O Noroeste, futuro e badalado bairro do Plano Piloto, cresce em dois ritmos. Embaladas pelo alvoroço inicial na venda dos imóveis, as empreiteiras erguem esqueletos às pressas, enquanto as obras de infraestrutura do governo engatinham. A preocupação é que, assim como ocorreu no Sudoeste, os primeiros empreendimentos fiquem prontos ; no segundo semestre de 2012 ; e os moradores não tenham condições adequadas para morar.
Na última semana, o Correio passou duas manhãs no mais novo canteiro de obras do Distrito Federal. Na área de 821 hectares que deve abrigar 40 mil pessoas, há ruas abertas em meio ao cerrado, rotatórias prontas e 11 prédios iniciados. As redes de água, luz e esgoto, no entanto, ainda não saíram do papel. A reportagem encontrou uma única equipe trabalhando para o governo: dois técnicos instalavam, na quarta-feira, um gerador provisório para garantir energia elétrica a algumas construções.
Para que as obras sejam concluídas no prazo previsto, construtoras têm alugado caminhões-pipa e geradores. ;É um desbravamento;, define o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Júlio Cesar Peres. Segundo ele, as empresas donas de lotes de 1,5 mil metros quadrados pagaram R$ 300 mil de Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) no início do ano. ;E, ainda assim, falta o básico do básico;, reclama.
Além da demora na instalação dos serviços públicos programados para o bairro, o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), Adalberto Valadão, ressalta o atraso no início dos trabalhos no parque Burle Marx. ;Historicamente, quando surge um novo setor habitacional, o governo do DF tem a mania de andar devagar;, diz ele, antes de citar que Águas Claras carece de infraestrutura quase 20 anos após a entrega dos primeiros prédios.
Mesmo com esse cenário desestimulante, o mercado sustenta que as vendas continuam aquecidas e o preço do metro quadrado no bairro ecológico não para de subir. Números exclusivos da Lopes Royal mostram que, até maio deste ano, as transações no Noroeste movimentaram R$ 3,2 bilhões. O levantamento inédito indica que foram lançadas 33 das 209 projeções residenciais, totalizando 3.506 unidades, com valor médio de R$ 932.271.
Alto padrão
A febre em torno do Noroeste transformou o último setor a ser construído na área tombada de Brasília em um dos lançamentos imobiliários mais cobiçados do país. No fim de 2009, o Correio divulgou que quitinetes eram ; e ainda são ; vendidas a meio milhão de reais. Desde o primeiro lançamento, o preço do metro quadrado de apartamentos de um quarto cresceu 9,4% (de R$ 9,5 mil para R$ 10,4 mil) e o de dois, três ou quatro cômodos saltou 25% (de R$ 7,8 mil para R$ 9,7 mil).
Nos primeiros meses de 2010, o movimento nos estandes de vendas do Noroeste caiu. Construtoras chegaram a adiar lançamentos e corretores foram treinados para transmitir segurança de que as obras iniciadas não seriam afetadas pelo escândalo político. O problema era que os próprios empresários temiam as consequências da crise. Diante das indefinições no âmbito administrativo, o futuro bairro ficou em banho-maria.
No entanto, passado o momento de turbulência, o mercado imobiliário, que já retomou o ritmo das construções dos prédios, torce para que as obras públicas sejam aceleradas. ;As empresas têm feito a parte delas, mas precisamos do apoio do governo para que tudo esteja pronto quando os empreendimentos começarem a ser entregues;, comenta o diretor executivo da Lopes Royal, Marco Antônio Demartini. Ele nega que as vendas tenham sido afetadas pelas incertezas políticas e defende: ;Será o melhor bairro de Brasília;. O presidente da Associação de Compradores de Imóveis do Setor Noroeste, Lindolfo Magalhães, teme que o atraso na infraestrutura afete o mercado. ;Já tem gente com dificuldade de vender o ágio;, afirma.
Ibram aplica multas
O Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ibram) multou, na última semana, a Terracap e cinco construtoras em atuação no Noroeste ; os nomes das empresas não foram divulgados ; por descumprimento de nove das 70 determinações previstas no Plano de Gestão Ambiental de Implantação do Noroeste (PGAI). Exemplos: areia retirada dos canteiros despejada em locais não licenciados; ausência de controle de entrada e saída de caminhões; e presença de ambulantes na área. As empresas receberam multa de R$ 4.985 e a Terracap, R$ 249 mil. Cabe recurso.