O Varjão está em festa. A cidade de 9,7 mil habitantes, que pertencia ao Lago Norte até 2003, completa 20 anos de existência hoje. E a população poderá comemorar com uma extensa programação de shows, apresentações culturais, oficinas e atendimentos, organizada pela administração regional. Cerca de 90 meninos e meninas com garrafas pet e baquetas na mão farão, pela manhã, um desfile cívico pela cidade para celebrar a data. As crianças fazem parte do projeto Percussucata contra a dengue. Além de brincar, vão chamar a atenção dos moradores para a importância da reciclagem e o perigo da dengue. Tudo ao som do batuque.
O trabalho desenvolvido pelo professor da Escola Classe Varjão Marcelo Capucci tem o objetivo de alertar a todos para a importância da reciclagem. ;O lixo virou um sério problema ambiental. Precisamos convencer a população de que meio ambiente não é só fauna e flora;, explicou o educador, pós-graduado em educação ambiental. A iniciativa começou em 2007, com apenas 30 crianças, a quem Capucci ensinou como reaproveitar as garrafas pet. Foi quando ele teve a ideia de transformar o material em instrumentos musicais. Assim nasceu o projeto Percussucata.
O professor expandiu o projeto para outras escolas e já alcançou mais de 30 mil meninos e meninas, com disposição e eventuais ajudas de patrocínio. No ano passado, Capucci ganhou um prêmio da Associação Brasileira da Indústria do Pet (Abpet) na categoria educação ambiental. Capucci mobilizou as escolas e conseguiu arrecadar mais de duas toneladas do material, quase 50 mil objetos, para reciclagem. ;Realizamos gincanas nos colégios e chamamos a atenção da criançada para essa questão. Nosso projeto também trabalha com esse conceito de reaproveitamento;, destacou.
Além do desfile, os moradores do Varjão poderão receber atendimento do Procon móvel, instalado ao lado do posto de saúde para as comemorações dos 20 anos da cidade. Mais tarde, haverá programação especial para as crianças, com recreação e oficina de teatro. A brinquedoteca do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) também ficará aberta à comunidade. Os shows começam às 19h30 e as atrações seguem até domingo.
Lazer
Com a programação, a estudante Camila Lisboa, 17 anos, não poderá mais reclamar da falta de opções de lazer na cidade. ;Não temos um shopping ou cinema e precisamos ir até o Lago Norte. Quando quero me divertir, vou até a Asa Norte;, disse. A jovem se mudou com os pais para o Varjão há 12 anos. Eles mantêm uma padaria na cidade e compraram uma casa para ficar mais perto do local de trabalho. Durante esse tempo, ela diz já ter visto muitas mudanças na região. ;A cidade está se estruturando. De um ano para cá, melhorou muito. O posto de saúde, por exemplo, é um dos melhores do DF em questão de organização.;
Já o vendedor Luís Guilherme Martins da Silva, 28 anos, não tem nenhuma queixa a fazer do Varjão. Ele se mudou para lá há sete anos, porque casou-se e a mulher tem um lote na cidade. ;O que mais me agrada é a facilidade com que consigo me locomover. Trabalho no Plano Piloto e não costumo pegar trânsito para chegar lá.; O casal tem um filho de quatro anos e escolheu criar o menino no Varjão. ;Hoje a cidade está bastante tranquila, mas há 10 anos era perigosa. O posto de saúde funciona muito bem, meu filho toma todas as vacinas aqui. O único ponto que precisa melhorar é a educação;, apontou.
História
As primeiras ocupações no Varjão surgiram nas décadas de 1970 e 1980. Antônio Alexandrino da Silva, 101 anos, viu a cidade nascer. Natural de Arapiraca, Alagoas, ele se instalou há 30 anos na região onde hoje fica a cidade. ;Quando cheguei aqui, só havia cinco barracos, contando com o meu. Não tinha nada;, recorda. Hoje, ele anda pelas ruas e quase não reconhece a cidade que viu nascer. ;O Varjão está muito largado, não tem quem mande. Precisa de muitas melhorias na segurança e na saúde;, avalia. Atualmente, duas filhas de Antônio também moram na cidade.
Maria Aparecida Jesus Melo, 45 anos, encontrou no Varjão, além da moradia, uma forma de sustentar a família. Ela mora na cidade há mais de 20 anos e sempre trabalhou como diarista. Um dia, se cansou e decidiu montar um negócio perto de casa. Abriu um salão de beleza. ;Gosto muito das pessoas, da minha casa, sem contar que a clientela é muito boa.; Ela diz que não precisa sair do Varjão para comprar nada. ;Aqui a gente encontra tudo, apesar de o preço ser um pouco mais salgado. Mas sempre há o que melhorar, como segurança, saúde e educação.;