postado em 26/05/2011 11:48
A rede pública de Saúde do Distrito Federal já lida há algum tempo com a falta de anestesistas para suprir a realização de cirurgias nos hospitais públicos da cidade. Atualmente são 245 profissionais nessa especialidade para mais de 11 mil cirurgias de grande porte que ainda precisam ser feitas em todo o DF, como informa a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde. Existem poucos profissionais no quadro, o que prejudica a realização das cirurgias em espera. O problema já foi denunciado em reportagens de 2010 do Correio Braziliense.Desta vez, a prejudicada foi Gerliane Soares de Sousa, 27 anos. Ela foi atropelada na segunda-feira (23/5) em uma faixa de pedestre do Sudoeste. Gerliane fraturou a perna em dois pontos e necessita de uma cirurgia. Desde o dia do acidente, a jovem aguarda na ortopedia do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) pelo procedimento que, segundo o chefe dela, Alex Peral, ainda não aconteceu. De acordo com ele, a unidade alegou que não havia anestesistas. "Ela está com a perna fraturada e sem condições de locomoção há quatro dias. É um descaso", lamenta.
Segundo a assessoria de imprensa do HBDF, existem anestesistas no quadro, no entanto, a quantidade de profissionais não é suficiente para suprir a demanda das cirurgias na unidade. Em relação ao caso de Gerliane, a assessoria informou que, devido aos poucos anestesistas que o hospital conta, são atendidos primeiro os casos em que os pacientes correm risco de morte para depois seguir para os outros casos.
Apesar dos problemas, a Secretaria de Saúde informou que no início deste ano a rede pública de Saúde tinha 15 mil cirurgias de grande porte na fila de espera. Até o mês de maio, o número foi reduzido para 11 mil.
Demanda
A Secretaria de Saúde também informou que de modo geral esse é um problema nas redes públicas de todo o Brasil. Segundo a assessoria do órgão, em média, um anestesista da rede privada ganha de R$ 15 a R$ 20 mil para realizar os procedimentos em cirurgias. Já na rede pública o salário varia entre R$ 7 e R$ 8 mil, o que acaba fazendo com o que esses especialistas migrem para os hospitais particulares.
Outro problema apontado pelo órgão é que existem poucos profissionais especializados na área no próprio mercado, por ser uma especialidade que demanda tempo e riscos. Um anestesista precisa acompanhar desde o início da cirurgia até a finalização da anestesia, que pode durar até quatro horas.
Mesmo assim, a secretaria explica que vem tentando transformar as condições de trabalho da rede pública para virarem mais atrativas para os profissionais. Só neste ano, mais de 1,8 mil profissionais foram empossados em diversas áreas dos hospitais. Hoje foram 415 novos servidores nomeados para atuar nas unidades de saúde. Também está previsto um concurso que, entre as vagas, terá a especialidade de anestesia.
Memória
[SAIBAMAIS]Em 2010, a babá Dailene Alves Ferreira, com 21 anos na época, perdeu parte dos movimentos da mão esquerda. Ela sofreu um acidente doméstico e cortou o braço com o vidro de uma porta. Resultado: a jovem teve rompimento de tendões. Levada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), ela poderia ter deixado a internação no dia seguinte, caso fosse operada na emergência. Mas, por falta de anestesista, Dailene ficou no HRT por 28 dias até conseguir fazer a cirurgia ortopédica.