Cidades

Adolescentes da nova década suam a camisa para iniciar um relacionamento

Flávia Maia
postado em 12/06/2011 08:00

Quem consegue um namorado ou uma namorada na adolescência precisa mesmo comemorar a data que homenageia os casais apaixonados. Afinal, até fazer o comunicado oficial à família, a saga costuma ser longa. O casal geralmente se conhece na balada e troca endereços eletrônicos. Depois, os dois começam a teclar, saem juntos algumas vezes, ficam de rolo por um tempo e, só então, decidem se vão ou não engatar um namoro. O jovem que passa o 12 de junho nesse limbo ainda convive com a dúvida sobre se deve dar ou não um presente para aquele com quem ainda não é formalmente comprometido. ;Namoro é responsabilidade. A gente acaba largando coisas da juventude, por isso é mais difícil assumir o namoro;, afirma o estudante Thiago da Silva Costa, 17 anos.

Dayver e Jéssyca cumpriram todas as etapas até oficializarem o compromisso: três mesesAté pedir Jéssyca Rayssa Riguete Distreti, 17 anos, em namoro, Dayver Clavo Medeiros Veiga, 17, cumpriu todas as etapas. Os dois se conheceram no acampamento da igreja. Mas ele não pegou o contato virtual de Jéssyca. A saída foi procurar o perfil do Orkut da jovem na internet. Quando encontrou, não chegou a pedir para adicioná-la. ;Eu sabia que quando visitasse a página dela, ela saberia. Eu queria que ela me adicionasse, para não dar muito na cara o meu interesse;, revela. Após um mês de conversas na rede, eles se encontraram no primeiro dia de aula no Centro de Ensino Médio Setor Leste e finalmente ficaram juntos. ;Na internet, dá para ser mais ousado. Lembro que no primeiro dia eu disse para Jéssyca que ela ia ser minha;, conta o garoto.

Da primeira ficada até o namoro, foram três semanas. Hoje, o casal comemora três meses de união. Se tivessem começado o relacionamento na primeira semana em que se conheceram, somariam seis meses juntos. Mas quem é rápido no gatilho e quer pular as etapas da conquista pode ser mal interpretado pelo companheiro. ;Se o cara pede a menina em namoro no dia seguinte do primeiro beijo, ela vai achar que ele é imaturo;, revela Thiago. No caso das meninas, o jeito é esperar todas as fases para não parecer que elas estão forçando um relacionamento. ;Hoje é mais difícil assumir um namoro, a gente ;fica ficando; até perceber que, no fundo, estamos namorando. Aí, ou namora ou cada um vai para o seu lado;, explica Yasmim Emanuelle de Paula Machado, 17 anos.

Para os jovens, o início do namoro é um passo importante e deve ser muito bem avaliado. Por isso, a escolha da maioria é manter-se solteiro para poder conhecer vários parceiros. ;Para eu namorar, a menina tem que ser legal, com papo bom ;, conta Thiago, que mantém um compromisso há oito meses.

Para os que optam por permanecer solteiros, os relacionamentos passam por mutações. Ficar com uma menina por uma noite inteira significa ;estar casado; neste dia. Se ele continuar com a menina, ele ;vai ficando; e o relacionamento ganha fôlego. Quando se estabelece um pacto de exclusividade com o parceiro de ficadas, institui-se um rolo sério.

Mas a fidelidade, mesmo no namoro, pode ser rompida. ;Ninguém acredita que você é fiel, nem mesmo o seu namorado. Todo mundo acha que o jovem fiel está desperdiçando a vida;, diz Gabriela Galvão de Sousa, 16 anos. Ela é um dos casos raros nessa faixa etária. Há três anos, ela mantém um namoro. A estudante tem inclusive uma filha de nove meses com o namorado, Gabriel Araújo Rezende Costa, 20. ;Ainda não moramos juntos, mas, quando eu terminar os estudos, nosso plano é o casamento;, conta. Gabriela também é uma das únicas que pensa na união eterna. ;Quase ninguém namora mais do que um ano, porque vai tendo muita intimidade e vai perdendo a graça;, conta Dayver que, com 17 anos, está na terceira namorada.

Para a professora Ana Cláudia Bortolozzi Maia, do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a procura por vários parceiros demonstra carência e a busca do par ideal. ;Eles idealizam tanto a pessoa amada, que qualquer desavença é motivo de desilusão e fim do relacionamento. Achar outro parceiro é fácil;, explica. Para ela, apesar de o tema sexualidade ser mais falado e comentado nas famílias e na mídia, os adolescentes ainda sofrem pressão para transar com os parceiros ;ficantes; para não se sentirem excluídos do grupo. ;Eu sou a favor da autonomia do jovem em poder escolher a hora em que ele quer perder a virgindade;, afirma.

Resistência dos pais
Mesmo com a mudança nas formas de se relacionar dos jovens, a resistência dos pais ao namoro e os tabus ligados à sexualidade continuam, principalmente no caso das meninas. ;Eu tremi muito na hora de contar para o meu pai que estava namorando;, revela Yasmim Emanuelle, comprometida há sete meses. ;Primeiro, mostrei uma foto do Dayver para minha mãe e disse: ;Ele é bonitinho, né?;. Dias depois, resolvi contar.; ;Minha mãe nunca conversou comigo sobre sexo, acho que ela tem vergonha. Mesmo depois da gravidez, ela não fala. Eu vou conversar sobre sexualidade com a minha filha;, comenta Gabriela, mãe de Pietra.

Impor regras sem explicar a razão é o principal motivo que leva os filhos a não conversarem com os familiares e, inclusive, a temerem as reações. ;Os pais esquecem que foram jovens. Eles não precisam ser completamente permissivos, mas também não podem ser repressores. Essas duas situações geram insegurança na garotada;, acredita a psicóloga Ana Cláudia. Para ela, o diálogo deve começar na infância. Além disso, a especialista acredita que não basta o adolescente ter informações sobre métodos contraceptivos. O apoio familiar também é essencial. ;O que adianta saber que tem a pílula se a mãe não leva a filha ao ginecologista para pegar a receita do remédio?;, questiona.

O ABC dos jovens pombinhos


Estar casado:
passar a noite com a mesma pessoa

Pegar ou ficar:
beijar várias pessoas em uma única balada

Ficar ficando ou rolo:
o casal passa a se encontrar repetidas vezes e inicia um relacionamento informal

Namoro:
relacionamento oficial, com conhecimento da família


Ficar, mas com regras

A expressão ;ficar com; surgiu na década de 80 e representa uma nova condição de relacionamento em que as pessoas mantêm contatos físicos e afetivos durante um período determinado de tempo, sem que isso signifique a criação de um vínculo duradouro.

O ;ficar com;, apesar de aparentar uma grande liberdade sexual, está repleto de regras. Essas normas são determinadas de acordo com o grupo social (idade, classe social e educacional) e momento histórico em que os jovens estão inseridos.

A psicóloga Ana Cláudia Bortolozzi Maia considera esse comportamento um avanço nas relações afetivas, pois acredita que há maior possibilidade de escolher parceiros e experimentar as sensações prazerosas do toque com o outro sem que esse relacionamento necessariamente leve ao ;casamento;. Para ela, esse é um fator importante no desenvolvimento afetivo do adolescente.

No entanto, a especialista alerta para uma possível banalização das relações. ;Transformam a pessoa em um objeto, que pode ser usada e jogada fora, o que muitas vezes pode provocar frustrações;, avalia.

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