A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia, aberta em fevereiro, já coleciona reclamações. Ontem pela manhã, quem chegasse ao local à espera de atendimento era orientado a ir para casa e voltar mais tarde. Motivo: não havia médico de plantão. Dois pacientes ; um adolescente com corte no pé e uma mulher com ferimentos nas mãos ; tiveram de procurar outra unidade de saúde. A UPA é a primeira 24 horas do Distrito Federal e custou R$ 3 milhões ; R$ 400 mil pagos pelo GDF e o restante pelo Ministério da Saúde.
Revoltado com a situação, o motoqueiro Sebastião Domingos, 29 anos, desabafou após esperar das 7h às 14h para ser atendido: ;Do que adianta estar tudo novinho, se não tem gente para atender a população?;, reclamou. Com a receita médica em mãos, ele foi embora inconformado. ;Só fiquei porque não podia voltar para casa passando mal.;
Com fortes dores de cabeça, o ajudante de pedreiro Joaquim Fernandes, 41, procurou a UPA após tentar e não conseguir atendimento no Hospital de Santa Maria. ;Onde vai ter médico? Você chega aqui, encontra boa estrutura, mas falta gente. Tanta propaganda e o lugar não funciona direito: é um absurdo;, reclamou, enquanto ainda aguardando sua vez.
Apesar dos recentes investimentos feitos na saúde pública, tida como a prioridade pelo atual governo, a população mantém as queixas sobre o sistema. Nas emergências de hospitais
e centros de saúde, pacientes protestam pela falta de médicos, pela demora no atendimento e pelo desrespeito à
prioridade a idosos.
Após receber reclamações por telefone, o Correio percorreu ontem quatro unidades e constatou a situação precária relatada por pessoas que aguardavam até sete horas para serem atendidas. Na hora do almoço, o funcionamento fica ainda mais comprometido. Com dores no corpo, febre e vômitos, pacientes são orientados a esperar. Ao tentar buscar informações no balcão ou com vigilantes que controlam o acesso aos consultórios, as explicações são, na maioria das vezes, vazias e fornecidas de maneira grosseira.
Emergência
A emergência mais tumultuada era a do Hospital Regional do Gama (HRG), onde por volta das 14h ao menos 60
pessoas ocupavam as cadeiras do pronto-socorro. O instrutor de auto-escola Jarismar dos Santos, 40 anos, acompanhava o filho de 13 que passava mal e ouviu do recepcionista que havia somente um profissional atendendo. ;Acabei de chegar do Hospital de Santa Maria e lá não tinha era ninguém;, comentou, pessimista. ;Pelo jeito, vou passar a tarde aqui.;
No Hospital Regional de Ceilândia (HRC), ninguém sabia informar quantos médicos estavam de plantão. ;Faz mais de meia hora que pararam de chamar. É sempre a mesma coisa: a gente precisa ficar se humilhando para ser atendido;, disse o operário Carlos Magno, 33, acompanhado da esposa, que não se sentia bem desde a noite anterior. ;Tem que esperar. Vou fazer o quê? A gente é pobre. Se não tem condições de pagar plano de saúde, tem que aceitar isso.;
Com muita tosse e vômito, Gentileza Alves dos Reis, 74, diabética, com pressão alta e recém-recuperada de um câncer no útero, esperava há quase duas horas alguma satisfação no HRC. ;É uma vergonha. Uma senhora dessa idade; Isso porque é a capital federal e o governador é médico. Imagina se não fosse;, afirmou o filho José Balbino, 46.
A Secretaria de Saúde informou que, na manhã de ontem, dois clínicos gerais deveriam estar trabalhando na UPA de Samambaia, mas um faltou ao serviço. O outro passou a maior parte do tempo dedicado aos cuidados de um paciente em estado gravíssimo, com fígado e rim comprometidos. Por esse motivo, o funcionamento da unidade ficou prejudicado e só voltou ao normal na parte da tarde, quando dois médicos assumiram o plantão. Sobre a orientação dada aos pacientes de ir para casa, a secretaria justificou que servidores novos ;ainda não sabem exatamente o que significa restringir atendimento;. E destacou que se alguém necessitasse de primeiros socorros, como ocorreu, o atendimento deveria ter sido realizado.
Eu acho...
;Cada dia, a saúde fica pior. A gente ouve promessa, espera melhora e nada. Não tem como acostumar com a demora no atendimento. Quem está doente tem pressa. Minha filha de 10 anos machucou o dedo na escola, a gente vem aqui e encontra essa confusão. Estou pensando em me virar para pagar um plano de saúde, pelo menos para o casal de filhos;.
Clóves Elizeu Silva,
40 anos, técnico em telefonia, morador de Taguatinga