A autônoma Teresa Ferreira, 49 anos, levou um susto. Meia hora depois que o caçula, Plínio Ferreira, 16, pegou um ônibus e saiu para o Centro Educacional n; 2 do Guará, conhecido como GG, ela recebeu uma mensagem no celular. O torpedo dizia que o aluno do 1; ano do ensino médio havia acabado de entrar no colégio.
Desconfiada, Teresa decidiu ligar para a diretoria. ;Essas coisas ou são trotes ou são notícias ruins;, disse a mãe. Com o telefone, acabou descobrindo que a instituição fazia o primeiro teste de um projeto-piloto que tem como objetivo garantir a segurança da comunidade escolar.
Para ultrapassar o portão de acesso ao pátio, cada um dos 1,5 mil meninos e meninas do CED 2 tem de colocar o dedo indicador direito em uma máquina leitora de impressões digitais.
Em segundos, aparece em uma tela de computador a foto e o nome do aluno. Ao mesmo tempo, o pai ou o responsável por ele recebe um torpedo no celular com o horário de entrada na escola. ;É um sossego. Meu filho vai de ônibus para o colégio.
A mensagem traz a tranquilidade de que não aconteceu nada no caminho. O governo deveria adotar esse mecanismo em todo o DF;, sugere Teresa.
Segurança
O sistema funciona desde a semana passada. Dois equipamentos coletores de digitais e dois monitores de computador ficam na entrada do CED 2, a primeira a receber o maquinário. A iniciativa partiu dos professores Martha Pfeffer e Alexandre Godói, do Núcleo de Tecnologia da Diretoria Regional de Ensino (DRE) do Guará. Ambos trabalharam durante dois meses no desenvolvimento do programa.
;A ideia era criar um projeto para garantir a segurança dos alunos;, ressalta Martha. ;É uma medida que impede a evasão escolar;, emenda o diretor do centro de ensino, Tarcísio Araújo.
O sistema também alcança os alunos com necessidades especiais. O estudante do 1; ano do ensino médio Pedro Henrique Cruz, 16 anos, tem deficiência visual. Ao tocar o indicador direito no equipamento, ouve uma voz do computador falar seu nome.
;Não imaginava que o programa conseguiria ser adaptado para mim. Quando escutei, não acreditei. Aí entendi que a escola é realmente inclusiva;, comemora o adolescente. ;As pessoas falam em colégio público e já pensam em coisas ruins. O sistema é um avanço muito grande. Não tem como burlar;, observa Pedro Henrique.
A instalação do equipamento custou R$ 800. A quantia saiu dos recursos da própria escola. ;Alguns pais pensaram que teriam de pagar pelo serviço. Foi emocionante ver o contentamento deles;, relembra Martha. ;É uma realização;, acrescenta Alexandre Godói. Eles pretendem fazer ainda com que os torpedos sejam enviados também no horário de saída dos estudantes. Em uma segunda etapa do projeto, querem que as notas e a frequência dos alunos sejam disponibilizadas na internet.
Como foi desenvolvido por servidores da Secretaria de Educação, o programa pode ser usado em todas as escolas da rede pública.
O CED 4 do Guará é o próximo da fila e deve receber os equipamentos na semana que vem.
Conflito
Em abril, alunos do Centro Educacional 4 do Guará protagonizaram cenas de vandalismo e violência. Um grupo atirou bombinhas em lixeiras e quebrou janelas a pedradas. Ao serem advertidos por funcionários e por policiais militares, eles agrediram os PMs e destruíram o vidro do carro de um dos professores. Depois do ocorrido, os pais dos estudantes foram convocados para uma reunião.
Flagrantes nas câmeras
A instalação de câmeras também foi uma das propostas para o aumento do controle e da segurança das escolas. Em 2009, a Secretaria de Educação deu início à instalação dos equipamentos de vídeos nas escolas públicas do DF. Na época, o Governo do DF anunciou que gastaria R$ 70 milhões para a implantação dos equipamentos, nos moldes da Lei n; 4.058, de 2007. A legislação determina que o sistema de monitoramento seja destinado exclusivamente à preservação da segurança da comunidade escolar e à prevenção de atos de violência.
Os equipamentos devem filmar as áreas fronteiriças externas do colégio e de circulação interna. Conforme a lei, a instituição de ensino deve afixar avisos de existência dos equipamentos e não pode instalá-los em banheiros, vestuários, cantinas e secretarias, nem em salas de aula e de professores. Além disso, as imagens produzidas e armazenadas pelo sistema são de responsabilidade da direção da escola e não podem ser exibidas ou disponibilizadas a terceiros, exceto por meio de requisição formal em casos como o de investigação policial.
Atualmente, segundo a Secretaria de Educação, alguns colégios do Distrito Federal têm sistema de segurança. De acordo com o órgão, pessoas que roubaram um colégio de Ceilândia foram identificadas por meio das imagens gravadas. No Gisno, na Asa Norte, o vandalismo dos próprios alunos também foi flagrado pelas câmeras de vídeo. (LT)