Naira Trindade
postado em 28/05/2011 08:09
Depoimentos de testemunhas apontam novos indícios de avarias nos equipamentos do Imagination. Sobrevivente do naufrágio, a auxiliar de cozinha Juciana Martins, 17 anos, contou ontem ao Correio ter ouvido o piloto Airton Carvalho da Silva Maciel, 28, mencionar um improviso na embarcação. Durante uma viagem realizada há cerca de 15 dias, ele teria usado uma massa reparadora na mangueira da bomba usada para retirar água da casa de máquinas. A ordem do remendo, segundo ela, foi dada pelo proprietário do barco, Marlon José de Almeida. ;O Airton disse que ele mandou colocar durepox para resolver o problema;, afirmou (leia Três perguntas para). Titular da 10; Delegacia de Polícia, no Lago Sul, Adval Cardoso, preferiu não comentar a informação antes de conhecer os laudos da perícia. ;Mas se houver alguma massa, nós vamos saber;, adiantou.
Noiva de Carlos Eduardo Pereira, 29 anos, ; irmão da organizadora do bufê, Vanda Cristina Pereira, 25, ; a estudante auxiliava sempre que necessário na cozinha da embarcação. Apesar de não saber exatamente quantas viagens fez no Imagination, a moradora do Recanto das Emas disse ter presenciado, em outras ocasiões, panes na rede elétrica e excesso de água na casa de máquinas. ;Eu via frequentemente o Airton descer para arrumar alguma coisa na casa de máquinas, que ficava embaixo da pia.;
Juciana Martins garante que o problema foi repassado ao proprietário do veículo turístico. ;O dono da embarcação sabia dos problemas;, resumiu. Ela tinha tanta convicção que os reparos seriam sanados que marcou o casamento no Imagination. ;Eu confiava tanto nesse barco que pensava em fazer a cerimônia nele, em 7 de novembro. Agora, cancelei tudo;, disse ela, que sobreviveu mesmo sem saber nadar. O Correio procurou o advogado Ezequiel Florêncio Martins Barbosa, representante do dono do Imagination, mas ele não atendeu as ligações.
Superlotação
Os investigadores da 10; DP ouviram mais de 70 depoimentos ao longo da semana. Diante de tantas informações, Adval Cardoso afirmou ter reunido algumas certezas em relação ao naufrágio. A primeira delas é a da superlotação. Pelo cruzamento de dados dos sobreviventes, os investigadores chegaram a uma relação de 110 nomes. Nove passageiros não sobreviveram à tragédia. Cerca de 30 pessoas ainda precisam comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos sobre o acidente.
Cinco dias após o ocorrido, o barman da festa João Gonçalves, 19 anos, que trabalha como copeiro em uma galeteria da cidade, procurou os responsáveis pela apuração do caso. ;Eu estava no piso superior fazendo coquetéis. Não havia controle nenhum na escada e todos que queriam bebida subiam. Certa hora, percebi que tinha de 35 a 40 pessoas lá em cima;, calculou.
A confraternização de domingo era a primeira experiência de João Gonçalves no Lago Paranoá. Contratado para substituir um funcionário ausente, o morador do Novo Gama (GO) se lembra de chegar e atender ao pedido dos organizadores. ;No início, eles me mandaram cortar as frutas. À medida em que a confraternização seguia e o gelo acabava, eu descia até a cozinha para abastecer o balde. Numa das vezes, meia hora antes de afundar, vi a tampa da casa de máquinas aberta. Perguntei o que estava acontecendo e uma pessoa disse que isso era normal;, contou.
Agnaldo Dias da Silva, um dos proprietários do A.V Buffet, trabalhou em mais de 50 eventos no Lago Paranoá em 2011, mas nem todos a bordo do Imagination. Ao Correio, ele disse desconhecer os problemas constantes relatados por seus funcionários. ;Não sou nem louco de arriscar a minha vida, da minha família e dos outros. Tive prejuízo moral, emocional e econômico. Se soubesse que o barco estava com problemas, não teria entrado nele.; Questionado sobre o excesso de pessoas na embarcação, o empresário voltou a frisar que o documento oficial traz 80 convidados, sendo 79 pagantes e um desistente, mais oito funcionários.