postado em 30/05/2011 07:15
Lanchas, jet skis e veleiros. Nadadores, esportistas e pescadores. Ricos, pobres e gente de classe média. O Lago Paranoá é um dos lugares mais democráticos do Distrito Federal. Por essa razão, é grande a procura por diversão nos 111 quilômetros de margem que ele oferece. Sem espaços delimitados para a prática de cada atividade, as águas se tornam traiçoeiras. Com a ajuda da Federação Náutica de Brasília (FNB), do Corpo de Bombeiros e da Marinha do Brasil, o Correio mapeou 19 pontos (Veja na página ao lado) considerados perigosos de Norte a Sul do espelho d;água. São 11 áreas de risco para banhistas e oito vulneráveis a colisão entre embarcações.
A barragem do Paranoá é o local mais ameaçador do lago. Situada próximo à cidade do Paranoá, ela se tornou um ponto de encontro nos finais de semana. Em um sábado de sol, chegam a ficar atracadas no local cerca de 50 embarcações. Como se não bastasse, moradores do Paranoá e de São Sebastião costumam fazer piqueniques e nadar na região ; a mais funda do lago, com cerca de 40 metros de profundidade. Além do risco de mortes por afogamento, existe a possibilidade de algum barco atropelar quem se arrisca a nadar por lá. Há também chances de a hélice de uma embarcação ferir algum desavisado.
O presidente da Federação Náutica, Marcos Carraca, conta que pequenas colisões entre lanchas são normais. ;São comuns batidas no lago, mas as estatísticas não mostram porque normalmente os envolvidos resolvem na hora. Conduzir uma lancha exige experiência e cuidado. Ocorre que muitos bebem além da conta e saem pilotando um veículo que pode chegar a 100km/h. Se ele não estiver atento, pode passar por cima de alguém numa embarcação menor ou atropelar pessoas que estejam nadando;, alertou Carraca.
No dia do acidente com o Imagination, vários passageiros relataram que uma lancha navegava a poucos metros da embarcação superlotada, que afundou domingo passado matando nove passageiros e deixando mais de 100 sobreviventes. Em depoimento à polícia, muitos disseram ter visto a embarcação menor bater no barco maior, mas os peritos descartaram que a suposta colisão tenha sido o fator determinante para o naufrágio.
Mortes
Em 2 de maio de 2008, o capitão do Exército Luiz Antonio de Matos, 30 anos, morreu depois que uma lancha atingiu o seu barco. O piloto da lancha alegou que a embarcação do oficial estava sem iluminação adequada. A mulher do capitão também ficou ferida no choque. Um ano antes, em novembro, uma lancha atropelou e matou um sargento aposentado da Polícia Militar. De acordo com a PM, testemunhas relataram que a embarcação passou duas vezes pelo local antes do acidente. Na primeira, teria arrancado as boias de sinalização. O militar retirava sujeira do fundo do lago. Depois, acabou atingindo o sargento Ismar Lopes de Oliveira, de 47 anos, que mergulhava com um grupo de amigos.
O condutor, Davi Cândido Torres, 26 anos, não possuía habilitação. Ele ainda responde ao processo em liberdade. A irresponsabilidade dos donos de embarcações ameaça famílias inteiras que usam o lago como lazer. Nos dois quilômetros de margem do Parque Ecológico Dom Bosco, pescadores, banhistas, crianças e até casais de namorados passam o tempo nas águas do lago. Quase todos têm uma história de perigo para contar. Moradores de São Sebastião, os amigos Cleiton Fernandes, 28 anos, e Rafael Galena, 26, vão ao lago pelo menos três vezes por mês. Eles contam que já passaram por apuros. ;Tem gente que passa muito perto da margem, principalmente de jet ski;, afirmou Cleiton. ;Uma vez, nós quase fomos atropelados. O cara veio tão rápido que não viu a gente nadando. Escapamos por pouco;, disse Rafael. Os dois tomavam banho próximo à Ermida Dom Bosco.
Nas proximidades da Península dos Ministros, a atenção dos condutores de barco movido a motor deve ser redobrada. Isso porque ali existe uma escola de windsurf. Segundo o vice-presidente de náutica da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), José Neto, em dia de aula, muitos alunos cruzam o lago no sentido norte / sul, e ficam em rota de colisão com as embarcações que saem dos píeres dos clubes. ;Era preciso delimitar espaço e horário para a prática de cada atividade. É necessário ficar muito atento ao passar perto da escolinha para não atropelar um aluno;, disse.
Ponto mais concorrido do Lago Paranoá, o Pontão tornou-se também um dos mais perigosos. Isso porque muitos jovens querem chamar a atenção dos frequentadores fazendo manobras radicais sobre suas lanchas e jet skis. O comandante da Delegacia Fluvial de Brasília, capitão de corveta Rogério Leite, garante que a fiscalização da Marinha do Brasil é rígida. De acordo com ele, as abordagens se tornaram mais frequentes este ano depois que a corporação adquiriu duas embarcações mais rápidas, capazes de perseguir veículos que atinjam alta velocidade na água. Ao todo, oito barcos são responsáveis por manter a ordem no lago. ;A Marinha tem pessoal e embarcações suficientes para manter uma fiscalização rigorosa. Diariamente abordamos condutores inabilitados, lanchas sem os equipamentos de segurança, pessoas com a habilitação vencida. É uma fiscalização eficiente;, afirmou o oficial da Marinha.
Diante da grande concentração de usuários nos fins de semana, muitos praticantes de esportes passaram a frequentar o lago em dias úteis, quando o movimento é bem menor. É o caso do policial civil Galeno Santana, 28 anos, que faz remo há seis meses. ;O clube que eu frequento nem deixa a gente sair nos fins de semana. É muito perigoso, tem muita gente embriagada conduzindo lanchas. Prefiro praticar durante a semana, que é bem mais tranquilo;, disse.
Frota
Pelo menos dois mil barcos circulam pelo Lago Paranoá, o que coloca o Distrito Federal entre os estados com maior frota náutica do Brasil. A Marinha mantém pelo menos quatro fiscais, que circulam 24 horas por dia .