Cidades

Situação das passarelas subterrâneas do Plano Piloto é precária

Antonio Temóteo, Luiz Calcagno
postado em 09/06/2011 08:00
A autônoma Liége Almeida enfrenta a passagem subterrânea da altura da 111 Norte para levar a filha, Julia, à escola:
O descaso do Governo do Distrito Federal (GDF) em conservar e fazer a manutenção das 16 passagens subterrâneas que ligam as quadras 100 às 200 do Plano Piloto tem obrigado os pedestres a disputar espaço com os carros nas pistas do Eixão e dos Eixos L e W. Dessa forma, os atropelamentos nas vias são frequentes, pois os cidadãos preferem enfrentar o trânsito a correr o risco de assalto, estupro ou morte. Na última terça-feira, a doméstica Maria Justina de Andrade, 39 anos, perdeu a vida ao atravessar o Eixo L, na altura da 209 Sul. Ela estava acompanhada da filha, que sofreu ferimentos leves.

Entre a noite do atropelamento fatal e a manhã de ontem, o Correio visitou todas as passarelas e encontrou diversos problemas nas estruturas (veja arte). Em muitas delas, há fezes e urina no chão e tampas de esgoto quebradas ou insuficientes. A falta de iluminação também é preocupante, pois os túneis se transformam em abrigo para moradores de rua e pontos para o consumo ou tráfico de drogas ; não é raro encontrar nas passagens latas usadas para consumo de crack. A situação é mais preocupante nas passarelas das duas últimas quadras da Asa Norte. Nesses locais, não há nenhuma lâmpada. Os azulejos das paredes estão destruídos ou descolados. E o piso revela buracos.

A diarista Loiane Dias Caldeira, 25 anos, mora em Planaltina e trabalha na 116 Norte. Duas vezes por semana, ela caminha pelo atalho subterrâneo com medo de ser assaltada. Além da falta de policiamento, ela reclama que a passarela precisa de reforma e de limpeza periódicas. ;À noite, os túneis ficam cheios de usuários de drogas. Tenho que passar pelos Eixinhos e pelo Eixão para chegar até a parada de ônibus e, assim, coloco a vida em risco;, comentou.
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Quem também teme pela própria segurança é a autônoma Liége Almeida, 27 anos. Ela mora na 111 Norte há três meses e, quatro vezes por semana, leva a filha, Julia, 3, à escola, na 212 Norte. Ela contou que, nas primeiras semanas, se recusava a passar pela passarela, porque o medo de ser assaltada a incomodava. ;Ainda tenho medo, mas me acostumei. Prefiro trazer a Julia no carrinho, porque caminho mais rápido. Toda segunda-feira encontramos latinhas de crack espalhadas pelo piso. É horrível;, lamentou.

Escuridão
À noite, os problemas estruturais das passagens subterrâneas do Plano Piloto se somam a outros. A escuridão e o forte cheiro de urina se transformam em refúgio para ratazanas , usuários de crack e ladrões. Entre às 23h e 0h35, nenhum policial militar foi visto nos arredores das passagens. Sem policiamento em ambas as regiões, quem tem de atravessar de um lado a outro do Eixão prefere arriscar a vida no asfalto.
Na passagem subterrânea da 115 Norte, azulejos descolados são ameaça
Na madrugada de ontem, por volta das 0h20, próximo ao Hospital de Base do Distrito Federal, na passagem entre as quadras 101/102 Sul e 201/202 Sul, a reportagem flagrou traficantes vendendo crack na entrada do buraco. Três homens, um deles com uma mochila, passaram a droga para outros dois. Ao reparar no carro do Correio, o trio fugiu. Enquanto isso, a dupla desceu as escadas, sentou-se na passarela e consumiu o entorpecente. O uso de crack não é exclusivo das quadras mais próximas do centro de Brasília. Na passagem que liga a 109/110 Sul com a 209/210, a reportagem encontrou latinhas de refrigerante furadas, que são utilizadas como cachimbo para o consumo da droga.

Em mais de uma hora a circular pelas passarelas durante a madrugada, a única pessoa encontrada atravessando o Eixão pelo subsolo foi o vendedor Felipe Souza, 22 anos, da 111 Norte. ;Eu nunca tive problema, mas já ouvi várias histórias de assalto. Mas, se estou passando e vejo alguém vindo no sentido contrário, subo para o Eixão e vou por cima. Nas escuras, eu não passo mesmo. Já vi até gente usando drogas;, contou.

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