Naira Trindade, Marco Prates
postado em 19/05/2011 07:00
O relatório da comissão de trabalho do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans-DF) e da Secretaria de Transportes, que analisa o pedido das empresas de ônibus por reajuste de tarifas, deve recomendar um aumento nos preços. A previsão é que o documento seja concluído ainda esta semana, para ser entregue ao governador Agnelo Queiroz, que chega de viagem oficial da Europa amanhã. O chefe do Executivo é quem vai tomar a decisão política de arcar ou não com o ônus do possível aumento.O índice exato ainda vai ser fechado, mas deve ficar longe dos 56% pedidos pelos empresários do setor. Técnicos avaliam que o regime atual de tarifas, sem reajuste desde 2006, torna o sistema insustentável. Apesar disso, os custos são considerados superestimados. A análise do grupo é feita a partir das planilhas enviadas em fevereiro deste ano pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Coletivos do Distrito Federal (Setransp), que são confrontadas com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) levando em conta os preços do DF. A análise considera 22 mil itens, segundo o DFTrans.
A decisão de aumentar os preços será uma prova de fogo para Agnelo Queiroz. A população não quer nem ouvir falar do assunto, por causa das más condições do transporte público da capital, com ônibus que quebram a todo o momento e estão sempre lotados. Outro medo é que um possível reajuste cause demissões.
Custos
Os preços das passagens no Distrito Federal, desconsiderando os micro-ônibus, estão inalterados há cinco anos e meio. Esse é o principal argumento das empresas para pleitear o reajuste. ;De lá para cá, os salários dos rodoviários, mais benefícios, representaram um aumento de custos de 46%, sem falar nos aumentos nos preços do diesel, de peças de reposição, de pneus e outros custos;, reclama o presidente do Setransp-DF, Wagner Canhedo Filho.
O governador não precisa acatar a recomendação da área técnica do DFTrans. Nos últimos anos, os reajustes foram evitados por meio de medidas compensatórias. Mas como nenhuma está mais em vigor, os empresários defendem um aumento imediato.
O ex-secretário de Transportes Alberto Fraga afirma que há outras saídas. ;O governo, se quiser verdadeiramente, não concede o aumento;, avalia. ;Se o GDF arcasse com todo o passe livre, por exemplo, já seria um refresco para os empresários.;
A correção das tarifas pode evitar uma greve dos rodoviários, que ameaçam paralisação no próximo mês, caso não recebam o tíquete-alimentação no valor de R$ 271. O acordo coletivo da categoria terminou em 30 de abril. O dinheiro referente a maio só foi depositado na conta dos trabalhadores depois de interferência da Secretaria de Transportes, que prometeu, na ocasião, analisar o caso dos empresários.
;Eu não posso ser hipócrita. Durante estes cinco anos, tivemos aumentos salariais sucessivos. E a folha de pagamento representa 50% do custo das empresas;, defende o presidente do sindicato dos rodoviários, João Osório. ;Ninguém gosta de reajuste, mas se o governo conceder, eu creio que ajudará nas negociações;, completa.
Prejudicados
A sinalização de um aumento, no entanto, acionou um alerta vermelho nas ruas. Trabalhadores que dependem do sistema e utilizam mais de duas conduções para chegar ao serviço temem serem substituídos por outros com residência mais próxima. É o caso da auxiliar de cozinha Lucilene Pereira do Carmo, 29 anos, moradora de Sobradinho. Funcionária de uma panificadora em Águas Claras, ela se diz preocupada. ;Enquanto meus colegas pagam R$ 4 por dia, eu gasto R$ 12. São dois bilhetes para ir, dois para voltar, e meu patrão não vai gostar de um aumento;, afirma.
O medo de demissões preocupa os empregadores. O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), Miguel Setembrino, calcula que um possível reajuste deve causar impacto negativo na receita das empresas, mas pode ser ainda mais devastador em setores mais frágeis, como o doméstico. ;É um reajuste muito elevado (o de 56% pedido pelas empresas) e pode comprometer mais da metade do salário mínimo. Os empregados que moram em locais mais distantes serão preteridos por outros mais próximos;, analisa, lembrando que o patrão é o responsável por arcar com a despesa.
Benefícios
No governo Arruda, duas compensações para aliviar a situação das empresas de ônibus foram concedidas: a isenção do ICMS do diesel e o pagamento integral, pelo GDF, do passe estudantil. Mas o benefício durou pouco: a dispensa do pagamento do imposto caiu após um semestre. Além disso, durante a gestão de Rogério Rosso, o pagamento de dois terços do passe foi transferido às empresas de coletivos.