postado em 30/06/2011 08:00
A dona de casa Cláudia Calais, 33 anos, jamais imaginou que os dois filhos teriam acesso a um colégio particular. Fanuel Calais, 10, e a irmã, Lorruana, 12, cresceram no Varjão e, desde pequenos, estudaram em escolas públicas da cidade, onde a renda média familiar gira em torno de R$ 730. ;Nunca que eu conseguiria pagar essas mensalidades caras;, admite a mãe. No início do ano, porém, eles foram matriculados em um centro de ensino privado da Asa Sul por meio de um projeto de uma entidade da região.Livros, materiais, uniformes, tudo de graça. Da mesma forma que Fanuel e Lorruana, 29 crianças do Varjão e de outras regiões do DF agarraram a oportunidade de estudar em lugares que não pensavam que um dia colocariam os pés. ;Tem quadra, ginásio, auditório, mais matérias, mais provas;, lista Samara Teixeira, 13 anos. ;O sistema é diferente. Os professores falam em vestibular, aplicam simulados das provas de universidade;, endossa a menina que, ainda no 8; ano do ensino fundamental, pensa em cursar uma faculdade. Resta só fazer a difícil escolha: arquitetura ou design.
O sonho dos jovens se tornou realidade com a ajuda do projeto Abrindo Portas para o Aluno, da Associação Brasilidade. Uma das responsáveis pelo programa, Raquel Sousa conta que a iniciativa surgiu da vontade de fazer o bem. ;A maior parte das mães chorou de felicidade. Elas não tiveram a chance, mas os filhos, sim;, emociona-se. A ideia de contribuir para um futuro melhor partiu dela, do marido, Fábio Sousa, e da cunhada, Ana Ângela Sousa. ;O foco não são só os alunos. É um trabalho de valores, de formação de caráter, que envolve toda a família;, acrescenta Raquel. ;As pessoas não podem ficar no assistencialismo, recebendo cestas básicas e coisas do tipo. A educação é para sempre. Não tem como tirar, fica para a vida.;
É o primeiro ano de funcionamento do projeto. Os 31 garotos e garotas de 10 a 16 anos de idade ganharam bolsas e foram distribuídos em quatro colégios particulares nas asas Sul e Norte e no Lago Norte. Pela manhã, os jovens frequentam as escolas em que foram matriculados e, à tarde, desenvolvem atividades de reforço e de aprendizagem ministradas por voluntários do projeto. Os encontros ocorrem em uma sala cedida pela Creche Comunitária Tia Angelina, no Varjão. Com tanta coisa para fazer, não sobra tempo para se envolver com as coisas erradas que o mundo fora das classes oferece.
O esforço para fazer a ideia sair do papel começou no ano passado. Em parceria com um projeto social desenvolvido em Joinville (SC), Raquel, Fábio e Ana correram atrás de escolas que topassem receber as crianças gratuitamente. Em contrapartida, comprometeram-se a promover o acompanhamento dos bolsistas no turno inverso ao das aulas. Além disso, o grupo buscou recursos financeiros para arcar com os materiais e os uniformes. O custo ficou em R$ 50 mil, pagos graças a doações e a descontos de editoras.
Desafios
A chegada a um mundo novo teve dificuldades. Sair de um ambiente escolar em que os colegas vivem a mesma realidade e entrar em um colégio frequentado por meninos e meninas diferentes poderia ser um choque para os moradores do Varjão beneficiados pelo projeto. Raquel conta que, antes do primeiro dia de aula, trabalhou a questão das diferenças sociais com os garotos. ;Foi uma das preocupações na hora de começar o ano. Mas, de uniforme, todo mundo é igual;, afirma Raquel.
A mudança ainda implicava em dar conta de um conteúdo mais puxado e de mais cobrança nas disciplinas. Os alunos encararam com facilidade o desafio. A mãe de Fanuel e Lorruana, por exemplo, conversou com os dois e explicou que o novo colégio exigiria dedicação adicional. ;Eles concordaram. Queriam muito ganhar a bolsa. Estão estudando para valer, tendo ótimos resultados e enturmaram-se com os colegas melhor do que nas escolas do Varjão;, comemora Cláudia.
Os boletins dos 31 jovens beneficiados pelo projeto esbanjam notas boas. ;O trabalho é para que eles sejam os melhores da turma e eles têm potencial;, afirma Raquel. Os idealizadores pretendem estender o projeto a mais gente.
Segundo ela, nessa primeira etapa da iniciativa, 10 bolsas deixaram de ser preenchidas, porque os recursos de doações não foram suficientes para arcar com o material. ;É uma pena. A intenção é que cada vez mais meninos tenham a oportunidade;, planeja Raquel.
; PELO BEM
Qualquer ajuda é aceita. Lápis, caneta, livros, todos os tipos de materiais escolares. Voluntários para contar histórias e desenvolver outras atividades com as crianças e adolescentes também são bem-vindos. Informações: 3468-2730, 8104-3228 e .