Luiz Calcagno
postado em 21/05/2011 08:00
Mesmo após a prisão do trio que matou o motorista José Iran Franco de Oliveira, 49 anos, em uma tentativa de assalto a uma residência no Lago Sul, a segurança do bairro continua ameaçada. Outros seis integrantes do bando, todos com menos de 18 anos, estão soltos.Os adolescentes, entre eles o segundo no comando do grupo, têm residência fixa em São Sebastião e a polícia já os identificou. Como não foram pegos em flagrante, vão continuar em liberdade, ainda que tenham antecedentes criminais.
Quem afirma é o titular da 10; Delegacia de Polícia (Lago Sul), Adval Cardoso. ;Nós estamos monitorando todo mundo, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) protege esses jovens;, explica.
Adval admite que sabia do risco de a onda de assaltos a residências do bando terminar em morte. Segundo o delegado, a 10; DP já investigava o grupo e, nas últimas duas semanas, destacou agentes velados para intensificar as buscas. ; O fato é que, se eles tivessem mais de 18 anos, estariam todos presos e isso não teria acontecido. Nós já estávamos à procura deles, mas, infelizmente, não os pegamos. É uma morte anunciada. Sabemos que alguma hora alguém vai reagir ao assalto. Os assaltantes não agem com a intenção de matar, mas estão prontos para tudo. E quando isso acontece, o resultado é esse. Eles mesmos disseram que não tinham a intenção de matar o José Iran;, lamenta.
Para o delegado, é questão de tempo até que os remanescentes voltem a agir. Embora o bando esteja reduzido, desarmado e sem o líder, Adval acredita que em algum momento eles devem atacar novamente. No entanto, a repercussão da morte de José Iran também deve frear as ações da quadrilha por alguns meses. ;Eles devem se acalmar com esse fato grave. O líder participava de todos os roubos a residência, enquanto os outros se revezavam. Agora, ele está preso. Mas é certo que, uma hora ou outra, eles vão ter um sentimento de impunidade e vão se sentir à vontade para entrar em ação. Mas nós vamos acompanhá-los de perto todo esse tempo para evitar que algo pior aconteça;, garante Adval.
Assaltos
O bando já tinha invadido pelo menos sete residências no Lago Sul. Eram sempre três integrantes armados que aguardavam na porta da casa escolhida. Agiam pela manhã. Quando um morador ou empregado entrava ou saía do local, era feito refém. Eles invadiam, prendiam todos em um quarto ou banheiro, colocavam pertences e dinheiro roubados no carro das vítimas e fugiam. Depois abandonavam o veículo. No último roubo, porém, os jovens estavam com apenas um revólver. As outras duas armas foram apreendidas por policiais militares em São Sebastião.
Os integrantes da quadrilha flagrados com as armas foram encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), mas acabaram soltos após parentes assinarem um termo de responsabilidade por eles. Para Adval, a superlotação dos centros de internação juvenis do DF colabora com a impunidade. ;O roubo em si é um crime grave, mas com os centros lotados, sem ter onde colocar os adolescentes, o juiz acaba tendo que escolher quem ele vai prender. Vai escolher aquele que matou. Então, nesse caso, eles continuaram soltos até que mataram o motorista;, aponta.
Medo
A violência leva a população da cidade a investir em segurança privada. Diante dos constantes episódios de roubos, a vizinhança do Conjunto 3 da QI 15 decidiu construir uma guarita na entrada da rua há sete anos. Os vigilantes ficam 24 horas em alerta. Ao perceberem qualquer movimentação fora do usual, entram em contato com a polícia. O presidente da associação de moradores do local, o arquiteto Antônio Carlos Moraes de Castro, 70 anos, afirma que a iniciativa proporcionou a sensação de mais conforto à comunidade. ;Mas não significa que estamos livres de todos os riscos. O Lago Sul é habitado por diplomatas, empresários, ministros e acaba sendo visado pelos criminosos;, afirma.
O medo se espalha pelas áreas comerciais. A empresária Marcela Andrade, 29 anos, administra um salão de beleza em um edifício de lojas da QI 11. O estabelecimento passa a maior parte do dia frequentado por mulheres, de funcionárias a clientes. ;Quando escurece, o estacionamento enche de vigias de carros.
Muitos deles em atitude suspeita, fazendo bagunça. É difícil ver policiais passando;, conta. Marcela acrescenta que tem estudado com os sócios a possibilidade de instalar câmeras de monitoramento no local por conta do intenso movimento.
Pena branda
Os dois adolescentes, de 15 e 17 anos, embora tenham cometido latrocínio (roubo com morte), um dos crimes mais graves do Código Penal brasileiro, passarão, no máximo, três anos na cadeia. Fernando Rodrigues Vieira, que já tem 18 anos, pode pegar até 30 anos de prisão.
Balanço semestral
De janeiro a julho de 2010, a 10; DP registrou 11 roubos a residência no Lago Sul, mais de um por mês. Neste ano, faltando apenas um mês para fechar o semestre, o número de casos na 10; DP é de, pelo menos, nove, sendo que os integrantes da quadrilha foram autores de sete.