postado em 17/05/2011 07:30
Encontrar vaga para estacionar o carro em Brasília é uma tarefa complicada, que exige paciência e jogo de cintura para negociar um espaço ou simplesmente para parar em locais proibidos. Engana-se quem pensa que o problema se restringe ao Plano Piloto. Moradores de cidades como Taguatinga e Ceilândia também têm precisado se desdobrar para garantir um lugar onde deixar os veículos.No centro de Taguatinga, as filas duplas e os ;carros soltos; lotam os estacionamentos públicos e deixam a região intransitável. O motorista que se arrisca a entrar em algum desses espaços, tem que fazer acrobacias para conseguir manobrar o carro nos vãos estreitos deixados pelos outros automóveis.
No Setor Comercial Sul (SCS), a situação é a mesma. No centro da capital, porém, até as calçadas foram invadidas por veículos, assim como os canteiros. Nem os viadutos escapam. O que liga o SCS ao Setor de Autarquias Sul vive lotado de carros, o que reduz o espaço na pista e bloqueia o trânsito na região. Os setores bancários, tanto Norte como Sul, também são áreas caóticas. ;Depois das 10h, é impossível estacionar por aqui, e olha que eu estou com uma pessoa idosa. Até as vagas especiais estão todas ocupadas e não sei se por quem de direito;, afirma o motorista particular Renato Pereira, 38 anos, que na tarde de ontem procurava uma vaga no Setor Bancário Sul.
Quem aproveita o caos são os flanelinhas. Para eles, a falta de estrutura é sinônimo de dinheiro no fim do mês. ;De manhã é o pior horário, sempre cheio. Mas essa confusão me proporciona, ao menos, uns 15 clientes fixos;, conta Douglas de Lima Lisboa, 38 anos.
Mesmo os estacionamentos particulares são raros no centro do Plano Piloto e de outras cidades. Os poucos instalados nas asas Sul e Norte custam, em média, R$ 4 a hora ou R$ 25 a diária. O Detran-DF informou, por meio da assessoria de imprensa, que não cabe ao órgão construir estacionamentos, mas fiscalizar os já existentes. Em virtude disso, os agentes do departamento vão continuar multando quem deixa o carro em locais proibidos.
Preços
Custo de vida alto
Brasília está entre as cidades mais caras do país. Gastos com alimentação, combustível, prestação de serviço e aluguel estão no limite do orçamento de boa parte dos brasilienses. Embora a inflação tenha caído de 0,86% para 0,58% no fim do mês passado, conforme pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), os moradores do DF ainda sentem no bolso os efeitos da valorização. Preços salgados assustam nos supermercados e, para não comprometer a renda, é preciso pesquisar.
O representante comercial Sérgio Antônio da Silveira (foto), 48 anos, está entre consumidores que costumam pechinchar. Morador da 202 Sul, ele evita fazer compras nos estabelecimentos próximos de casa. Por onde passa, Sérgio costuma observar as promoções. Ontem, ele estava em Ceilândia quando se deparou com uma delas: extrato de tomate a R$ 0,99. Na Asa Sul, o mesmo produto custa, segundo o representante comercial, R$ 2,09.;É um absurdo essa diferença no valor das coisas;, destaca. ;Terça é o dia de comprar verduras. Quinta, carne. Costumo pesquisar muito antes de levar os produtos;, ensina. No fim do mês, ele garante economizar aproximadamente 30%.
Segundo o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, Brasília tem a renda per capita mais elevada do país, mas apresenta os maiores índices de desigualdade social. Ele explica que o fato de a capital federal oferecer vagas nas carreiras mais nobres do funcionalismo público, por exemplo, faz as pessoas terem disposição assumir compromissos mais longos. Por esses motivos, os preços cobrados por aqui são mais altos. Além disso, ele cita outros fatores, como a especulação imobiliária. ;A ideia de que em Brasília é muito fácil conseguir dinheiro contribui para inflacionar as coisas. Infelizmente, tem muita gente que se dispõe a pagar;, explica Piscitelli.