Marco Prates
postado em 23/06/2011 07:42
Ontem, quando o naufrágio do Imagination, no Lago Paranoá, completou um mês, o dono da embarcação conseguiu levá-la, finalmente, até a margem. Bombeiros e a Marinha haviam tentado durante uma semana, mas sem sucesso. Ontem, uma empresa contratada pelo proprietário do barco, com ajuda de caminhões e cabos de aço, colocou o Imagination na posição correta e o puxou para a beira da água. Antes, ele estava de cabeça para baixo, o que dificultava a remoção.A embarcação, que naufragou em 22 de maio com pelo menos 110 pessoas à bordo, deve ser retirada totalmente do lago nos próximos dias. O construtor de barcos Juscelino Juvêncio, comandante da operação, informou que os flutuantes (estruturas localizadas abaixo do casco) estavam em perfeito estado. Em lembrança às nove vítimas da tragédia, sobreviventes refizeram ontem o percurso da noite da festa, dentro do Lago Paranoá. Venceram o medo de estar em uma lancha e deixaram rosas brancas e vermelhas pelo caminho. O restaurador de barcos José Carlos Souza Santos, 35 anos, que ajudou a salvar vítimas no dia do acidente, emprestou uma embarcação para que o ato simbólico fosse realizado.
A dona do bufê que organizou a reunião entre amigos, Vanda Cristina Pereira, 25 anos, chorou ao lembrar da irmã, Flávia Daniela Pereira, 22, uma das vítimas que não resistiram ao acidente. ;Ainda é muito difícil olhar para esse barco. Lembro da gente chegando, ele todo iluminado, todos rindo e se preparando para a diversão. Mas a vida da minha irmã ficou aí;, disse Vanda.
Os sobreviventes rezaram, enquanto espalhavam pétalas sobre a água. Em seguida, relembraram a tragédia. ;Eu olhava para os lados e só via escuridão. Umas luzes lá longe;, relatou Aguinaldo Dias da Silva, 42 anos, marido de Vanda. Além de manter viva a memória de quem morreu no acidente, eles protestaram. ;Queremos respostas. Quem trabalhava no barco em outros eventos, como eu, sabe que havia algo muito errado. A luz vivia faltando. A gente questionava, mas diziam que estava tudo bem. Agora sabemos que era mentira. Será que nada vai mudar?;, reclamou Maria José Batista Soares, 24, auxiliar de cozinha, presente na festa de 22 de maio.
Marina provisória
O pedido de Maria José pode estar próximo de começar a ter uma resposta. A primeira mudança no Lago Paranoá depois da tragédia do Imagination está próxima: o secretário de Turismo, Luis Otávio Neves, promete que será montada uma marina pública em Brasília, demanda antiga dos empresários de barcos. Neves vai se reunir na próxima semana com o comandante Rogério Leite, chefe da Delegacia Fluvial de Brasília, e com o diretor náutico da Associação Brasiliense de Turismo Receptivo (Abare), Edmilson Figueiredo, para decidir que local da capital pode abrigar a marina, que será provisória. A definitiva será instalada na Concha Acústica, com previsão de inauguração em 2013.
A marina deve facilitar o trabalho de fiscalização da Marinha, já que a expectativa é de que embarques e desembarques se concentrem no novo equipamento. Além disso, segundo o secretário de Turismo, é preciso acabar com o estigma que caiu sobre o setor depois do naufrágio, fazendo com que os empresários amarguem prejuízos. ;É um segmento que não pode acabar. Os barcos são seguros. Eles têm todo o equipamento de segurança e geram emprego. Um passeio no lago significa mais um dia de um turista em Brasília;, afirmou Neves.
No local provisório, é necessária a construção de um píer. A única exigência é que tenha fácil acesso terrestre por ônibus. Entre as alternativas, está a área de restaurantes ao lado da Ponte JK. Já a marina definitiva, na Concha Acústica, faz parte do Polo 3 do Projeto Orla.
Investigações
As investigações sobre o naufrágio do Imagination prosseguem na Polícia Civil. Segundo o delegado responsável pelo caso, Adval Cardoso, da 10; DP (Lago Sul), o inquérito, que indiciará de duas a três pessoas, será enviado à Justiça antes do prazo de 60 dias, que expiraria em 22 de julho. Falta apenas o laudo do Instituto de Criminalística (IC), que vai ajudar a determinar a provável causa do naufrágio. O documento não tem data para ser entregue, mas o inquérito deve ser concluído uma semana após o laudo do IC.