Cidades

Floração do ipê-roxo marca a paisagem do DF e anuncia a nova estação

Flávia Maia
postado em 09/06/2011 07:20
Carlos Silva/CB/D.A PressA chegada de uma nova estação no Cerrado chama mais a atenção pelas cores do que pela mudança brusca de temperatura. Quem nasceu ou vive no Planalto Central sabe que, quando o capim verde se torna dourado e o ipê-roxo se destaca na paisagem, é sinal de que o inverno está próximo. Apesar da coloração puxada para o lilás, as árvores que primeiro floreiam as ruas de Brasília são as de flores roxas. Só depois as outras variedades de ipê ; amarelo, branco, preto, verde e rosa ; colorem a paisagem da capital.

Como cada cor tem o período específico para florescer, o brasiliense pode contar com as ruas floridas a partir de agora. Os exemplares no fim do Eixão Norte, na Avenida das Nações, na Catedral e em frente ao Ministério da Defesa, na Esplanada dos Ministérios, se exibem ao público. ;Brasília é privilegiada em relação aos ipês. Eu fico esperando a hora que vai florescer e não tem um ano que ele não floresça;, diz, encantado, o técnico de laboratório Sérgio Rubens Ribeiro, 59 anos.

Os últimos ipês a começarem a florir são os de coloração branca e rosa-claro. Aparecem entre o fim de setembro e o início de outubro. Por causa do florescimento rápido ; em cinco anos, a árvore começa a dar flores ; essas árvores são bastante usadas no paisagismo de várias cidades brasileiras. Por isso, a familiaridade e a simpatia dos cidadãos pela espécie que está no seu dia a dia.

No Distrito Federal, existem várias espécies de ipê-roxo. As mais comuns são a Tabebuia heptaphylla e a Tabebuia impetiginosa, ambas típicas do cerrado. Porém, a professora de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB) Carmen Regina Correia diz que na capital do país existem exemplares de outros biomas, como a Mata Atlântica e a caatinga. ;Por isso, você vê flores diferentes, algumas salpicadas na copa da árvore, outras do tipo buquê;, explica.

Típicos da região do Cerrado, os ipês também são encontrados no Pantanal, em áreas de transição para a Amazônia em estados do Nordeste. Para a estudante de química Laiz de Oliveira, 18 anos, a beleza da espécie está justamente em não parecer com as árvores da região. ;Eu não acho o Cerrado muito bonito, não, mas o ipê é bonito, porque é diferente. Não é baixinho nem retorcido e dá flores;, conta.
Destaque e curiosidade: na altura da 416 Norte, exemplares de ipê-roxo esbanjam beleza na paisagem seca do Cerrado candango.
O ipê-roxo atinge o auge da beleza por volta dos 30 anos. Nessa idade, a árvore chega ao pico do crescimento. A média de altura varia de 12 a 15 metros, mas o tronco pode chegar a 20 metros. De acordo com a professora Carmen Regina, quem quiser plantar um exemplar em casa não terá muito trabalho. A semente é pequena e fica envolvida em uma fina película. Quando plantada, é fácil de pegar no solo. ;Ela é alada, pronta para voar. Como é leve, chega em lugares distantes. Por isso, vemos tantos ipês espalhados;, revela a professora. Além da estética, a espécie tem valor econômico por causa da madeira e do uso medicinal.

Os ipês têm uma estratégia curiosa para resistir à falta de chuvas. O segredo está na raiz, que é profunda e alcança as reservas de água do subsolo. Para diminuir o gasto de energia e aproveitar melhor o escasso recurso hídrico da época, a árvore perde as folhas durante a estiagem. Nesse mesmo período, surgem as flores, que contribuem para a preservação da espécie, atraindo os polinizadores. As diferentes cores são para atrair insetos e pássaros, que acabarão por distribuir as sementes.

As áreas públicas do Distrito Federal contam com pelo menos dois outros tipos de ipês, além do roxo: os amarelos (Tabebuia serratifolia) e os brancos (Tabebuia roseo-alba). Não se sabe ao certo a quantidade dessas árvores que enfeitam a capital do país. A cidade permanecerá pintada pelos ipês-roxos até o fim de agosto. Depois, chega a floração do amarelo, que vem entre julho e outubro. As flores do ipê-branco desabrocham apenas no fim da seca, entre setembro e outubro.

Em perigo
O Cerrado é um dos mais antigos biomas brasileiros. E, atualmente, é considerado um dos hotspots de biodiversidade do planeta. Hotspot é uma área de alta biodiversidade, que vem sofrendo ameaça de destruição. Assim, a vegetação é considerada prioritária para a conservação. Apesar disso, o bioma não aparece como patrimônio nacional na Constituição Brasileira, como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, a zona costeira e o Pantanal Mato-Grossense. Como não figura patrimônio, ele não tem garantias legais de preservação.

Economia e saúde
O ipê é valorizado pela resistência, dureza e flexibilidade. Outra vantagem é aguentar a umidade. Desse modo, ele é usado em construções civis e navais, em edificação de pontes, na confecção de postes, entre tantos outros. Já no uso medicinal, o que interessa é a casca, a entrecasca e a folha do ipê, sendo usadas no tratamento de amigdalites, estomatites, infecções renais, dermatites, varizes e certas doenças dos olhos.

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