Cidades

Bandidos invadem casa e mantêm quatro mulheres como reféns

Antonio Temóteo
postado em 15/06/2011 08:15
A família Sartori reside no sobrado de três pavimentos e desenvolve atividades na Paróquia Santo Antônio, na 911 Sul. Missionários, aguardavam a visita de uma integrante da igreja, a freira Clara Dias, 55 anos. Segundo testemunhas, a religiosa tocou a campainha por volta das 9h30, na residência dos Sartori, no Bloco K da 711 Sul. Na hora em que a porta foi aberta, dois bandidos surpreenderam a irmã Clara. Começava aí um pesadelo que durou seis horas, mobilizou 80 policiais e mais uma vez colocou em questionamento a segurança pública no Distrito Federal.

Armados com um revólver .38, Bruno Leonardo Vieira da Cruz e Adelino de Souza Porto seguiram para o interior do imóvel, onde se encontravam a servidora pública aposentada Carmen Sartori, 55; duas filhas dela, Mariana, 24, e Mírian, 26, grávida de seis semanas; e o namorado de uma delas, que conseguiu escapar num momento de distração dos criminosos.

Quando os assaltantes chegaram à casa, dois pedreiros faziam reformas. Maria Lúcia Bianquini, 50 anos, mulher de um dos trabalhadores, assistia a televisão em um quarto próximo ao portão de saída. Ao perceber a movimentação estranha do lado de fora, desligou o aparelho e ficou quieta. Segundo ela, os bandidos seguiram em direção à cozinha, na parte dos fundos. Maria Lúcia decidiu, então, fugir. ;Ninguém me viu. Saí correndo, pedi ajuda aos vizinhos e chamei a polícia;, relembrou.

Por volta de 10h, equipes de segurança fecharam o cerco à 711 Sul. Interditaram a via W5, evacuaram a rua, buscaram reforço e deram o início ao processo de resgate das vítimas. Policiais militares foram convocados para a negociação. De acordo com a PMDF, enquanto isso, os ladrões ameaçavam as mulheres e consumiam maconha e cocaína na casa.

Liberação
Após as primeiras conversas, os negociadores aceitaram o pedido de Bruno da Cruz e trouxeram uma pessoa para representá-lo perante a Justiça. Segundo o advogado Fábio Torres, convocado para a missão, Bruno queria se entregar desde o horário do almoço, mas tinha medo de ser agredido. Em um diálogo com os policiais, a dupla topou soltar Mírian. A gestante foi a primeira a ser liberada, às 12h53. Recebeu atendimento do Corpo de Bombeiros e foi encaminhada para o Hospital Naval, próximo à casa. A direção da instituição informou que ela passa bem e que ouviu pela primeira vez os batimentos cardíacos do filho.

As outras três ainda enfrentaram mais duas horas de agonia dentro da casa. Como estratégia de resgate, a polícia pediu o desligamento da energia da quadra. No calor da emoção, irmã Clara passou mal e desmaiou. Os assaltantes se desesperaram e pediram socorro aos negociadores e demais autoridades de segurança que cercavam o imóvel. Às 15h17, a freira saiu em uma maca em direção ao Hospital Naval. Às 15h46, Bruno liberou Carmen e Mariana e se entregou. Só ficou dentro da casa Adelino, que se entregou depois de 14 minutos.

Diácono chamado
Os amigos e familiares dos assaltantes compareceram à 711 Sul depois de saber do assalto pela tevê. O diácono Manoel Luiz Tranquilino do Nascimento, 64 anos, foi quem convenceu Bruno a se entregar, por telefone, após autorização para fazer a ligação. O criminoso exigiu a presença do religioso. Os dois se conheceram no Complexo Penitenciário da Papuda, durante visita da Pastoral Carcerária, grupo que desenvolve trabalhos com os presos. ;Disse que ele poderia se entregar porque a polícia garantiu a integridade física dele;, relatou Manoel Luiz.

Apesar do trauma, todas as vítimas passam bem. Os policiais prenderam em flagrante Bruno da Cruz e Adelino Porto às 15h46. Até o fechamento da edição, os bandidos continuavam na 1; Delegacia de Polícia. A dupla responderá por roubo triplamente qualificado, com restrição de liberdade, uso de arma de fogo e por ter envolvido mais de uma vítima. A pena prevista é de 15 anos

Na avaliação da polícia, o caso configura um assalto à mão armada desde os primeiros instantes. Os investigadores da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, apuraram que os ladrões renderam os moradores com revólver, retiraram objetos de dentro da casa e pediram dinheiro das vítimas. ;Eles anunciaram o roubo e começaram a subtração dos pertences. Depois, exigiram uma quantia. Mas não havia dinheiro no local. Se eles tiveram alguma informação privilegiada, essa informação foi equivocada;, explicou o chefe da 1; DP, Watson Warmiling. ;São pessoas perigosíssimas, com passagens diversas e de extrema periculosidade;, acrescentou o delegado.

Os criminosos
; Adelino de Souza Porto, 54 anos
Tem antecedentes criminais de roubo qualificado e um homicídio,
em 2003. Segundo familiares, foi condenado a 28 anos de prisão.
Foi beneficiado por uma saidão em maio de 2010 e não voltou para o Centro de Progressão Penitenciário no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), onde cumpria pena em regime semiaberto. Residia atualmente na chácara de parentes em Samambaia.

; Bruno Leonardo Vieira da Cruz, 28 anos
Os antecedentes criminais registram crimes como porte de armas, roubo e lesão corporal. Estava em liberdade condicional desde abril deste ano. Morava na QR 621 de Samambaia.

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