No jogo político do Distrito Federal, poucos personagens têm interesse na cassação do mandato da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF). Nesta torcida, não estão nem mesmo os principais adversários do clã comandado pelo ex-governador Joaquim Roriz (PSC). O governador Agnelo Queiroz (PT) e o vice, Tadeu Filippelli (PMDB), não se mobilizaram em busca da condenação da parlamentar que responde a processo por quebra de decoro em virtude de ter sido flagrada no momento em que recebia R$ 50 mil das mãos do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Ao contrário, a mensagem que Agnelo e Filippelli passam a interlocutores é a de que se a situação é ruim com Jaqueline, pior será com o suplente dela, o ex-deputado Laerte Bessa (PSC), embora publicamente o governador tenha chegado a defender punição para Jaqueline.
A avaliação é que, por causa do escândalo, Jaqueline será até o fim do mandato uma deputada com pouca expressão e quase nenhuma força política na Câmara. Para petistas, que sempre disputaram eleições com Roriz, a visão é de que ela tem poucas chances de se tornar uma herdeira política do pai para um cargo majoritário, ao governo ou mesmo ao Senado. As imagens de Jaqueline ao lado do marido, Manoel Neto, guardando os recursos que Durval (leia Memória) confessa terem sido desviados de contratos públicos, serão sempre exploradas por adversários em momentos decisivos da carreira eleitoral da deputada.
Apesar do desembarque do grupo rorizista, Tadeu Filippelli, agora eleito vice-governador e com projetos políticos para os próximos anos, prefere não fazer novos inimigos. Ele tenta, na verdade, reconquistar antigos aliados e se tornar o sucessor de um grupo que ficou órfão com a impossibilidade de Roriz concorrer a novos pleitos depois de cair na Lei da Ficha Limpa. Por isso, Filippelli não fez carga contra Jaqueline na bancada do PMDB, onde teria grande possibilidade de influenciar votos. Os dois deputados peemedebistas com assento no Conselho de Ética da Câmara, Mauro Lopes (MG) e Wladimir Costa (PA), deverão rejeitar o relatório que pedirá a cassação da deputada Jaqueline Roriz nesta tarde.
Nem mesmo o PSC, partido que seria diretamente beneficiado com a cassação da parlamentar, estará contra Jaqueline. A despedida da deputada significaria a posse Bessa, filiado ao partido. Nesse caso, no entanto, prevalece a ingerência política de Roriz, que está filiado ao PSC e trabalhou diretamente e também por meio de interlocutores para salvar a filha da degola. Dessa forma, o deputado Sérgio Brito (PSC-BA) deve aderir à tese de que nenhum congressista pode pagar por erro cometido antes de tomar posse. Essa é a principal linha de defesa de Jaqueline Roriz. Mesmo que o relatório pela cassação seja aprovado no Conselho de Ética, dificilmente passará pelo crivo do plenário da Câmara, onde a votação é secreta.
Polícia
Na avaliação de importantes aliados de Agnelo, cassar Jaqueline significará ressuscitar Laerte Bessa politicamente. Ex-diretor-geral da Polícia Civil do DF, Bessa ; que é delegado aposentado ; mantém influência na categoria que comandou durante oito anos. Mas ficou sem mandato parlamentar por ter sido preterido na campanha por Roriz. O ex-governador priorizou a eleição da filha em 2006 e, com uma aliança restrita em 2010, liderada pela mulher, Weslian Roriz, só conseguiu eleger dois deputados federais. Bessa, por pouco, ficou fora.
Fortalecer Bessa provocará também um aumento da bancada da Segurança Pública no DF que hoje já conta com seis deputados distritais ruidosos, que têm pressionado o governo pela demissão da diretora-geral da Polícia Civil, Mailine Alvarenga. Há 10 dias, Agnelo teve de se posicionar publicamente contra o lobby dos parlamentares pela substituição do comando da instituição. Com mandato de deputado federal, Bessa será um representante da classe na Câmara dos Deputados e uma voz com palanque no Congresso para interceder nas decisões relacionadas à segurança pública local.
A expectativa também entre aliados de Agnelo é de que o fortalecimento de Bessa significará um apoio extra a Durval Barbosa, o delator da Operação Caixa de Pandora. Há uma convicção no meio político de que Durval tenha entregado o vídeo de Jaqueline ao Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) justamente para derrubar a deputada que abre vaga a Laerte Bessa, de quem ele é amigo, em caso de cassação. Em depoimento prestado aos promotores do Núcleo de Combate às Organizações Criminosas (Ncoc), Durval deu outra versão. Ele disse que a gravação foi encontrada por um antigo assessor em seu computador mais de um ano depois da deflagração da Caixa de Pandora.
O vídeo de Jaqueline não constava da primeira leva entregue por Durval no momento em que decidiu relatar ao Ministério Público detalhes dos esquemas de corrupção envolvendo integrantes do Governo do Distrito Federal e deputados distritais com desvios de recursos públicos.
Disputa judicial
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a Lei da Ficha Limpa só vale a partir das eleições de 2012. Dessa forma, Joaquim Roriz, poderia ter concorrido ao GDF em 2010, mas terá de vencer uma disputa judicial para se consagrar como candidato elegível. Para isso, terá de conquistar o apoio dos ministros do STF à tese de que eventos ocorridos antes da vigência da lei não poderia ensejar motivo para a legibilidade.
Grande repercussão
Pouco mais de um mês depois de tomar posse como deputada federal, Jaqueline Roriz (PMN)se viu envolvida em um escândalo que pode interromper ou acabar com sua carreira. Em 4 de março, foi divulgado um vídeo em que a parlamentar aparece recebendo maços de dinheiro de Durval Barbosa.
À época da gravação, feita em 2006, Jaqueline iniciava a trajetória política no PSDB, disputando uma vaga na Câmara Legislativa. Nas imagens, ela aparece acompanhada do marido, Manoel Neto, queixando-se que estava recebendo pouco apoio financeiro. Nas imagens, Durval entrega um bolo de notas, estimado em R$ 50 mil. Jaqueline foi a quinta distrital mais votada.
Apesar de ter causado grande repercussão, de início, o poder de devastação do vídeo foi subestimado. Sob a alegação de que a gravação foi feita em 2006, quando ela ainda não era deputada federal, alguns políticos chegaram a afirmar que não poderiam instaurar processo por quebra de decoro em virtude de os fatos apresentados terem acontecido em período anterior ao mandato.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi a primeira autoridade a reagir à denúncia, afirmando que pediria ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de processo para investigar a parlamentar. O PSol também se manifestou favorável à apuração dos fatos e protocolou pedido de abertura de processo por quebra de decoro na Corregedoria da Câmara dos Deputados. Lideranças da Casa acabaram mudando o discurso, passando a adotar uma postura mais contundente em relação ao caso, e o processo por quebra de decoro foi aberto.