Cidades

Estudo da UnB diz que mulher cuida da aparência para ela, não para ele

postado em 27/06/2011 08:00

Virgínia se considera Estudo conduzido pela psicóloga Amalia Pérez e apresentado como tese de doutorado na Universidade de Brasília (UnB) derruba o senso comum de que os homens são desligados quanto aos detalhes do visual das mulheres, como cabelos escovados ou sobrancelhas delineadas, e que elas se arrumam umas para as outras. Por meio de entrevistas com 25 mulheres do Distrito Federal, o levantamento concluiu que o principal motivo que leva a mulher a não descuidar da aparência é a satisfação pessoal. As respostas das participantes também apontaram que os padrões de beleza em voga em filmes, revistas e novelas são um forte referencial para as frequentadoras de salões de beleza, centros de estética e afins.

Para realizar a pesquisa, Amalia Pérez dividiu as entrevistadas segundo três universos. Um foi composto por 10 mulheres vendedoras de serviços de beleza. Entre elas, o bem-estar como principal razão para se produzir foi mencionado em 38,6% das conversas. No segundo grupo, formado por oito mulheres consideradas vaidosas, esse motivo foi apontado com 33,3% de frequência. O terceiro grupo, integrado por sete mulheres catalogadas como não vaidosas, foi o único no qual a satisfação pessoal não foi indicada como o principal motivo para gastar tempo se arrumando. A resposta mais repetida, presente em 42,5% do conteúdo dos diálogos, foi que a beleza é importante para a sociedade. Para elas, o bem-estar é a segunda razão para cuidar da beleza, mencionada 22,5% das vezes.

A pesquisadora esclarece que os critérios utilizados para separar as mulheres entre vaidosas e não vaidosas foram dois: a votação dos colaboradores que a ajudaram a realizar as entrevistas e a autoavaliação das questionadas. De acordo com Amalia, o discurso de cada perfil de mulher é diferente. ;As não vaidosas dizem que só se arrumam para trabalhar e para sair com os amigos. Ou seja, como se isso fosse uma obrigação;, explica.

Para ela, o mais interessante apontado pelo estudo é o fato de o cuidado com a beleza ter se revelado, na maior parte das vezes, muito mais pessoal do que social. ;Muito mais do que querer conquistar um marido, um emprego, a mulher faz isso porque individualmente se sente bem. Isso é uma coisa interessante, pois o senso comum diz que a gente se cuida para os outros;, destaca.


A pesquisadora também analisou se a mídia ; filmes, revistas e novelas ; é um fator de influência no tipo de visual que as mulheres adotam. A tentativa de reproduzir padrões vistos em filmes, revistas e novelas foi mencionada com frequência alta entre as vaidosas e não vaidosas. No primeiro grupo, isso foi citado em 40,7% do conteúdo das entrevistas como um fator de impacto. No segundo, em 34,6%. Entre as profissionais de estética, houve uma proporção menor de citações, da ordem de 14,5%, sobre o impacto da mídia.

Os meios usados para atingir a beleza desejada mais mencionados na pesquisa foram o uso de cosméticos. O uso do tradicional batom, lápis de olho, rímel, base, sombra, pó compacto ou blush prevalece como o mais citado nos três grupos de mulheres analisadas, com 58,3% de frequência para as vaidosas, 50% para as não vaidosas e 30,9% para as profissionais.

Revistas de moda

Ao mesmo tempo, os cosméticos são os produtos mais recomendados em revistas de moda e beleza analisadas por Amalia Pérez em outra etapa do estudo. Sugestões de uso dos produtos representam 63,8% do conteúdo de 30 revistas nacionais e estrangeiras avaliadas pela pesquisadora. Os periódicos tratam a beleza como um fim em si mesmo. Um total de 70% do conteúdo apresenta esse direcionamento. Os outros 30% tratam a beleza como um meio para atingir outro fim, em geral um emprego, um namorado, uma posição social.

Logo atrás dos cosméticos, o segundo método mais recomendado às mulheres pelas revistas segundo a análise de Amalia são os tratamentos estéticos não invasivos, como limpeza de pele, drenagem linfática e afins. Em último lugar ficam os tratamentos invasivos, com um índice de 6% de frequência. A cirurgia plástica é um deles.

O contato com revistas de moda mostrou-se um método importante para a aquisição de conhecimentos e orientação acerca da beleza. Um recorte nacional do estudo da psicóloga Amalia Pérez apontou que as mulheres leem pelo menos uma publicação do gênero por mês. A informação foi levantada a partir da aplicação de um questionário eletrônico a 953 representantes do sexo feminino em várias partes do país. O mesmo questionário revelou que a média de visita das mulheres ao salão de beleza é a cada 15 dias.

Para a designer Daniele Weyne, 39 anos, estar com a aparência em dia é fundamental, não importando o lugar onde ela está ou as pessoas que vão vê-la. ;Sempre fui vaidosa, independente de estar no meio do mato. Se não estiver com as unhas feitas, parece que não tomei banho. Mesmo que ninguém repare, me sinto mal;, garante ela, que vai ao salão de beleza uma vez por semana para arrumar pés, mãos e cabelo. A única coisa que Daniele faz em casa é a maquiagem e, mesmo assim, somente a do dia a dia. ;Se tiver de ir a uma festa ou evento, corro para o salão;, diz.

A professora Virgínia Ramos de Oliveira, 44 anos, também cuida das unhas no salão de beleza uma vez por semana, e do cabelo, a cada 15 dias. No cotidiano, escova as madeixas e se maquia em casa. ;Me considero um pouco vaidosa. Sempre compro cosméticos. Gasto uma quantia razoável com isso;, afirma.

A cabeleireira e maquiadora Eliziane Maria de Sousa, uma das proprietárias do salão frequentado por Virgínia, que fica no Sudoeste, conta que as clientes pedem bastante os cortes e tons de coloração usados por atrizes brasileiras e estrangeiras. Atualmente, as campeãs absolutas de popularidade são as atrizes globais Paola Oliveira e Camila Pitanga, ambas no ar na novela das 21h. ;As duas estão usando cabelos mais curtos e desfiados, que são tendência. Além disso, utilizam tons mais escuros, que são a aposta para este inverno;, comenta a profissional.

Preocupação pré-histórica

A palavra cosmético vem do grego kosmetikós, que quer dizer %u201Co que serve para ornamentar%u201D. A preocupação com a aparência existe desde tempos pré-históricos, quando rostos pintados e corpos tatuados serviam para afugentar maus espíritos e agradar os deuses. Pigmentos vermelhos eram aplicados nos lábios em 5.000 antes de Cristo. Aproximadamente em 150 antes de Cristo, o físico Galeno criou o primeiro creme facial do mundo, adicionando água à cera de abelha e óleo de oliva. Durante a Idade Média, o batom nascia com o açafrão: as pessoas utilizavam essa plantinha de origem europeia para colorir os lábios. Na mesma época, fuligem era utilizada para escurecer o cílio. Ironicamente, a pouca preocupação com higiene pessoal foi contribuiu para o crescimento do uso dos perfumes. Somente no século 20, com os avanços da indústria química fina, os cosméticos se tornaram produtos de uso geral.



"Muito mais do que querer conquistar um marido, um emprego, a mulher faz isso porque individualmente se sente bem. Isso
é uma coisa interessante, pois o senso comum diz que a gente se cuida para os outros;

Amalia Pérez,
psicóloga e autora da pesquisa para a tese de doutorado na UnB

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