Antonio Temóteo
postado em 11/06/2011 08:00
A redução de 30% da frota de ônibus no Distrito Federal nos horários de pico durante a semana começa a pesar no bolso dos passageiros. Os que trabalham por conta própria, como diaristas, reclamam ter perdido seus compromissos ao longo da semana. E quem precisa bater ponto nas empresas e órgãos públicos também teve dificuldades para cumprir o horário de chegada. Os transtornos podem ser agravados a partir da próxima segunda-feira, quando os rodoviários têm greve marcada. A categoria se reúne em assembleia amanhã, às 9h. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) indeferiu ontem pedido dos empresários para barrar o movimento dos rodoviários.
A diarista Fátima Cassimiro, 48 anos, garante ter sofrido ao longo da semana. Moradora de Santa Maria, ela faz faxina no Núcleo Bandeirante. No começo da manhã de ontem, teve de esperar mais de duas horas para pegar um ônibus. ;Estão lotados e nem param quando passam em algumas paradas. Essa semana, deixei de ir ao trabalho por três dias. Perdi R$ 240 porque está difícil pegar uma condução. Vou ter que me virar para pagar a prestação de um eletrodoméstico que comprei. Essa situação é uma vergonha;, disse, revoltada.
Também moradora de Santa Maria, a cabeleireira Vanda Mendes, 29 anos, se atrasou três vezes na última semana para trabalhar na 315 Sul. Todos os dias, ela costuma chegar ao ponto de ônibus às 7h50 para entrar no serviço às 9h. Na última semana, só conseguiu transporte às 9h30. ;Essa é a quarta vez que vou chegar fora do horário. Deixei de atender pelo menos oito clientes todos esses dias e tive um prejuízo de pelo menos
R$ 200.Na semana que vem, corro o risco de não ir trabalhar porque só tenho como ir para o salão de ônibus. Não sei se conseguirei uma carona;, lamentou ontem.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários, João Osório, afirmou que a categoria tem noção dos prejuízos causados à sociedade. ;Essa situação é um drama. Isso só ocorre porque o governo permitiu que os empresários tomassem conta do transporte público no DF. Estamos à inteira disposição para negociar e esperamos até domingo (amanhã).
A paralisação é a última alternativa da classe. Até tentar criminalizar o movimento, os empresários tentaram;, detalhou.
Na última quinta-feira, o TRT da 10; Região negou o pedido das empresas de ônibus para que o movimento dos rodoviários fosse considerado abusivo. O desembargador José Leone Cordeiro Leite extinguiu a medida, sem análise do mérito. Ontem, o presidente do tribunal, Ricardo Alencar Machado, também indeferiu o pedido dos donos de ônibus.
Medidas
O Governo do Distrito Federal (GDF) promete estender em uma hora a operação de 25 trens do metrô nos horários de pico, a partir de segunda-feira, para tentar diminuir os transtornos dos passageiros. Segundo a assessoria da Companhia do Metropolitano, esse procedimento será mantido enquanto o número de ônibus que circulam no DF for reduzido devido à paralisação.
O Transporte Urbano do DF (DFTrans) emitiu, durante a semana, 528 autuações contra os donos de ônibus. Do total, 402 são referentes ao descumprimento das rotas. Também foram multados proprietários de 11 carros e vans flagrados fazendo transporte pirata. O Sindicato das Empresas de Ônibus limitou-se a informar, por meio da assessoria de imprensa, que estuda como equalizar os problemas causados pela retirada de circulação dos veículos. A entidade também avalia a possibilidade de oferecer uma proposta aos rodoviários, mas espera que o GDF se posicione sobre o reajuste da tarifa de ônibus, já descartado pelo Executivo local.
Impedimento
Essa ação é um desdobramento da decisão da juíza da 3; Vara do Trabalho, Rosarita Machado de Barros de Caron, que considerou ilegal a cláusula de produtividade que constava na convenção coletiva firmada entre rodoviários e donos das empresas de transporte público no ano passado. O item permitia que, além da jornada de seis horas diárias, motoristas e cobradores trabalhassem mais nos horários de pico. São esses ônibus que não estão circulando e correspondem a 30% da frota.