postado em 23/05/2011 06:44
A comemoração dos 25 anos da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace) reuniu, ontem, cerca de 2 mil pessoas no Eixão do lazer, segundo dados da Polícia Militar. Em uma marcha contra o câncer, colaboradores, pais e crianças em tratamento saíram da 104 Sul, às 9h, e chegaram à 104 Norte por volta das 11h30 em um caminhada animada. Com carros de som, trenzinho e diversão para as crianças, todos exaltaram um bem maior que a associação trouxe os portadores da doença: a humanização.Com um modo diferenciado de trabalhar a cura, uma casa de apoio para que as crianças carentes e de outros estados possam se tratar por dois anos, a Abrace conseguiu reduzir para zero o número de desistências no tratamento. ;Antes, 28% das pessoas que iniciavam o processo de cura desistiam por não ter condições financeiras de continuar. Hoje, temos uma casa para recebê-las e impedir que isso ocorra;, diz a presidente da entidade, Ilda Peliz. Segundo ela, o trabalho feito no DF com pessoas com menos de um até 18 anos contribuiu para o aumento do índice de cura de 50% para 70%.
Esse índice pode aumentar com a inauguração do Hospital do Câncer Infantil. Com todas as instalações prontas, falta apenas assinar o contrato de gestão para que cerca de 315 mil atendimentos ambulatoriais mensais sejam realizados. O tratamento será exclusivo para crianças e adolescentes que necessitem de quimioterapia, além de hemodiálise, raios X, exames clínicos, fisioterapia e outros. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, participou da caminhada e garantiu: ;Até junho ele estará funcionando. Nada melhor do que aliar os 25 anos da Abrace com uma conquista como esta;. O governador lembra que a instituição será chamada de Hospital da Criança José Alencar, em homenagem ao ex-vice presidente da República, que morreu em março, após uma longa luta contra a doença.
De acordo com o chefe do Executivo local, o objetivo é que o estabelecimento seja um centro de referência internacional para o tratamento de câncer e outras patologias. ;Tudo será concretizado com uma gestão compartilhada. Teremos os melhores médicos, os profissionais mais bem qualificados atuando no local. A intenção é que o GDF entre com a parte médica e a Abrace faça a parte administrativa;, explica Agnelo Queiroz. ;Um tratamento de qualidade para as crianças, em um local feito somente para elas, projetado com carinho, atenção e equipamentos de primeira é apenas o primeiro capítulo de todos os benefícios que queremos concretizar no DF;, acrescenta o governador.
Evoluções
Um dos fundadores da ONG, Roberto Nogueira Ferreira, 64 anos, contou que toda a história da associação começou quando, há 25 anos, ele descobriu que a filha, Joanna Marini, tinha leucemia. ;Me uni com três casais que tinham filhos com a mesma doença e começamos a tentar fazer diferente. Nesse momento difícil, o que mais conta é o apoio, o ambiente saudável. Isso faz toda a diferença;, diz Ferreira. Ele lembra que a redução do preconceito também foi uma vitória desses últimos anos de luta. ;Antes quem tinha câncer era desacreditado. As pessoas discriminavam e, hoje, isso não acontece mais;, afirma.
Prova disso, é o depoimento da filha do fundador, Joanna. Curada da leucemia e com uma vida normal, ela usa a história que viveu para incentivar pacientes com a mesma patologia. ;Quem se cura volta a ter uma vida normal com tantas chances quanto as das pessoas que nunca tiveram nenhuma doença;, garante Joanna Marini, 30 anos. Para ela, a inauguração do hospital vai mudar a perspectiva das famílias que lutam pela cura. ;Fui tratada no Hospital de Base entre os cinco e os 10 anos. Vi muita coisa que crianças não precisam ver, pessoas doentes de todas as idades. Fiquei um pouco traumatizada;, lamenta.
Para chegar à evolução de humanizar ambientes, dar carinho e conforto nesse momento, a Abrace conta exclusivamente com o apoio da sociedade. Por isso, integrantes da comemoração fizeram um apelo. ;Temos o apoio de todos os brasilienses. A população daqui é muito solidária. Precisamos continuar assim;, apela Ilda Peliz. Somente na caminhada de ontem cada participante trocou dois quilos de alimentos não perecíveis por uma Pcamiseta da associação, o que deve render cerca de 6 mil quilos de alimentos, pois muitos compraram a camiseta e não foram à caminhada.