportunidades de emprego deverão ser bastante inferiores na comparação com 2010. O economista acredita que Brasília será diretamente atingida pelo fato de o governo federal ter defraudado a bandeira de redução dos gastos públicos. Estes têm um papel importante na sustentação da atividade econômica na capital federal.
Para os colegas de trabalho Josi Mendonça do Carmo, 29 anos; Luciene Lucas de Oliveira, 30; e Antônio Itamar Soares Júnior, 30; a potência que o segmento de serviços demonstra em Brasília traduziu-se em emprego novo no início deste ano.
O trio foi contratado há apenas alguns meses para integrar a equipe de um salão de beleza em um shopping da cidade. Josi e Luciene são manicures. Antônio é assistente de cabeleireiro. Todos trabalham com carteira assinada, fenômeno que, há alguns anos, era raro em empresas de estética, mas hoje está cada vez mais comum.
;Estou nesse ramo há 12 anos, mas, formalizada, só trabalhei quatro anos e meio. Acho que está havendo maior profissionalização agora;, opina Josi. Antônio e Luciene consideram a estética um dos subsetores mais pujantes do segmento de serviços. ;A gente praticamente não fica desempregado. Nunca fiquei muito tempo parado;, diz o jovem. ;As pessoas gostam de se arrumar;, opina a manicure.
No Brasil, os dados do Caged apontaram um comportamento do emprego semelhante ao verificado no DF. No primeiro trimestre de 2010, foram criadas 657.259 vagas formais em todo o território nacional. No mesmo período deste ano, o volume foi 20% menor, com 525.565 novas oportunidades.