postado em 19/06/2011 08:00
Algumas escolheram a ousadia. Calçaram meia arrastão, deixaram as pernas à mostra vestidas em saias curtas e usaram saltos altos. Outras apareceram cobertas por burcas, para lembrar a opressão feminina. As participantes da Marcha das Vadias, que ocorreu ontem, no Eixo Monumental, abusaram da criatividade para reivindicar a igualdade de gêneros e o fim da violência sexual. Elas divulgaram mensagens contra o machismo e a favor da liberdade. Também havia homens entre os engajados que ajudaram a engrossar o protesto.A caminhada começou por volta das 12h. Saiu do Conjunto Nacional, passou pelo Conic, chegando ao Teatro Nacional. De lá, o grupo voltou para a Rodoviária do Plano Piloto e depois seguiu para a Esplanada dos Ministérios. Alguns cartazes lembraram as duas vítimas de estupros ocorridos no Plano Piloto na semana passada.
Em meio aos, em média, 400 participantes, de acordo com a Polícia Militar, houve quem chamasse atenção. Mulheres deixaram os seios à mostra, fazendo topless (termo em inglês que significa ;sem a parte de cima;).
Uma falsa freira, que chocaria católicos conservadores, estava presente. A estudante Amanda Araújo, 23 anos, internacionalista, moradora do Guará, incorporou a personagem. Da cintura para cima, ela lembrava uma religiosa. Dali para baixo, fez questão de exibir a minissaia. ;Um dos objetivos é dizer: Não sou santa, não sou prostituta. Sou mulher, sou eu. Merecemos respeito. A mulher não pode ser culpada pelo estupro;, afirmou.
Amanda fala em estupro porque a ideia de realizar a passeata surgiu, no Canadá, depois que um policial acusou universitárias de terem sido violentadas por estarem em trajes inadequados e as chamou de ;vagabundas;. O movimento ganhou popularidade no Brasil. Já ocorreu em outras capitais como São Paulo e Recife (PE). Uma das organizadoras, a antropóloga Júlia Zamboni, 28 anos, moradora da Asa Norte, divulgou a iniciativa brasiliense pela internet. Mais de 4 mil pessoas haviam confirmado presença na marcha. A adesão fora do mundo virtual, porém, foi menor que o esperado. Diferentemente do que afirmou a PM, organizadoras do evento estimaram o público em 1,5 mil pessoas.
Polêmica
Ícones religiosos apareceram com frequência. O videografista Gustavi Amantea, 22 anos, se vestiu como Jesus Cristo. De pele branca, cabelos longos e olhos claros, ele aproveitou a semelhança física com o filho da Virgem Maria para se divertir. ;Não deve haver discriminação, porque Jesus amou todo mundo;, aconselhou.
A artista plástica Andrea Gozzo, 40 anos, moradora do Jardim Botânico, escolheu a burca ; tradicional traje muçulmano que cobre todo o corpo, até o rosto ; como traje. Por baixo, vestiu saia justa e blusa transparente. ;A gente não tem que se esconder para ser respeitada. A mulher pode ser o que ela quer e não precisa mudar;, disse Andrea, ao lado do marido e da filha.
Outros participantes, como a antropóloga Natasha Antony, 28 anos, que vive na Asa Norte, foram mais discretos. ;A marcha chama a atenção da sociedade. Chega de a mulher ficar acuada. Ela pode se vestir como quiser;, esbravejou.
Larissa Barreto, 24 anos, internacionalista, moradora de Águas Claras, vestiu saia branca e sandália de salto alto. ;Mesmo sem estarmos vulgares, eles mexem com a gente. Estamos vulneráveis. Sempre saio de casa vestindo jeans e moletom, porque me sinto vulnerável na cidade onde moro. Temos que protestar contra qualquer forma de violência;, afirmou.
Mães levaram as filhas para a Marcha das Vadias. Jaqueline Barbosa, 39 anos, moradora do Gama, estava acompanhada da filha Lívia, 17 anos. ;Sempre fui feminista, mas nunca militante. Sou mulher e tenho duas filhas. Isso já é um ótimo motivo para reivindicar os nossos direitos;, explicou Jaqueline. ;Decidi vir depois que um colega de sala agrediu uma menina porque ela era lésbica. Homens fazem isso porque se acham superiores;, justificou a adolescente.
Homens compareceram em menor quantidade, mas deram força ao movimento. O estudante Rodrigo Oliveira, 22 anos, morador da Asa Norte, participou em nome da mãe e de amigas. ;Precisamos de igualdade e respeito. O corpo e a atitude são da mulher.;
Sinônimo
Vadia, no dicionário, significa: Mulher que, sem viver da prostituição, leva vida devassa ou amoral. No masculino, vadio pode ser ;aquele que não tem ocupação ou que não faz nada;, não gosta de trabalhar. O mesmo que ocioso, tunante e malandro.