Cidades

Dono do Imagination e comandante devem ser indiciados por homicídio culposo

Renato Alves
postado em 29/05/2011 09:50
O dono e o comandante do barco naufragado no Lago Paranoá há uma semana devem ser indiciados por homicídio culposo. Ambos descumpriram as obrigações de evitar a superlotação do Imagination e de orientar os passageiros e tripulantes sobre o uso adequado dos equipamentos de segurança em caso de acidente, no entendimento do delegado responsável pelo caso. Baseado nos depoimentos de mais de 60 testemunhas, Adval Cardoso, chefe da 10; Delegacia de Polícia (Lago Sul), desconfia de falta de manutenção por causa das constantes falhas mecânicas e elétricas na embarcação. Ele analisa ainda se a dona do bufê organizador da fatídica festa tem ou não culpa no excesso de gente.

Para concluir o caso, Cardoso pedirá mais 30 dias de prazo à Justiça, pois diz depender dos resultados das perícias. Os laudos, segundo ele, não ficarão prontos até o prazo inicial ; 30 dias após a abertura do processo criminal ;, que termina em 23 de junho. ;Vamos cruzar as provas testemunhais com as provas técnicas (perícias) e definir a causa e os culpados pelo acidente. É certo que houve uma série de fatores, mas temos que medir o peso de cada um. Por exemplo, falam em uma rachadura no fundo do barco, mas precisamos saber quando ela ocorreu e se o sobrepeso colaborou para seu agravamento;, explica.

[SAIBAMAIS]O delegado aponta indício de negligência por causa da falta de providências para consertar a rachadura, avaria identificada por mergulhadores do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil. ;Provavelmente, o dono e o comandante do barco sabiam dessa rachadura, pois muita gente que trabalhava na embarcação relata a constante entrada de água nos tubulões. Mas, por excesso de confiança, o comandante pensava que bastava retirar um pouco d;água sempre que isso ocorria;, diz Cardoso.

Entre tantas suspeitas ainda não confirmadas, os investigadores dizem ter certeza da superlotação. O Imagination carregava 20% a mais de sua capacidade quando afundou, segundo eles. O barco tinha autorização da Marinha para transportar, no máximo, 92 pessoas. Mas ao menos 110 estavam a bordo, de acordo com o chefe da 10; DP. Contrariando a legislação, havia também deficit de coletes salva-vidas, se confirmada a presença das 110 pessoas. E a maior parte do equipamento de segurança estava amarrada na estrutura da embarcação, conforme vídeo realizado por peritos mergulhadores no fundo do Lago Paranoá, onde foi parar o Imagination.

Depoimentos apontam superlotação
Para levantar prova da superlotação do barco, o delegado e sua equipe fizeram uma lista de passageiros e tripulantes a partir dos depoimentos dos 60 sobreviventes ouvidos na 10; DP até a noite de sexta-feira. Os investigadores perguntaram a todos com quem foram ao passeio no barco. Cruzando os nomes, chegaram aos 110. Muitos confirmaram haver pessoas que pagaram para participar do evento após o fechamento do grupo. Adval Cardoso acredita que grande parte dos presentes no naufrágio não constavam da lista oficial de convidados e, por isso, têm medo de ir à delegacia. Ele considera fundamental os depoimentos dessas pessoas e as exime de qualquer culpa.

A dona do bufê organizador da festa, Vanda Cristina Pereira, 25 anos, joga a culpa no comandante do Imagination, Airton Carvalho da Silva Maciel, 28, por uma suposta superlotação. ;Na lista (de ocupantes), havia 80 pessoas, entre crianças e adultos, mais oito funcionários ; dois barmans, três garçons, dois auxiliares de cozinha e uma cozinheira. Entreguei-a para o marinheiro (Airton) porque ele era o responsável em controlar o pessoal que entraria na embarcação;, afirmou Vanda, em entrevista exclusiva ao Correio.

Ela disse ter contratado a embarcação para cinco horas de festa. ;Paguei R$ 1,1 mil para 50 pessoas. Como não tínhamos muito dinheiro, resolvemos vender convites para arcar com o restante. O ingresso era vendido por R$ 60. Paguei R$ 20 pela entrada de cada um dos outros 30 passageiros que constavam da lista. Ao todo, foram R$ 1,7 mil. Não sei quem estava na lista. Havia pessoas desconhecidas, mas isso era normal, pois alguns funcionários levaram marido, mulher.;

O comandante da embarcação afirmou, em depoimento na 10; DP, que havia 110 coletes no Imagination na noite da tragédia. No entanto, mesmo que ele tenha dito a verdade, o número era insuficiente, de acordo com as normas sobre navegação. Pela lei, são obrigatórios 10% de coletes a mais. Apesar da certeza de superlotação e dos indícios da falta de manutenção, falhas dos operadores da embarcação e negligência com o esquema de segurança para os ocupantes do barco, o chefe da 10; DP afirmou que não indiciará ninguém de imediato porque prefere esperar os laudos da perícia. (RA)

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