Roberta Machado
postado em 20/05/2011 07:14
Há 20 anos, o pesquisador Marcelo Araújo Bagno explorou os mais de 10 mil hectares da Estação Ecológica de Águas Emendadas (Esec-AE) com o objetivo de catalogar as aves que habitam a área protegida. Em uma década de trabalho, ele registrou 307 espécies, formando o que é, até hoje, o arquivo mais confiável sobre os pássaros da região. Dez anos depois de encerrada sua pesquisa, oito fotógrafos retornam à mata com a missão de capturar imagens de todas as aves apontadas por Bagno. A responsabilidade do grupo é ainda maior, devido ao prazo estipulado para a tarefa: eles têm apenas um ano para encontrar e clicar machos, fêmeas, ninhos e filhotes de cada espécie.
Para os fotógrafos, o tempo destinado a esse desafio não é atribuição profissional nem passatempo. As oito pessoas por trás das lentes são voluntárias que dividem seu tempo entre o trabalho, a família e a observação de aves. Elas encaram a atividade como uma forma de contribuir com a preservação da fauna local. O ideal foi colocado em prática com a formação do projeto Oito fotógrafos e um destino: Águas Emendadas, iniciativa para formar um banco de imagens definitivo das aves naturais do parque ecológico que sofrem com a ameaça de extinção causada pelas queimadas e pelo desenvolvimento urbano sem controle. Todas as fotos serão doadas a programas educativos e campanhas de conservação ambiental promovidas pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
A rotina desses caçadores de imagens geralmente começa às 6h. Eles chegam ao parque com câmeras em punho, prontos para clicar os pássaros madrugadores. Mas o grupo não tem horário certo para entrar ou sair da mata. O roteiro escolhido depende sempre dos hábitos dos bichos, que podem ser encontrados de dia, à noite, em clareiras ou na mata fechada. Para acompanhar a rotina dos pássaros mais tímidos, o grupo ainda planeja passeios de barco pelo lago da estação e pernoites no alojamento do parque.
Trabalho árduo
Em quatro meses de trabalho, o projeto chegou à metade do objetivo. Desde janeiro, foram 154 tipos de aves registradas. Mas, à medida que eles aumentam o acervo de imagens, fica mais difícil encontrar modelos inéditos para fotografar. Se no início do ano cada ave era novidade, hoje os fotógrafos precisam passar um tempo maior atrás das espécies mais raras. ;Uma vez, eu ouvi o canto de um pássaro e toquei uma gravação para chamá-lo. Ele respondeu, mas não apareceu. Fiquei uma hora conversando com ele desse jeito, mas não consegui a foto;, lamenta o empresário Rodrigo D;Alessandro, 35 anos. O objetivo inicial era dedicar 10 horas mensais ao projeto, mas o cronograma sempre é superado.
Essa fase de dificuldades era esperada pelo grupo. Mesmo diante de situações de frustração, o time não desanima. Eles continuam a retornar à mata, onde passam horas a fio sob a camuflagem natural, esperando a paciência dar frutos. Mas a reserva não é o único lugar onde os fotógrafos se dedicam ao projeto. Ultimamente, eles passam cada vez menos tempo sob as árvores e mais tempo sobre os livros, estudando os hábitos de cada animal cobiçado. ;Nossa principal ferramenta de trabalho é a internet. Fazemos muitas pesquisas para entender mais dos pássaros;, explicou Evando Lopes, 44 anos, servidor da Esec-AE e membro do grupo.
Mas o time apaixonado pela observação de pássaros garante que a missão vale a pena. Ao multiplicar o fruto das horas de trabalho, os oito fotógrafos esperam partilhar também a paixão que sentem pela observação de pássaros. ;Na pressa, as pessoas olham para as coisas, mas não veem. A partir do momento em que você para e observa, o mundo é outro;, descreve o empresário Tancredo Maia, 64 anos. Ele explica que, ao ensinar o brasiliense a abrir os olhos para os animais ao seu redor, eles esperam despertar a sensação de pertencimento da comunidade em relação à natureza e colaborar para a preservação do habitat que tanto amam. ;Ao conhecer melhor o animal, cada um de nós passa a ter responsabilidade com o bem-estar do planeta;, ensina.