postado em 20/05/2011 08:11
Está cada vez mais raro ver desocupados os canteiros entre o Congresso Nacional e a Rodoviária do Plano Piloto, na Esplanada dos Ministérios. Os gramados têm sido requisitados para eventos com tamanha frequência que o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) estuda meios para restringir a ocupação do espaço. A ideia é transferir a demanda, de cunho principalmente cultural e esportivo, para a região da Torre de TV. O superintendente do instituto no DF, Alfredo Gastal, quer conversar com o Governo do Distrito Federal para criar facilidades de acesso e transporte à região. Não estariam sujeitos à restrição eventos em comemorações a datas cívicas, como o 7 de Setembro, e o aniversário de Brasília, ou manifestações populares.No entendimento do instituto, o uso dos amplos espaços da região ministerial tem sido banalizado. ;A Esplanada, nestes dois últimos meses, passou a ter uma demanda enlouquecida. Todos os canteiros estão ocupados. O que está chamando mais atenção é esse [evento]das motos, que está construindo um verdadeiro Everest no meio da Esplanada;, critica Alfredo Gastal. Ele se refere aos preparativos para um evento de motocross, que requer grandes morros de terra para a apresentação das acrobacias.
O volume e a variedade de eventos sediados na região que concentra o maior número de atrações turísticas da capital incomodam o órgão responsável pela preservação da área da capital da República considerada Patrimônio Histórico da Humanidade. ;Desvirtua o conceito da Esplanada, que tem uma visão mais cerimonial da cidade. Não se pode banalizar aquele espaço. Do jeito que vai, daqui a pouco tem rinha de galo ou corrida de porcos;, diz Gastal. Ele garante, no entanto, que acontecimentos como a Feira Nacional de Ciência e Tecnologia, continuariam a ocorrer ali devido à relevância pública. A utilização dos gramados para qualquer fim depende da autorização do Iphan e da concessão de alvará por parte da Administração de Brasília. O órgão do GDF informou que desde o início do ano não expede o documento para shows e que fixou critérios mais rígidos para novas permissões.
A pretensão é transferir boa parte da demanda para os arredores da Torre de TV e do Centro de Convenções. Em comparação com a área ministerial, a principal desvantagem da região é o acesso. ;O pessoal chega de ônibus e o acesso mais rápido é a Esplanada. Para o outro lado, há a rampa para chegar ao lado da Torre de TV. Há um certo empecilho;, reconhece Gastal. A solução para o problema viria da Secretaria de Transporte, a quem será proposta a criação de uma linha circular, a princípio gratuita, entre a Rodoviária e a Torre durante o fim de semana.
Falta de estrutura
Se a polêmica sobre o uso da Esplanada é antiga (veja memória), também é a reclamação de produtores de eventos em Brasília sobre a falta de estruturas para receber grandes espetáculos. ;O fato de acontecerem vários eventos na Esplanada é retrato de uma carência absoluta de áreas de eventos na cidade. É sempre um improviso. É a cara do Brasil. O primeiro equipamento vai ser o estádio para a Copa do Mundo de 2014. Disseram que ele será uma arena multiuso;, explica Gustavo Sá, coordenador do Porão do Rock, tradicional festival de música de Brasília. O Porão foi realizado na Esplanada em 2009, no início das comemorações do cinquentenário de Brasília.
Sá, no entanto, concorda com a iniciativa de apertar o cerco. ;Entendo o Iphan. Acho que a Esplanada está sendo usada mais do que deveria. Qualquer coisa é motivo para montar algo ali, mas isso é retrato da falta de estrutura. São 30 anos de ausência de políticas públicas nessa área;, diz. Segundo ele, em termos estruturais, organizar um show no gramado ministerial ou próximo à Torre de TV oferece as mesmas condições. ;Para mim não muda nada, só é mais bonito fazer o evento lá embaixo.;