Cidades

Polícia diz que provável causa do acidente foi uma fissura e superlotação

Naira Trindade, Renato Alves
postado em 25/05/2011 08:00

A linha de investigação da Polícia Civil se baseia, além dos depoimentos dos sobreviventes, em informações passadas por peritos e bombeiros  envolvidos nas buscas no Lago ParanoáSuperlotação, falta de manutenção, falhas mecânicas, elétricas e dos operadores da embarcação, negligência com o esquema de segurança para os passageiros e os tripulantes do Imagination. O conjunto de fatores provocou a tragédia do último domingo. A linha de investigação da Polícia Civil se baseia em depoimentos de alguns dos 93 sobreviventes e nas informações colhidas pelos peritos no fundo do Lago Paranoá, onde está o barco. Até o começo da noite de ontem, quando suspenderam as buscas por falta de luminosidade, bombeiros haviam resgatado sete corpos. Com o bebê de sete meses que não resistiu logo após o acidente, subiu para oito o número de mortos. Os militares retomam hoje as buscas com a certeza de que há pelo menos mais uma vítima.

Responsável pelas investigações do naufrágio, o delegado Adval Cardoso, chefe da 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul, afirmou que o excesso de gente teria agravado um problema existente na embarcação. ;Trabalhamos com a suposição de uma pequena avaria no barco. O aumento da rachadura pode ter se agravado pelo sobrepeso;, explicou.

Na segunda-feira, bombeiros e peritos da Polícia Civil identificaram uma rachadura em um dos tubulões na parte debaixo do Imagination. As estruturas cilíndricas e ocas ajudam na flutuação desse modelo de barco, parecido com uma balsa. Autorizado pela Marinha a transportar no máximo 92 pessoas, ele carregava pelo menos 102 no momento da tragédia, segundo o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil. Ainda não há uma lista com o nome de todos os ocupantes. O passeio foi organizado por um bufê do Recanto das Emas e reuniu funcionários, familiares e amigos.

Entre tantas suspeitas ainda não confirmadas, os investigadores descartaram a hipótese da colisão do Imagination com uma lancha (leia quadro). ;Encontramos e periciamos a lancha. Não há sinal de batida nela, nem mesmo um arranhão. Caso tivesse colidido, haveria marcas, pois era menor que a outra e feita de um material muito sensível;, contou Adval Cardoso. Para o delegado, os ocupantes da lancha são ;verdadeiros heróis;, pois ajudaram a socorrer as vítimas do barco.

Cardoso também disse haver sinais de negligência com o esquema de segurança da embarcação. Testemunhas contaram em depoimentos prestados ontem e segunda-feira que havia coletes no barco, mas muitos passageiros e tripulantes não sabiam usar os salva-vidas.

;Algumas vítimas relatam que não conseguiram pegar o equipamento e que houve falta de orientação;, revelou o delegado. O inquérito da 10;DP deve culminar no indiciamento dos responsáveis pelo Imagination por homicídio culposo (sem intenção de matar), mas a conclusão depende das provas e das perícias, de acordo com o chefe da delegacia do Lago Sul.

Problemas
O eletricista Hilton Carlos Soares Gomes, 34 anos, foi uma das 12 testemunhas a prestar depoimento ontem na 10;DP. Ele era um dos convidados da festa realizada no domingo no Imagination. Também estava no barco no sábado, mas como barman. Trabalhou em dois passeios, à tarde e à noite. E, segundo Hilton, a embarcação apresentava problemas no dia anterior à tragédia.

A testemunha contou a Cardoso que, na primeira festa de sábado, das 14h às 19h, não percebeu anormalidade alguma. Mas, na segunda comemoração, prevista para ocorrer das 19h às 2h de domingo, notou três picos de energia. ;Cada um durou em média três segundos. Senti que o motor falhou nesses períodos;, lembrou. Hilton disse ter perguntado ao piloto o que havia acontecido. ;Ele respondeu que a embarcação estava apresentando problemas e estava preocupado.;

O eletricista recebeu uma ligação no domingo para, desta vez, participar de uma festa no mesmo barco, mas como convidado. O ingresso custava R$ 60. Ele levou a mulher, a recepcionista Luciane de Santana Peres, 39 anos, e o filho, Sthefano Bruno Santana Ribeiro, 20. Como outras testemunhas, o eletricista contou que houve outros dois picos de energia durante o passeio. ;O primeiro durou uns três segundos, e o segundo, em torno de cinco a 10 segundos. Depois, o barco começou a afundar;, relatou.

Segundo Cardoso, ainda no primeiro apagão, o piloto do Imagination, Airton Carvalho da Silva Maciel, 28 anos, desceu na casa de máquinas e identificou que a bomba estava desligada. Ele ativou o equipamento e voltou ao comando do veículo. Minutos depois, houve novo apagão. O comandante voltou ao local, mas a bomba estava tomada por água. Diante da situação, ele pediu pelo sistema de alto falante da embarcação que os passageiros fossem para a frente do barco. Em seguida, houve o naufrágio.

Apuração

O que a polícia sabe até agora sobre o acidente.

Certezas
; Bombeiros e peritos da Polícia Civil encontraram rachaduras nos tubulões que sustentam a embarcação.

; O barco tinha capacidade para 92 pessoas, segundo a Marinha, e carregava mais de 100, de acordo com a polícia. Portanto, estava superlotado.

; Houve duas panes elétricas no Imagination durante pouco mais de uma hora e meia de passeio.

; Investigadores da Polícia Civil descartaram a colisão da embarcação com uma lancha. Não há qualquer sinal de batida no veículo menor.

Dúvidas

; Resta saber se a avaria no fundo do Imagination foi provocada antes, durante ou depois do início do trágico passeio.

; Passageiros afirmam que não existiam coletes salva-vidas para todos. O comandante garante que havia 110 equipamentos de segurança.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação