Cidades

Prestadores de serviço do Imagination relatam que problemas eram comuns

Renato Alves, Naira Trindade
postado em 26/05/2011 07:10

Perigo e irresponsabilidade no Paranoá: DJ que trabalhava no Imagination disse que a maioria dos coletes salva-vidas ficava escondida no barco
Panes elétricas e alagamentos na parte debaixo do barco naufragado no domingo se revelavam corriqueiros. A informação partiu da dona do bufê organizador da fatídica festa realizada no Imagination e de dois DJs que animavam eventos na embarcação havia dois anos. A mulher falou das falhas aos investigadores da tragédia no Lago Paranoá. Já os rapazes responsáveis pela sonorização foram localizados pelo Correio no Gama e ainda não prestaram depoimento à polícia.

Policiais acreditam que o acidente ocorreu de uma combinação de fatores, como superlotação, falta de manutenção, falhas dos operadores da embarcação e negligência com o esquema de segurança para os ocupantes. Até a noite de ontem, os bombeiros haviam resgatado sete corpos no Lago Paranoá. Com o bebê que não resistiu logo após o acidente, subiu para oito o número de mortos. Os militares trabalham com a hipótese de haver mais um corpo em meio aos restos do Imagination, a 18m de profundidade.

A linha de investigação dos agentes da 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul, se sustenta no fato de os peritos mergulhadores terem identificado uma rachadura nos tubos de flutuação do barco e em depoimentos como o de Vanda Cristina Pereira, 25 anos, dona do bufê que realizou a festa na noite de domingo. Em interrogatório ontem, ela confirmou a informação dita por outras testemunhas, que o barco apresentava problemas antes do naufrágio.

Vanda Pereira trabalhou em uma festa no Imagination para funcionários da Embaixada da Nigéria, no último dia 18, e em um evento da Embaixada dos Estados Unidos, no dia 19. Ela ressaltou que na festa africana houve um pico de energia elétrica e na norte-americana, dois. A empresária contou que os convidados dos Estados Unidos ficaram preocupados com os apagões. Para tranquilizá-los, o piloto disse, segundo ela, que era algo simples, pois o gerador teria parado de funcionar temporariamente.

De acordo com Vanda, as quedas de energia ocorriam em quase todos os eventos realizados no Imagination, por isso ela não entrou em pânico quando faltou luz no barco na noite de domingo, no início do naufrágio. A mulher havia sido contratada para servir comida e bebida diversas vezes na embarcação. Ela afirmou na 10; DP que, desde o acidente, está tentando entrar em contato com os donos do barco, sem sucesso.

Água no motor
Como Vanda Pereira, DJs que trabalhavam no Imagination havia mais tempo afirmaram ao Correio que as panes elétricas na embarcação eram comuns. Também era rotina entrar água nos tubulões e até no motor. ;Já tive que deixar o som para ajudar o comandante a resolver problemas;, revela um deles, que costumava tocar no barco pelo menos uma vez por semana.

O DJ, que prefere não se identificar, conta ainda que a maioria dos coletes salva-vidas do Imagination ficava escondida. ;Deixavam apenas cinco no piso inferior e cinco no piso superior. O restante ficava em um quartinho com acesso restrito aos funcionários. E ninguém, nenhum passageiro ou tripulante, usava o equipamento;, disse ele, que animava festas no barco havia quase dois anos. ;Já toquei em muita festa de embaixada, de tribunal e até da Presidência da República. Imagine se isso (naufrágio) ocorresse com essa gente a bordo?;, questiona.

Três pessoas serão indiciadas
Uma hora antes de naufragar, o Imagination tinha água no motor. A afirmação da auxiliar de cozinha da embarcação Dilaiane de Assis Bueno, 22 anos, aponta que havia problemas no barco. O depoimento da moradora do Recanto das Emas somou-se a outros 24 prestados ontem ao delegado-chefe da 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul, Adval Cardoso de Matos. Cauteloso, ele preferiu não comentar as versões relatadas. ;Não posso adiantar nada sobre o teor de depoimentos que interessam para as investigações. Mas não dá para descartar que houve negligência. Tudo caminha para o indiciamento culposo de três responsáveis;, ressaltou, sem informar nomes.

No depoimento, a auxiliar na cozinha ; que trabalha como servente em uma escola ; relatou que o piloto do Imagination, Airton da Silva Maciel, ficou nervoso após ver o motor coberto de água. ;Meia hora depois de embarcarmos, o comandante desceu até a cozinha, onde fica o motor. A casa de máquinas fica embaixo da pia da cozinha. Ele destampou e desceu. A água espirrava em toda a cozinha. Ele pegou um saco de lixo para tentar contê-la. O motor estava todo alagado. O comandante, então, colocou uma bomba com uma mangueira para jorrar a água para fora do barco e tampou a pia. Depois, ele descia a cada 10, 15 minutos para olhar se a água estava abaixando, mas não estava. E ele começou a ficar tenso, nervoso;, descreveu Dilaiane. ;Desse momento em diante, me mantive sempre próxima da porta da cozinha. Estava com pressentimento ruim. Esperava que algo fosse acontecer.;

Advogado dos proprietários do bufê que organizou a festa, Pedro Pereira alegou que os clientes receberam a informação sobre o problema somente quando a embarcação começou a afundar. ;Não podemos falar sobre os depoimentos para não induzir outras pessoas que ainda virão depor a trazer informações que possam distorcer o inquérito;, argumentou.

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