Cidades

Campanha pede respeito às vagas especiais para portadores de deficiência

Mande o seu flagrante de estacionamento indevido em vagas para deficientes para o e-mail iconescb@gmail.com

postado em 28/06/2011 09:00
;É só um minutinho;, diz o motorista de um Gol vermelho ao estacionar pela metade o carro em uma vaga para portadores de necessidades especiais na comercial da 302 Sul, a Rua das Farmácias. O carro não tem a permissão necessária para utilizar o espaço reservado. O motorista solta o bordão, um dos mais comuns entre os infratores, quando abordado pelo Correio. Curiosamente, o homem bloqueou a vaga para ir a uma loja especializada em cadeiras de rodas entregar um embrulho. Foi rápido, realmente. Mas não invalida a infração e o desrespeito à norma de trânsito.

É esse tipo de comportamento que a campanha assinada pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Coddede) pretende eliminar das ruas. Com o slogan Essa vaga não é sua nem um minuto, a entidade usa o mote preferido dos infratores para lembrar da importância de respeitar a exclusividade do espaço destinado a quem tem problemas de mobilidade. Além disso, no blog da campanha, há espaço para a publicação de flagrantes feitos no país (www.deficienteciente.com.br). Um dos vídeos disponíveis inverte o jogo do que acontece todos os dias nas ruas: há uma cadeira de rodas parada em uma vaga comum e um bilhete explicando que o dono volta ;em 1 minutinho;. Os motoristas, claro, não reagem bem.

A mobilização conta com o apoio do Departamento do Trânsito (Detran). O próprio órgão de trânsito foi alvo de críticas recentemente devido a uma foto divulgada na rede social Facebook de um dos seus carros parado irregularmente em uma vaga destinada a motoristas com mais de 60 anos. O Detran afirmou que o servidor assumiu a irregularidade e acabou multado.

Polêmica
Não só o Detran foi alvo de flagrantes. A internet se tornou importante portal de denúncias de carros oficiais ocupando vagas especiais. Um veículo da Polícia Civil do DF foi fotografado no espaço para deficientes em uma quadra no Plano Piloto. No Deck Norte, no Lago Norte, a transgressão de um servidor do Ministério Público Federal também caiu na rede. Apesar de as denúncias causarem polêmica, os órgãos encarregados de fiscalizar não podem emitir multas com base em fotos. É preciso que um agente de trânsito ou um policial militar presencie a infração.

A juíza aposentada Maria Noilda Magalhães Ribeiro, 82 anos, é cadeirante há um ano. Não tem achado fácil lidar com a nova condição, imposta por problemas ligados à idade, como complicações de algumas quedas que sofreu. ;É uma dificuldade ser cadeirante. Eu tenho um medo danado de acidente. Quando a vaga está vazia, a rampa é do outro lado. A gente dá sinal, pede para o carro parar, mas eles não param. Ou então outro carro para muito perto, não respeita a divisão da vaga. Aí, eu tenho que saltar e outra pessoa me pegar, porque a cadeira não cabe;, relata.

Flagrantes
O desrespeito ocorre também em feriados e aos fins de semana, quando geralmente há mais vagas disponíveis. Na 104 Sul, por exemplo, em meia hora, a reportagem flagrou quatro carros estacionando na vaga exclusiva para deficientes. Dois deles saíram logo, depois que um policial militar chamou a atenção dos motoristas. Um deles ainda reclamou, dizendo que ficaria ali ;só um minutinho;. Os outros dois não admitiram a infração.

Na 102 Sul, Anísio Gomes Figueira, 57 anos, parou na vaga para deficientes e colocou uma cadeira de rodas no porta-malas. Ele não tinha a credencial e explicou que a mulher dele quebrou o fêmur e terá de usar a cadeira por alguns meses. Ele disse que não sabia que era preciso a autorização especial para estacionar ali. ;Parei porque a minha mulher está usando a cadeira de rodas. Se soubesse que precisa de permissão, não teria usado;, alegou. Apesar da necessidade do casal, a legislação não emite permissões provisórias (leia O que diz a lei).

A cena se repetiu na Quadra 4 do Setor Comercial Sul. Um homem identificado apenas como Marques parou o veículo em uma das três vagas especiais sem a autorização expedida pelo Detran. Ele justificou o desrespeito ao afirmar que esperava pelo fim da consulta médica do filho, que é cadeirante. Apesar de poder esperar em outro lugar e manobrar o carro para não trancar outros veículos, ele preferiu ficar por ali. Ao ser fotografado e questionado sobre a irregularidade que está cometendo, o motorista se defendeu assim: ;Eu saio se alguém precisar;. A campanha do Coddede teve início em março.

Infrações
No ano passado, o Detran e a Polícia Militar emitiram cerca de 90 mil multas por estacionamento irregular. Não se sabe, porém, quantas delas são em razão de ocupar irregularmente vagas especiais.

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