Cidades

Brasilienses vivem acuados pelos crimes bárbaros que tomam conta do DF

postado em 06/06/2011 07:23
Duplo assassinato em Santa Maria, cinco estupros em Samambaia, um sargento da Polícia Militar baleado nas costas no Núcleo Bandeirante e uma família refém de bandidos dentro da própria casa no Lago Sul. Todos esses crimes bárbaros foram registrados em apenas três dias e ganharam destaque na mídia. Somam-se a essa breve estatística os inúmeros flagrantes de uso e tráfico de drogas, furtos e roubos pelas cidades. Enquanto as autoridades discutem os rumos da segurança pública em reuniões diárias e intermináveis, na QNN 3, em Ceilândia, por exemplo, dezenas de usuários de crack consomem a droga dentro de bueiros. O problema foi denunciado pelo Correio em setembro do ano passado e até hoje nada mudou.

Vítimas da criminalidade já não acreditam mais em soluções do governo e preferem mudar os hábitos para evitar novamente ficar frente a frente com um ladrão ou homicida. Amarrada por bandidos dentro de uma casa na QI 29 do Lago Sul, na última segunda-feira, Amanda (nome fictício) pretende deixar a residência onde mora de favor com o filho. Ela usava a casa para fazer massagem. No momento em que a dupla de bandidos invadiu o local, duas clientes aguardavam na sala. Todas foram rendidas, além do filho da massagista. Os criminosos levaram diversos objetos de valor. Após o susto, Amanda decidiu mudar de endereço. ;Nunca passei por algo assim e não desejo isso para ninguém. Antes, morava em São Sebastião, perto de boca de fumo, e não tive problema. Dessa vez foi dentro de casa, na frente do meu filho;, desabafou.

Execução
No dia anterior ao drama vivido pela massagista, um adolescente e um homem morreram após serem atingidos por vários disparos. O crime ocorreu na Quadra 205 de Santa Maria. Devido ao histórico de assassinatos e troca de tiros, a região ficou conhecida entre moradores como ;Faixa de Gaza;, uma alusão ao território disputado por palestinos e israelenses. Um Fiat Siena se aproximou de um grupo formado por quatro rapazes e, de dentro do carro, foram disparados cerca de 30 tiros. Fábio da Silva Nascimento, 17 anos, e Cristiano França da Silva, 38, não resistiram aos ferimentos. A mãe de um deles não entende as razões para tamanha violência. ;Tem 10 anos que eu moro aqui e as coisas só pioram. Cada governo que entra promete dar um jeito nessa área, mas a cada dia que passa, mais gente morre por aqui. Hoje foi o meu filho, amanhã outra mãe que estará chorando;, disse a mulher, que preferiu não se identificar.

Próxima à casa onde morava Fábio, uma pichação no muro de uma igreja evangélica espelha o sentimento dos moradores. ;Cadê a polícia?;. A mãe de outro adolescente baleado e que permanece internado diz temer represálias. ;Uma quadra tem rixa com a outra. Acho que meu filho estava no lugar errado com a pessoa errada, mas, mesmo assim, tenho medo de quem fez isso voltar e matar todo mundo só porque a gente mora numa quadra que eles não vão com a cara;, preocupa-se. Tanto os mortos quanto os dois feridos tinham antecedentes criminais.

Vizinhos assustados com a onda de violência não acreditam mais na repressão da polícia. ;Aqui, cada um tem que montar uma fortaleza em casa. Minha residência é toda fechada na grade e ainda tenho uma arma guardada. A segurança da minha família sou eu quem faço;, contou um homem. A polícia ainda procurava pistas dos autores do duplo homicídio quando teve que atender outra ocorrência, também em Santa Maria. O motorista de um micro-ônibus levou uma coronhada depois que jovens com menos de 18 anos, armados, tomaram de assalto o veículo. ;Eu passava pelo quebra-molas quando eles apontaram o revólver. Eu abri a porta, entreguei todo o dinheiro e, mesmo assim, eles me agrediram;, contou o condutor Reginaldo Silvano, 34 anos. Horas depois, os dois adolescentes foram apreendidos pela PM. Eles são acusados de terem assaltado outros coletivos na região administrativa.

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