Cidades

Plano Piloto tem pelo menos 11 pontos com altos índices de criminalidade

postado em 19/06/2011 08:00
A reportagem circulou pelo Setor Comercial Norte na última semana e constatou a falta de PMs na área. Nos estacionamentos, muitos flanelinhas trabalham sem identificaçãoLevantamento dos comandos dos Batalhões da Polícia Militar das asas Sul e Norte aponta que pelo menos 11 pontos no Plano Piloto concentram altos índices de criminalidade. Considerados tranquilos em outras épocas, os dois bairros enfrentam hoje episódios de violência quase que diariamente. Somente na última semana, quatro mulheres viraram reféns na 711 Sul, uma jovem foi estuprada na 208 Norte e outra sequestrada na 516 Sul e violentada em Sobradinho. Sem contar os inúmeros delitos bárbaros registrados nos últimos 12 meses (veja quadro na página 31).

Nos últimos dias, duas equipes do Correio percorreram parte de Brasília ; entre a 710 e a 714 Norte, as áreas adjacentes à Universidade de Brasília (UnB), os setores comerciais Norte e Sul, além das quadras 403, 109 e 715 Sul ; para ouvir relatos e constatar a denúncia dos moradores de cada localidade. Em todas, ficou evidente a falta de policiamento ostensivo. Esses pontos são considerados críticos pela Polícia Militar.

Diante de tantos casos graves e das críticas da população, o Governo do Distrito Federal (GDF) reagiu na semana com o anúncio de aumento no número de policiais militares na capital federal. O secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar, por exemplo, garantiu até setembro o emprego de mais 640 PMs, número ainda distante do ideal, tendo em vista que a corporação carece de pelo menos 4 mil militares. A medida também não acalmou os moradores do Plano Piloto. O deficit de profissionais nas ruas, admitido pelo próprio governo, provoca medo e insegurança na população, que convive com assaltos, tráfico de drogas e estupros no centro da capital.

A tropa conta hoje com 14 mil homens e mulheres, mas apenas 2,7 mil estão todos os dias escalados para o combate à criminalidade. Mas, para o presidente da Câmara Legislativa, Patrício (PT), o número não parece um problema. Expulso da PM em 2000 por liderar uma greve inconstitucional da categoria, o deputado, que atendia pela alcunha de Cabo Patrício, propõe aumentar o quadro de oficiais trabalhando em funções burocráticas dentro dos quartéis.

Hoje, são 353 longe das ruas. Se passar pelo crivo dos deputados federais, subirá para 850, o que representa aumento de 140%. Se a ideia vigorar, consequentemente, menos soldados e cabos estarão nas ruas, uma vez que o acréscimo do quadro de tenentes, capitães, majores e coronéis em funções que não sejam de combate depende da promoção dos soldados e cabos.

Asa Norte
Enquanto o tema era discutido na Câmara por Patrício, Aylton Gomes (PR) e dezenas de PMs e bombeiros, no Setor Comercial Norte ; exatamente no mesmo horário da reunião da última quarta-feira entre militares e políticos ; nenhum policial foi visto circulando a pé ou de carro. Nos estacionamentos, é constante a presença de flanelinhas entre as quadras 1 e 2, mas nenhum deles usava o colete do GDF, adereço que comprova o cadastro para desempenhar a função. Também havia moradores de rua próximo ao Eixo W.

De acordo com taxistas que trabalham no local, policiais militares não são vistos na região. Para eles, essa situação facilita a ocorrência de crimes. ;Os governantes dizem na televisão que há policiais 24 horas nas ruas, mas não é verdade. Por aqui, eles não passam e à noite fica ainda mais perigoso;, denunciou um motorista, que preferiu não se identificar.

Quem estuda na UnB também reclama do perigo. A polícia classificou as áreas próximas à instituição como inseguras. As colegas Carolina Cardoso de Souza, 22 anos, e Ana Cândida Cantarelli, 24, estudantes de pós-graduação em psicologia convivem com o medo. Elas precisam passar por uma área isolada e de pouca circulação de pessoas entre as avenidas L3 e L2, onde pegam o ônibus. ;A gente só passa por aqui durante o dia, nos horários de maior movimento e na companhia uma da outra. Quando não tem ninguém, a gente acelera o passo;, contou Carolina.

A estudante do 2; semestre de história Lorena Cardoso, 18 anos, moradora do Guará, tem a mesma sensação. ;Costumo pegar o ônibus dentro da UnB e, por isso, a parada é mais segura e tem sempre movimento;, disse.

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