postado em 27/05/2011 07:34
Marcado para ocorrer em 8 de junho, o julgamento da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) poderá ser influenciado pelas mudanças no Regimento do Conselho de Ética da Câmara. O Projeto de Resolução n; 137/2004, aprovado na manhã de ontem pelo plenário, institui, entre outras coisas, a gradação da sanção aplicada aos parlamentares. Com isso, na prática, em vez de ser punida com a cassação, Jaqueline poderia receber pena mais branda, como suspensão ou advertência. Mas o entendimento dos conselheiros é de que alteração não será aplicada no caso da deputada do Distrito Federal. Hoje, os advogados da parlamentar entregarão a defesa complementar e abrirão mão do período regimental de cinco sessões ordinárias. Além disso, eles não apresentarão novas testemunhas, ao contrário do que afirmaram anteriormente.O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PDT-BA), trabalhou pela aprovação do projeto ; que tem aplicação imediata ; e comemorou a decisão do plenário, mas ele não acredita que a nova redação alterará o resultado do processo administrativo de Jaqueline. ;É um avanço muito grande e vale para esse caso. Ela não tem como se beneficiar de nada porque o relatório do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) está pronto;, avaliou. Segundo ele, a alteração principal permitirá punir deputados que cometem infrações mais leves e não merecem a cassação, o que deverá diminuir a impunidade na Casa.
Opinião similar tem o relator. ;Longe de abrandar a punição de parlamentares, ao contrário, essa lei vai permitir o enquadramento de diversos casos;, afirma Sampaio. No processo de Jaqueline, o deputado acredita que essa discussão estará fora do foco dos conselheiros. Segundo o tucano, o principal debate será se a Câmara pode ou não julgar ato cometido antes do mandato parlamentar. Jaqueline Roriz corre o risco de ser cassada por ter aparecido em vídeo ao lado do marido, Manoel Neto, recebendo um maço de dinheiro de origem supostamente ilícita do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. As imagens são de 2006 e, segundo a deputada, os recursos teriam sido usados na campanha para a Câmara Legislativa, mas não foram contabilizados na prestação de contas eleitoral.
No conselho, o trio de peemedebistas formado pelos deputados Mauro Lopes (MG), Wladimir Costa (PA) e Édio Lopes (RR) já demonstrou ser favorável à causa de Jaqueline. Segundo eles, atos cometidos antes de o parlamentar assumir o mandato não podem ser avaliados pelo órgão. Nos bastidores, espera-se que eles apresentem um relatório em separado para absolver a deputada, caso o relator decida pela condenação. Mesmo assim, o voto do trio deverá se basear na falta de prerrogativa do colegiado e não deverá apresentar a proposta de redução da pena.
Defesa
A apresentação do relatório de Carlos Sampaio estava inicialmente prevista para a última quarta-feira, mas foi prorrogada por conta dos novos prazos abertos à defesa. Agora, a nova data foi definida a partir de pedido apresentado pelos defensores de Jaqueline Roriz. ;Achei razoável aguardar esse período, até porque os advogados voltaram a demonstrar que não querem protelar o processo;, afirma o relator.
Nesse sentido, o advogado Rodrigo Alencastro, um dos defensores da deputada, alegou que a equipe jurídica sempre prezou pela celeridade do procedimento. ;Estamos mais uma vez abrindo mão do tempo necessário e, com a participação da deputada, decidimos não apresentar mais testemunhas a fim de que tudo aconteça da forma mais rápida possível;, afirma. Em vez de focar nas alterações promovidas ontem no regimento, a defesa está mais atenta aos projetos rejeitados no plenário.
Na defesa complementar, os advogados de Jaqueline usarão o fato de a Câmara ter rejeitado quatro projetos de resolução ;31, 33, 34 e 36/2011 ; que previam a punição de atos cometidos antes da posse. As propostas eram de autoria dos deputados do DF Erika Kokay (PT) e Reguffe (PDT) e foram apresentadas após a divulgação do vídeo de Jaqueline. ;A questão é estritamente jurídica e essas rejeições vem corroborar com o nosso entendimento de que o regimento da Casa não permite que sejam apenados atos cometidos antes do mandato;, afirma Alencastro.
Saia justa
Enquanto os advogados preparavam a redação dos argumentos, Jaqueline Roriz enfrentou uma saia justa. Viajou a Nova York para participar, por 12 dias, de fórum sobre assuntos indígenas. No entanto, a viagem não foi autorizada e ela acabou antecipando a volta ao Brasil. Na sessão ordinária de quarta-feira, após retornar da viagem aos EUA, a deputada apareceu no plenário exibindo uma bolsa Birkin Bag, da marca Herm;s, avaliada em R$ 25 mil.
Opinião do internauta
Os leitores do Correio comentam sobre a bolsa de R$ 25 mil da deputada Jaqueline Roriz (PMN):
Cleiton Pereira da Silva
;Caros colegas, o problema não está na bolsa ou mesmo se ela é feia ou bonita, o fato é que ela cometeu crime do colarinho branco e ainda está trabalhando. A culpa não é dela e do Congresso, do Supremo, do STJ ou da Polícia Federal. Acho que a culpa é do Código Penal e dos recursos.;
Magda Ferreira
;A mim não causa inveja, pois meus valores morais são outros. Não é o valor da bolsa que é o problema em si, mas a demonstração de desrespeito e da certeza da impunidade. Uma das regras básicas de quem quer se defender é demonstrar humildade (nem que seja de mentira).;
Fabiane Antunes
;Essa é feita de couro legítimo. Couro do trabalhador brasileiro!”
Antônio Silva
;O pessoal não entende que nossos passeios em Palm Springs sempre trazem novas ideias e consumo. O que fazer no Brasil quando podemos ir à Europa comprar uma bolsinha básica?;
Leocardo Caetano
;Não tem nada fora dos conformes. Isso daí é uma das amostras claras da ostentação que é ser político no Brasil. Inescrupulosos, verdadeiras feras carniceiras a devorarem os recursos públicos e sagrados, destinados a tratar e educar nossas crianças.;
Augustus Nazareno
;Esse dinheiro fácil que sobra de um lado falta nos hospitais e nas escolas. Dinheiro que se desvia e se concentra nas mãos de uma elite que sobrevive como parasita à custa da miséria humana. Esse dinheiro fede!”
Luiz Aquino
;Uma pessoa de posse não pode ter objetos de valor? Está se criando no Brasil a cultura do nivelamento por baixo. Uma coisa é a deputada ter seus problemas morais ou criminais. Outra é ela poder ter ou não uma bolsa nesse valor. A família tem posses. Não entro no mérito se ela é ou não culpada.;
Ademar Nova
;A deputada não alimenta a pirataria. Comovente. Como cidadã ela pode usar o que quiser. Só que o dinheiro gasto para ostentar isso é uma falta de respeito com tanta gente que passa fome e nem tem onde morar.;