Luiz Calcagno
postado em 16/06/2011 07:29
Um dia após o sequestro de quatro reféns na 711 Sul, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) anunciou a preparação de um pacote de medidas para conter o avanço da violência na capital do país, especialmente no Plano Piloto. Um dos principais pontos da estratégia será a convocação dos policiais militares em folga para a realização de operações pontuais. Também haverá a redistribuição do policiamento ostensivo, além da efetivação de 1,3 mil homens entre setembro de 2010 e janeiro de 2012. Enquanto isso, especialistas, conselheiros comunitários e moradores criticam as atuais escalas da Polícia Militar, que poderiam ser repensadas para garantir mais PMs nas ruas.O secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, revelou as mudanças após uma reunião com a cúpula da corporação, realizada na manhã de ontem. No encontro, o secretário e o chefe de Estado Maior da Polícia Militar, coronel Alberto Pinto, discutiram como farão para redistribuir o patrulhamento. Além disso, segundo Avelar, a SSP-DF se articula com outras secretarias do Governo do Distrito Federal (GDF) para realizar operações de combate ao tráfico de drogas. ;No Plano Piloto, muitos dos casos de criminalidade estão ligados ao consumo de crack;, afirmou Avelar (leia Entrevista).
A SSP-DF, que ontem admitiu deficit de 4 mil PMs, pretende ainda reforçar os postos comunitários de segurança do Plano Piloto com até 16 homens e dois carros. O policiamento a pé, realizado em dupla, conhecido como Cosme e Damião, também voltará a ser usado para as rondas. Avelar, no entanto, evitou falar em datas. ;Posso dizer que será em breve. Caso algumas de nossas medidas não surtam efeito, poderemos também mudar o regime de escala da PM. Mas isso é somente uma ferramenta e não algo previsto;, explicou.
O governador do DF, Agnelo Queiroz, mencionou ontem necessidades na área de segurança. Segundo ele, o GDF pretende aumentar o efetivo das polícias Civil e Militar e investir em equipamentos, em estrutura e em tecnologia. ;Vai ter mais policiamento ostensivo e monitoramento com câmeras. É isso que está em curso, mas é um avanço progressivo. Temos um plano de contratação e também vamos realizar concursos anuais;, garantiu.
Críticas
Na visão do ex-secretário nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva, o contingente policial do DF, se bem equacionado, atenderia a toda a capital e a parte do Entorno. Com um policial militar para cada 205 habitantes, o especialista explicou que Brasília tem quase três vezes mais homens do que São Paulo e quase o dobro do que Nova York. ;E com salário de policiais de primeiro mundo. A capital federal enfrenta determinados problemas de violência, porque é mal resolvida com o policiamento. A escala de trabalho é folgada;, criticou.
Para o coronel, o ideal seria que policiais trabalhassem oito horas e folgassem as 16 horas seguintes. Ou, então, que cumprissem uma escala de oito horas por dois dias seguidos e folgassem no terceiro. Também falta entendimento entre a PM e a Polícia Civil, que deveriam, na visão do especialista, compartilhar informações, banco de dados e locais de trabalho. ;A escala, em outros lugares do Brasil é de 12 horas por 36. Não há efetivo que chegue. Em Nova York, o trabalho é de 8,3 horas diárias. Brasília tem uma folga bem paga, que não existe em outros lugares. Assim, o policial acaba fazendo bico.;
O presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Brasília, Saulo Santiago, concorda com o especialista. ;Tem que ser um regime que respeite as condições físicas do policial. Ninguém trabalha bem durante 24 horas seguidas. Agora, segundo a Constituição brasileira, a segurança pública é um dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. As quadras que têm prefeitura são mais articuladas. O prefeito se reúne com a comunidade e, depois, com o conselho, que repassa a informação para a polícia. A 711 Sul, por exemplo, não tinha prefeitura;, alertou.
O coronel Alberto Pinto, do Estado Maior da PM, rebateu as críticas quanto à escala. Segundo ele, ;não existe a possibilidade de mudar a escala, determinada por forma de lei, e que atende normas mundialmente conhecidas de horas trabalhadas por horas de descanso.; Ainda assim, admitiu que o número de PMs está defasado no DF. ;Temos 3,2 mil policiais nas ruas atendendo à população diariamente e 11 mil de um total de 14 mil se revezando. Temos uma carência de 5 mil homens, mas nosso regime de escala atende, de forma técnica a proporção entre horas trabalhadas por horas de descanso;, argumentou.