Cidades

Piratas deitam e rolam com paralisações de rodoviários

Roberta Machado
postado em 09/06/2011 07:41

Carros aproveitam a falta de ônibus e pegam passageiros na BR-020, entre Sobradinho e Planaltina: piratariaSem acesso a outro transporte público a não ser o ônibus, moradores de regiões como Sobradinho, Planaltina, Paranoá e São Sebastião têm apelado para os carros piratas desde que os rodoviários decidiram pela paralisação parcial, iniciada na segunda-feira, quando cerca de 30% da frota pararam de funcionar nos horários de pico. Ontem, entre as 5h e as 7h, o cenário nas paradas e rodoviárias das quatro cidades ; onde o sistema de metrô não foi implementado ; refletia os transtornos causados pela determinação da categoria: houve disputas entre os passageiros por vagas nos ônibus e muitos dos coletivos chegavam superlotados em alguns pontos, motivo que levava motoristas a passarem direto por paradas.

Boa parte daqueles que não podiam ou estavam cansados de esperar se entregou ao transporte clandestino, como a comerciante Aurelina Santos Trindade, 58 anos, uma dos cerca de 300 mil usuários prejudicados pela paralisação. Na terça-feira, a moradora do bairro Mestre D;Armas, em Planaltina, ficou impaciente depois de esperar 1h pela linha que a levaria até o trabalho no Plano Piloto. ;Peguei um pirata e, se pintar mais uma situação dessa, eu pego mais uma vez;, declarou. A presença dos carros irregulares tem deixado o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) em alerta. Para coibir esse tipo de ação, o DFTrans afirmou, por meio da assessoria de comunicação, que a prioridade agora é colocar mais fiscalização nas ruas. Ao todo, 80 fiscais têm trabalhado das 7h às 20h para evitar a atividade em vários pontos do DF. ;O transporte irregular cresce na proporção exata da precariedade do sistema de transporte público ou pela insuficiência de ônibus em circulação. Quando isso ocorre, no caso atual, os oportunistas entram em ação. Estamos intensificando a fiscalização, mas temos um corpo reduzido de fiscais;, afirmou o diretor do DFTrans, Marco Antônio Campanella.

Aurelina admite: sem alternativa, foi para o trabalho em veículo irregularAté ontem, o órgão ainda não havia levantado o número de carros de passeio e vans piratas que foram retirados de circulação após as autuações. No entanto, o major Roberto Robalo, do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTrans), afirmou que, de segunda-feira até ontem, foram autuados 38 condutores pela prática da atividade ilegal. ;Com a paralisação, aumenta a oportunidade para se fazer esse tipo de ilegalidade;, frisou o oficial. Ontem, o Correio conseguiu flagrar a atividade ilegal em Planaltina.

Autuações
Além desses flagrantes, o DFTrans tem notificado as empresas de ônibus por descumprimento de viagens já determinadas nos itinerários. Na segunda e na terça-feira, foram emitidas 200 autuações. Em nota, a pasta declarou que ;tais irregularidades sujeitam as empresas ao pagamento de multas e, caso persistam, podem acarretar a suspensão do direito de operar no sistema;. Ao Correio, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do DF (Setransp) afirmou que não havia sido informado pelo DFTrans sobre os flagrantes até o fechamento desta edição e preferiu não se posicionar em relação às infrações. De janeiro a 4 de maio deste ano, as empresas de ônibus foram notificadas com 2.804 autuações por desrespeito a ordens de serviços. A multa varia entre R$ 270 e R$ 540. ;Ainda não sabemos se todas as empresas foram autuadas;, esclareceu o DFTrans.

Somando-se à redução do número de ônibus em circulação, os usuários do transporte público ainda se deparam com a falta de informação sobre os itinerários dos veículos. A doméstica Santa Pereira Valverde, 39 anos, chegou a perder um ônibus na rodoviária de Planaltina após errar o ponto. ;Eu achava que ia pegar o ônibus em um lugar, onde eu sempre peguei, mas, com a paralisação, ele para em outro espaço da rodoviária;, explica ela. No local, não há letreiros que indiquem as linhas que os usuários precisam usar.

A paralisação foi tomada após os rodoviários terem o pedido de reajuste salarial de 16,69% negado pelo patronato. Com a decisão, 30% da frota de ônibus de todo o DF está parada nas garagens nos horários de pico ; das 5h às 7h e entre as 16h e as 18h. O percentual equivale ao cumprimento de decisão judicial, cuja medida foi determinada após a 3; Vara do Tribunal Regional do Trabalho da 10; Região (TRT 10) julgar procedente ação representada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A ação pedia o fim do acordo de produtividade entre rodoviários e empresários. ;Após essa medida, as empresas estão operando com prejuízos, o que equivale a cerca de 11% do aumento de custo fixo das empresas;, anunciou o órgão sindical. Esta semana será marcada uma nova reunião entre os rodoviários e os empresários.

Acidente
As paradas de ônibus de três quadras na Asa Norte estavam abarrotadas de pessoas no fim da tarde de ontem. Diferentemente dos passageiros de outras localidades, que contavam com um número reduzido de linhas no horário de pico, eles passaram mais de duas horas sem que quase nenhum coletivo passasse pelos pontos entre as quadras 508 e a 506 Norte. A razão para a falha foi um acidente ocorrido na entrequadra 508/509, por volta das 16h. Enquanto as vítimas eram levadas pelo socorro e os veículos eram periciados, carros e ônibus que seguiam em direção à Asa Sul foram desviados para as vias W4 e W5 norte, onde o tráfego foi intensificado até as 19h, quando o trânsito começou a ser liberado.

Segundo testemunhas, um Fiat Premio atravessou o sinal vermelho da W3 Norte e foi atingido por um GM Prisma, que cortava a via em direção à Quadra 308. De acordo com familiares, George Greynemer Moreira Otero, 56 anos, atravessou o sinal porque passou mal enquanto dirigia. Ele não teve ferimentos graves. A motorista do Prisma, Tânia Regina Neiva Jaccoud, 58, quebrou três costelas, mas está fora de perigo.

Horas extras
O benefício era pago aos motoristas e cobradores que realizavam a meia viagem, isto é, que circulavam nos horários de pico para atender à demanda. Mas a juíza Rosarita Machado de Barros de Caron considerou ilegal a cláusula de produtividade, em 25 de maio. A Justiça do Trabalho entendeu que a produtividade mascarava o que eram, de fato, horas extras e que, portanto, deveriam ser pagas como tal. E proibiu ainda que a cláusula volte em novos acordos coletivos.

Reinvidicações

Entenda a paralisação e o que querem os rodoviários

; Entre motoristas, cobradores, mecânicos e auxiliares administrativos, são 12.000 trabalhadores exigindo o aumento de salário.

; Eles pedem por 16,69% de reajuste, o que equivale à inflação acumulada desde o último aumento somada a 10% de ganho real.

; O último reajuste dado à categoria foi em março de 2010, quando eles ganharam 9% de aumento salarial.

; Hoje, o motorista ganha, em média, R$ 1.293 e o cobrador ganha R$ 670 por mês. Caso o reajuste seja concedido integralmente, eles podem receber R$ 1.508,80 e R$ 781,28, respectivamente.

; Eles ainda pedem pela manutenção de dois benefícios: o tíquete-alimentação de R$ 270 e a cesta básica de R$ 112. Esses benefícios estavam garantidos na coleção coletiva que expirou em 30 de abril.

; Os empresários afirmam que seria necessário um aumento de 62% nas passagens. Se o governo concedesse o reajuste, a tarifa de R$ 2 passaria para R$ 3,20, e a de R$ 3 custaria R$ 4,90.

; O governo se ofereceu para pagar dois terços da passagem dos estudantes, em vez de apenas um terço. Dessa forma, o subsídio do passe livre passaria de mais de R$ 3 milhões para quase R$ 7 milhões.

; A decisão judicial do Tribunal Regional do Trabalho retira 30% dos coletivos das ruas nos horários de pico, o equivalente a cerca de 900 ônibus parados, em uma frota de 2,4 mil carros.

; Cerca de 1,2 milhão de pessoas usam o sistema de transporte público do DF diariamente.

; Segundo o Sindicato dos Rodoviários, 150 mil passageiros são afetados pela medida.

; Caso a greve comece à 0h de segunda-feira, serão 1.680 carros estacionados durante todo o dia, o que representa 70% da frota.

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