Marco Prates
postado em 21/05/2011 08:00
Enquanto a população sente que os índices de violência não param de crescer no Distrito Federal, um mercado prospera: o da segurança privada. Vigilantes armados, cercas elétricas, câmeras e sensores de presença são cada vez mais comuns em residências e comércios da capital. O número de pessoas habilitadas a exercerem a função de vigilante teve um salto de 72% em três anos, passando de 64 mil em 2008 para mais de 111 mil hoje, de acordo com dados do Sistema Nacional de Segurança e Vigilância Privada da Polícia Federal. Nas ruas, há hoje cerca de 18 mil em atividade ; de forma legalizada, contratados por 57 empresas de segurança. Em relação a 2007, quando eram cerca de 13,5 mil, o crescimento chega a 33%.Quatro desses vigilantes se revezam em turnos na entrada de um conjunto da QI 21 do Lago Sul. Os moradores decidiram colocar uma guarita depois que a casa da administradora de empresas Rosângela Meneghetti, 54 anos, foi assaltada, em 2000. Cinco bandidos entraram na residência às 7h20. Aproveitaram a abertura do portão, no momento em que o motorista da família entrava após ter deixado a filha de Rosângela na escola. Ela; o marido, Marco Aurélio Meneghetti; o motorista, além da empregada e de uma cozinheira, ficaram sob a mira de pistolas. ;Como eles mostraram o rosto, ficamos com muito medo que nos eliminassem no final;, relembra.
Mesmo com os vigilantes da guarita ; cujo custo de R$ 10 mil mensais é repartido pelos 25 moradores ;, Rosângela e o marido decidiram colocar cerca elétrica na casa após o ocorrido. O vizinho dela, o presidente do Conselho de Segurança Comunitária do Lago Sul, Marco Aurélio Abranches, 66 anos, também investiu em proteção. O advogado instalou em casa 16 câmeras fixas, além de quatro sensores de presença ligados a um alarme central. As imagens das câmeras são gravadas por 2 meses no computador. Custo: R$ 8 mil, em 2007. ;Não quer dizer que estamos seguros. Mas o ladrão busca facilidade. Se temos isso, ele provavelmente vai assaltar um local que não tem;, acredita.
Moradores como Rosângela e Marco Abranches ajudam a movimentar um mercado anual de R$ 1,5 bilhão no DF, segundo estimativa mais recente, de 2005, do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do DF (Sindesp-DF). O valor inclui gasto com o mercado clandestino de vigilância, cujas pessoas não têm autorização para atuar como prestadores do serviço. Reajustado pela inflação, são pelo menos R$ 2,1 bilhões. O montante corresponde a quase 30% do dinheiro reservado pelo GDF no orçamento deste ano para segurança pública da capital.
O presidente do Sindesp-DF, Irenaldo Lima, comemora a boa situação do mercado. ;Minha empresa tem 16 anos. No ano passado, nos meses de férias, monitoramos 82 casas. Este ano, já são 118 reservadas para junho e julho;, afirma. Para Antônio Flávio Testa, especialista em segurança pública da Universidade de Brasília, o poder aquisitivo elevado dos brasilienses em relação à média do país ajuda a explicar o boom do setor. ;Com a renda um pouco maior, o povo investe em segurança. Quem tem dinheiro investe sempre onde não há ação do Estado;, afirma.