postado em 24/06/2011 08:29
Panfletos e cartazes de uma campanha contra esmola colocaram o Sudoeste em polêmica. Moradores e comerciantes estão divididos sobre a ideia e também sobre a eficácia de evitar dar dinheiro aos moradores de rua. Em meados de junho, o Conselho Comunitário de Segurança do Sudoeste (CCSS) lançou a proposta. Muitos dos que vivem em um dos bairros mais nobres do Distrito Federal têm a impressão de que o grupo de pedintes e moradores presentes na região aumentou significativamente de um ano para cá e com eles veio a dilatação da criminalidade e do tráfico de drogas. Por outro lado, há quem acredite se tratar de uma tentativa de higienização social.;Antigamente, os pedintes eram pessoas que estavam em situação social muito ruim ou sem capacidade para trabalhar. Hoje, o que vemos é que muitos que estão aí vêm ganhar dinheiro sem esforço e vender drogas;, acusa o presidente do CCSS, Élber Barbosa. Segundo ele, já houve batidas policiais em que flanelinhas e mendigos foram encontrados com até R$ 700, conseguidos em apenas um dia. Barbosa acredita que os indivíduos permanecem nas quadras comerciais e residenciais porque clientes e moradores continuam a dar dinheiro, por vontade própria ou por medo. ;Se tornou uma indústria. Ganhando tanto dinheiro, livre de imposto, quem vai trabalhar 10 horas, como o meu porteiro, para ganhar R$ 1 mil?;
Barbosa nega se tratar de uma limpeza social. ;Algumas quadras estão se tornando cracolândias. As pessoas têm que saber que, por trás da boa ação da esmola, existe um mundo paralelo. Sou a favor da contribuição social desde que dada para as instituições que fazem um trabalho sério;, afirma. Muitos comerciantes, como o pioneiro Aldevar Machado, 51 anos, têm dúvidas sobre o sucesso da campanha. Dono de um dos restaurantes mais antigos do Sudoeste, ele teme retaliações e por isso não afixou nenhum cartaz nas janelas do estabelecimento. ;Ninguém vai nos dar proteção. Já cansei de chamar a polícia para denunciar venda de drogas aqui e nada muda. Fui ameaçado e extorquido depois;, reclama. ;As pessoas dão dinheiro porque têm medo de agressões ou de ter um bem danificado. É um problema social que se transformou em problema de segurança pública;, afirma Vagner Cardoso, 43, morador do Sudoeste há sete anos.
A advogada Sarah Galhano, 37, se revolta com a presença de flanelinhas e pedintes nas ruas do Sudoeste, onde mora há 15 anos. Segundo ela, os hábitos dos moradores tiveram de mudar em decorrência da insegurança, que para ela cresceu muito de um ano para cá. ;Só compro pão na padaria que mais gosto quando há policiais por perto;, diz. Ela conta que a comunidade da quadra em que é prefeita estuda a contratação de seguranças. ;Não é para impedir que os mendigos entrem, mas para proteger os moradores..;
Para a dona de casa Sandra Ramos Tavares, 43, a situação é um pouco diferente. ;Pouco adianta tirar das ruas sem que exista um trabalho sério de assistência social em sequência. Não deveria haver mendigos em lugar nenhum porque deveria haver programas sociais e políticas que impedissem essa situação;, pondera.
Educação, oportunidade e dignidade estão no seio da questão, segundo o professor Ivan Boccanera, 55. Ele e a mulher, também professora, Dorlene Costa Boccanera , 55, vivem há 14 anos no Sudoeste. ;Os mendigos são a ponta do iceberg. Cabe à sociedade e ao Estado criar estrutura para dar assistência, educação e trabalho a essas pessoas. O que não pode é a esmola ser a solução permanente. Só tirar da rua também não resolve. A educação tem que vir para a rua;, afirma Ivan. Os dois acreditam que a campanha é mais uma demonstração de elitismo do Sudoeste. ;Já fizeram campanha para não ter posto de saúde e escola pública aqui, porque atrairia pessoas mais pobres;, lembram.
População de rua
Segundo dados preliminares de pesquisa realizada pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, o DF tem 2,5 mil moradores de rua. O estudo constatou que os lugares onde há mais pedintes são a Rodoviária do Plano Piloto, as superquadras 306/307 Norte e lugares próximos a casas de abrigo no Gama. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) estima que só no Plano Piloto vivem pelo menos 903 mendigos, a maior parte na
área central.