Cidades

Depoimentos apontam para a participação de um terceiro bandido na 711 Sul

Antonio Temóteo
postado em 16/06/2011 07:40
A polícia investiga o envolvimento de um terceiro criminoso no sequestro da 711 Sul. A suspeita é que a dupla de bandidos tenha entrado na residência da família Sartori a serviço de um homem, que teria passado informações privilegiadas. Depoimentos das vítimas indicam que Bruno Leonardo Vieira da Cruz, 28 anos, e Adelino de Souza Porto, 55, podem, por exemplo, ter premeditado a ação. Eles sabiam o nome do proprietário do imóvel, Adécio Sartori; que a casa estava em reforma; e em que horário os filhos de Adécio e Carmen Sartori, 55 anos, saíam para o trabalho. Carmen, as duas filhas, Mariana, 24, e Mírian, 26, além da freira Maria Clara Trindade, 53, acabaram mantidas reféns por mais de seis horas na última terça-feira.

O delegado-chefe da 1; Delegacia de Polícia, na Asa Sul, Watson Warlling, disse que os agentes responsáveis pelas investigações trabalham com a hipótese de crime encomendado (leia quadro). ;De uma forma ou de outra, não houve a confirmação de que naquele local tinha ou teria estado uma quantia de dinheiro que justificasse a reação deles. Se tiveram essa informação, erraram de casa ou realmente tinham uma informação equivocada. Temos 10 dias para concluir esse inquérito e, nesse período, vamos verificar se mais uma pessoa será responsabilizada;, afirmou.

A primeira a ser rendida pelos sequestradores foi a freira Maria Clara. Ela pertence a uma congregação religiosa de Samambaia, mas seguiu até a Paróquia Santo Antônio, na 911 Sul, para pegar documentos referentes a atividades na igreja. Ao sair do templo, decidiu fazer uma visita aos Sartori ; Adécio é ministro da eucaristia no templo da Asa Sul. Tocou a campainha e, quando Carmen abriu o portão para recebê-la, os ladrões apareceram. ;Eles foram nos empurrando para dentro e perguntando: ;Cadê o Adécio? Cadê os R$ 20 mil?;;, contou.

Com uma extensa ficha criminal, Adelino e Bruno gozavam da fragilidade da Justiça para continuarem no mundo do crime. O primeiro, condenado a 28 anos de prisão por roubo qualificado e homicídio cometidos em 2003, era considerado foragido. Já o segundo, entre 2006 e 2007, assaltou um ônibus, roubou uma mulher, corrompeu uma adolescente e, mesmo assim, recebeu o benefício da liberdade condicional após cumprir três dos 14 anos da pena.

Segundo as testemunhas, os sequestradores também falaram ao celular durante o tempo em que permaneceram na casa. A freira revelou que eles tratavam o interlocutor como ;tio; e pareciam receber orientações. ;Alguém estava passando informações. Quando eles viram a simplicidade da casa, começaram a discutir. Perguntaram (ao homem do outro lado da linha) se realmente tinham entrado no lugar certo, porque a família parecia muito humilde para guardar essa quantia que eles esperavam levar;, relatou a freira.

As outras três vítimas confirmaram a versão da freira. Para Adécio Sartori, que não estava em casa na hora da invasão, a única explicação que sustenta a tese de crime por encomenda é a reforma na residência. ;Eu pagava aos pedreiros com dinheiro vivo. Alguém pode ter visto e achado que, devido à obra, eu guardava grandes quantias em casa. Mas isso nunca existiu;, afirmou.

Roubo qualificado
Pelo menos cinco pessoas prestaram depoimento ontem na 1; DP. A empregada doméstica Maria Lúcia Bianquini, 50 anos, e os pedreiros Ademar Bianquini, 51, e José Augusto da Silva, 50, foram ouvidos no fim da manhã. Maria contou aos agentes que estava em um quarto da casa, com a porta fechada, próximo ao portão de entrada, e ouviu o momento em que os dois criminosos anunciaram o roubo e renderam, com um revólver calibre .38, a patroa. Os pedreiros disseram que viram os bandidos abordarem a freira Maria Clara Trindade e a fazerem a família refém. Eles estavam no telhado e não foram notados pela dupla.

No início da tarde, outros dois operários, que não estavam na 711 Sul na hora crime, prestaram esclarecimentos à policia. São eles: Elias da Rocha Filho, 41 anos, e o enteado dele, Carlos Adriano Ribeiro de Sousa, 27, moradores de Samambaia, mesma cidade onde residem Adelino e Bruno. Elias disse que trabalhava há cerca de um mês na reforma da casa e foi indicado para o serviço por um sobrinho de Carmen. ;Não fui trabalhar na terça-feira porque me desentendi com outro pedreiro, que disse que o meu acabamento estava malfeito;, explicou. Das quatro reféns, apenas a freira Maria Clara não foi ouvida formalmente pelo delegado Watson Warlling.

Os criminosos serão indiciados por roubo triplamente qualificado com restrição de liberdade, uso de arma de fogo e por terem envolvido mais de uma vítima. A pena prevista é de 15 anos de prisão.

Medo
O sequestro mais longo do ano parou parte da Asa Sul. Muitos curiosos e vizinhos acompanharam o trabalho dos 80 policiais militares e seis atiradores de elite que cercaram a casa tomada pelos bandidos. A aflição começou às 9h30 e terminou às 16h, quando o último criminoso se entregou. Nos momentos em que permaneceram na casa, Bruno e Adelino usaram cocaína, segundo a polícia. A primeira a ser autorizada por eles a deixar a residência, às 12h53, foi Mirian, grávida de seis semanas.

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