Cidades

Vítima conta como alertou a polícia e reféns procuravam rezar

Antonio Temóteo
postado em 15/06/2011 08:11
A empregada doméstica Maria Lucia Bianquini, 50 anos, chegou ao Distrito Federal no último dia 24 para acompanhar o marido e pedreiro, Ademar Bianquini, 51, contratado para fazer uma reforma na casa da família Sartori. Moradores de Ribeirão Preto (SP), os dois trabalham para o empresário Adécio Sartori, 67, há mais de uma década. Na manhã de ontem, o casal acordou às 6h30 e tomou café. Ademar e o ajudante José Augusto da Silva, 50, subiram ao telhado para continuar o serviço.

Enquanto os pedreiros removiam parte das telhas, Maria assistia à televisão em um cômodo da casa, com a porta fechada, próximo ao portão de entrada. A dupla de trabalhadores viu o momento em que Bruno Leonardo da Cruz, 29 anos, e Adelino de Sousa Porto, 54, renderam, com um revólver calibre .38, a freira Clara Dias, 55. Ela chegava para visitar a família Sartori e acabou obrigada a tocar o interfone. A proprietária da residência, Carmen, 55, abriu a porta, e os bandidos anunciaram o assalto. Além de Carmen e Clara, eles fizeram reféns Mariana Sartori, 24, Mirian Sartori, 26, grávida de seis semanas, e o namorado de uma delas.

Do quarto dela, Maria ouviu a conversa entre os bandidos e Carmen. Nervosa com a situação, ela teve a frieza de desligar a televisão. Vestida com uma camiseta branca, um short jeans azul claro e um chinelo de dedos, a empregada aguardou cerca de 20 minutos para decidir se permanecia no local ou se arriscava sair da casa. ;Fiquei muito nervosa e não sabia o que fazer. Esperei bastante e, quando achei que ninguém estava na entrada, corri para fora. Meu marido confirmou do alto que era um assalto. Pedi ajuda aos vizinhos e chamei a polícia. Foi uma situação horrível. Também fiquei com medo de acontecer alguma coisa com o Ademar;, relatou Maria.

Os pedreiros também ficaram assustados com a situação, mas mantiveram a calma e esperaram uma oportunidade para tomar a mesma decisão. Em cima do telhado, os dois viram quando o namorado de uma das filhas fugiu no momento em que os criminosos avistaram a polícia e se assustaram. Bruno e Adelino ainda tentaram escapar pelo teto da casa. Segundo Ademar, pelo hálito, os dois pareciam ter consumido bebidas alcoólicas quando chegaram até o alto da residência. ;Eles disseram apenas para não falarmos nada e passaram para a casa vizinha. Nesse momento, descemos rápido. Ainda olhamos alguns quartos, mas não encontramos ninguém. Nunca imaginei que uma coisa como essa poderia acontecer. Graças a Deus estamos bem;, disse Ademar.

Reza
As quatro mulheres que permaneceram na casa se apegaram à fé para permanecer em condições de dialogar com os sequestradores. Nos momentos em que os negociadores da Polícia Militar suspendiam as conversas, eram elas quem aconselhava a dupla. Mesmo no cárcere e sob a mira de um revólver, Carmen e as filhas, além da freira, passaram boa parte das mais de seis horas de agonia rezando. Demonstrando serenidade, Carmen chegou a oferecer biscoitos e água aos criminosos. O tratamento cordial fez com que os bandidos passassem a lidar com as vítimas com respeito, apesar do clima de tensão.

Ao Correio, Mariana contou em detalhes os momentos mais difíceis do sequestro (leia depoimento). Ela disse que teve a oportunidade de ficar escondida no quarto, mas preferiu fazer companhia à mãe e à irmã, que já se encontravam em poder dos ladrões. ;Fiquei com medo de eles invadirem o meu quarto. Os dois não chegaram a apontar a arma para mim nem ficaram nervosos. Só pediram para eu me juntar à minha mãe, à minha irmã, que chorava muito, e à irmã (freira);, relembrou.

Católicos
A família Sartori é influente entre os católicos do DF. O patriarca Adécio Sartori, 61 anos, é ministro de eucaristia na Paróquia Santo Antônio, na 911 Sul, e mantém diversos trabalhos ligados à igreja. Já foi candidato a deputado distrital duas vezes. Na última eleição, teve cerca de 7 mil votos, concorrendo pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), desempenho que o credenciou para ocupar o cargo de segundo suplente no partido. Ele também é locutor de um programa na Rádio Nova Aliança, estação da qual é um dos fundadores. Carmen e Adécio têm seis filhos, entre 19 e 26 anos. Todos são ligados à igreja. Adécio estava na paróquia no momento do crime.

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